Mais da metade dos paulistanos ouvidos pelo Ibope responderam em recente pesquisa que gostariam de deixar a cidade, se pudessem. A pesquisa foi feita e divulgada antes das últimas chuvas em São Paulo, que já mataram 59 pessoas, mais do que a tragédia de Angra dos Reis, no começo do ano, e deixaram a cidade em estado de colapso permanente.
Na quinta-feira de manhã, tentei sair de São Paulo logo cedo, junto com Hélio Campos Mello, meu colega fotógrafo e chefe da redação da revista Brasileiros. Nosso destino era Rio Claro, no sul fluminense, perto de Barra Mansa, para fazer uma reportagem sobre um heróico defensor da natureza e dos índios, o velho Nikolaus, dono do Sítio Fim da Picada.
Mas como iríamos sair de São Paulo, com as marginais inundadadas pelos nossos principais rios, que transbordaram de madrugada? Embora ele estivesse no comando de uma velha, porém possante, Land Rover, foi mais difícil encontrar um caminho de fuga do que enfrentar os obstáculos do rallye Paris-Dacar.
Tudo fechado, tudo parado, um inferno no trânsito, que o noticiário das rádios só conseguia tornar ainda mais complicado. Algo parecido o Hélio me disse que só tinha visto durante a cobertura da última guerra no Iraque.
Levamos quase duas horas para achar o acesso à rodovia Ayrton Senna, às margens do rio Tietê, que estava pela tampa, tomado pelo barro e pelo lixo. Daí para a frente, deu tudo certo na viagem e, já na manhã desta sexta-feira, pegamos o caminho de volta. O tempo havia melhorado, não chovia mais quando chegamos a São Paulo.
Em pouco mais de três horas, estávamos entrando novamente na marginal do Tietê, quando tudo parou, embora as águas do rio tivessem baixado e já não houvesse alagamentos. Pelo rádio, ficamos sabendo que São Paulo estava com mais de 120 quilômetros de congestionamentos, às 11 da manhã. Alternativas não havia. O jeito era se armar de paciência e tentar entender o que aconteceu com esta cidade no começo de 2010.
Será que ainda tem solução? A cada dia entram em circulação mais de 1.000 novos veículos São Paulo. Assim não há obra que chegue para melhorar o trânsito, nem evitar as inundações quase diárias, que afligem os moradores de dezenas de bairros, em todas as regiões da cidade.
Tudo bem que neste janeiro tenha chovido como nunca antes, mas não há o menor sinal de que São Pedro vá dar uma trégua, muito menos que o poder público municipal e estadual guarde na manga alguma iniciativa para pelo menos minorar o sofrimento dos paulistanos. Ao contrário, a sensação que se tem ao entrar na cidade é de que cada um de nós está abandonado à sua própria sorte – ou azar, sei lá.
Da entrada da cidade até a minha casa levei metade do tempo que gastei para percorrer quase 300 quilômetros de viagem do Rio a São Paulo. Alguma coisa está errada, não sei explicar o quê. Só sei que São Paulo hoje é uma cidade onde quem está dentro não sai e quem está fora não consegue entrar. Virou uma gincana permanente.
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