Quem são nossos vizinhos?

Nós, brasileiros, em nosso território gigante, com questões políticas e econômicas suficientemente complexas, e lusófonos, ficamos muitas vezes, de alguma maneira, desinformados sobre os vizinhos, parceiros e irmãos da América Latina. Surge agora uma interessante alternativa para conhecer um pouco mais sobre a economia dos países vizinhos. O livro Crecimiento y Progreso Social en América Latina, editado pelo programa regional Política Social na América Latina (Sopla), da Fundação Konrad Adenauer, reúne diferentes grupos de pesquisa em 13 países da região que procuram esclarecer em que medida as políticas macroeconômicas levadas adiante nesses países trouxeram reais melhorias à vida de suas populações.

A Konrad Adenauer é uma fundação alemã que, além de suas atividades “em casa”, tem trabalho de cooperação internacional em mais de 70 países e atua no Brasil há mais de 40 anos. O programa Sopla propôs uma empreitada de grande fôlego às instituições e pesquisadores: discutir os desafios para a política econômica e social na América Latina. O livro – organizado por Peter Fisher-Bollin, diretor do Sopla, e Eduardo Saavedra, das universidades Alberto Hurtado, no Chile, e Georgetown, nos Estados Unidos, e coordenador acadêmico do programa – é o primeiro resultado desse esforço. Outros dois livros estão sendo elaborados.
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Apesar do rigor científico das análises e da riqueza dos indicadores estatísticos apresentados nos artigos, os não economistas não devem temer uma linguagem hermética e um raciocínio impenetrável. Os estudos mostram que o fardo da desigualdade social ainda pesa sobre quase todos os países do continente. As experiências de política econômica postas em prática, que oscilaram desde reformas liberalizantes ao extremo a iniciativas populistas, acabaram gerando pouca melhora no quadro social dos países. Porém, as taxas de crescimento foram mais elevadas e a abertura das economias, em contexto mais favorável da economia mundial, permitiu que muitos países crescessem sem desequilíbrio nas contas externas, o que é inédito.

A média do crescimento da região foi de 3% ao ano entre 1990 e 2006, enquanto a pobreza foi de 42% para 34% da população, sem muitas mudanças na distribuição da renda. Porém, essas médias podem encobrir grande heterogeneidade das experiências nacionais, diz Saavedra na introdução do livro. Mas a pergunta central que os estudos procuram responder é: por que os sucessos macroeconômicos têm sido incapazes de beneficiar a maioria da população?

As histórias recentes dos 13 países trazem muitas respostas interessantes.

Só para citar um exemplo, o Peru foi elevado ao grau de investimento pelas agências de classificação de risco antes do Brasil. Recebemos essa notícia há pouco sem termos acompanhado os passos da economia peruana.

O artigo de Roberto Abusada e Antonio Cusato, do Instituto Peruano de Economía, descreve as reformas estruturais levadas a cabo, discutindo seus condicionantes políticos e concluindo que os ganhos em termos de diminuição da desigualdade são ainda pífios.

O artigo sobre o Brasil é assinado por Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Roberto Iglesias, da PUC/Rio e diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes). Sem dúvida, um verdadeiro guia sobre a economia dos nossos vizinhos.


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