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Os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders entraram na disputa das eleições primárias em Nova York se engalfinhando. Até então, a peleja entre os dois, quando comparada com a briga de foice dos republicanos, parecia um chá da tarde entre velhinhas amigas. O clima nervoso da cidade parece ter afetado os humores dos concorrentes. Primeiro com um mal-entendido sobre a capacidade de cada um em assumir a Presidência. Uma disputa ridícula na qual o partido procurou colocar panos quentes. Mas o mal estava feito.

Hillary acusa seu concorrente de ser manso no trato com armas (o senador por Vermont votou contra projeto de lei que permitiria aos familiares de vítimas de armas de fogo processar os fabricantes de armamentos). Bernie diz que a rival fatura alto com as doações de grandes empresas financeiras e por isso seria comprometida.

Correu pela internet o termo “Democrat corporate whore” (democrata puta de corporações), disparado contra Clinton. Foi mais um extremismo dos apoiadores de Sanders, logo rejeitado pelo candidato, mas que não vai parar nisso.

Os militantes pró-Bernie mostraram-se cada vez mais radicais. Passaram a ser vistos como o Tea Party da esquerda. Ameaçam os superdelegados democratas que vão apoiar Hillary na convenção (eles votam em quem quiser. Hillary tem 469 deles a seu lado e Bernie conta com apenas 31). São 27 mil feéricos “bernies” que lotaram a famosa praça Washington Square Park, em 13 de abril. Acreditavam que sua presença confirmaria uma possível vitória do candidato nas primárias de 19 de abril. Não têm noção da história. Em 2008, Barak Obama chamou 23 mil pessoas àquela mesma praça, mas perdeu a prévia nova-iorquina para Hillary. As pesquisas indicam que a ex-secretária de Estado vai faturar novamente.

Eleita duas vezes senadora por Nova York, Hillary sabe que o ouro do Estado está enterrado nos grotões do interior. Ela conhece bem a caipirada. E na Big Apple negros e latinos, seus correligionários mais fiéis, não deixaram a peteca cair. Isso, claro, sem contar com os judeus, força irresistível na metrópole.

Fotomontagem
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Bernie, embora judeu de nascimento, tem falado muito sobre injustiças cometidas contra palestinos, além de não ter ido ao simpósio com candidatos promovido por organizações judaicas. “O convite do papa, ele não recusou”, disse a este colunista uma velha judia do Bronx. Bernie foi ao Vaticano, em 15 de abril, para uma conferência sobre “Economia moral” proposta por Sua Santidade. Assim, para os israelitas, Sanders não é muito kosher.

Engalfinhando-se, os dois democratas rolaram pelo Brooklyn -berço de Bernie. Cada um tentando mostrar que era mais nova-iorquino que o outro.

O diário The New York Times até estabeleceu um placar conferindo fatias de pizza  o chamado slice-  para medir a “nova-iorquice” dos concorrentes. Bernie -injustamente, ao ver deste colunista- ganhou disparado com três pedaços de pizza, contra dois de Hillary.

No Brooklyn, de onde saiu aos 18 anos, Bernie divide opiniões. Os jovens que chegaram há pouco com a gentrificação  os hipster- lhe conferem a coroa de rei da zona. Mas quando ele fez um comício de fronte à sua antiga residência, o prédio número 1.525, na 26th Street, em Midwood, os atuais moradores daquele endereço torceram o nariz para o antigo vizinho. Repórteres subiram e desceram as escadas do local incomodando os moradores na busca de possíveis antigos conhecidos.

O forte aroma do goulash sendo preparado para o almoço, prenunciava fartura de rejeições. Quem olhasse na portaria a lista de nomes de moradores poderia pensar que estava na velha União Soviética: só tinha russos e ucranianos. “Eu não vou votar em socialista. Daqui a pouco estaremos todos na fila do pão, da batata, da lenha”, disse a moscovita senhora Lazareva. “Eu vivi o socialismo. Não quero mais”, completou.

Faz tanto tempo que Bernie saiu do Brooklyn, que ao ser perguntado sobre como se faz para pegar o metro, o senador de Vermont arremessou: “ É fácil: você compra o token, coloca na catraca e entra”. O metrô parou de usar as fichas de metal em maio de 2003, substituindo-a pelo cartão magnético. Mas o subway é complicado mesmo: Hillary Clinton tentou mostrar sua desenvoltura no tráfico subterrâneo e deu de cara na porta, ao pé da letra: a catraca rejeitou por cinco vezes seu cartão magnético. Acontece.

O importante para Clinton é que as pesquisas lhe davam vantagens de dois dígitos nas urnas locais.


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