Queridos, uma questão precisa ser esclarecida de uma vez por todas: quem somos nós, gays? Talvez eu devesse usar o termo “homossexuais”? Não tenham medo, pois não vou cair em análises acadêmicas acerca da natureza, ou da atração sexual, mas sim da nossa comunidade. As eleições mostraram isso de uma maneira muito clara: nós não somos um grupo unido, sólido em suas características, desejos, e ações. Longe disso. Quando disse a vocês que a ideia de que homossexual vota em homossexual é mito eu já percebia a questão. O universo homossexual é tão diversificado que se torna quase impossível descrevê-lo com alguma unidade. Qual o efeito disso nas eleições? Nossa agenda se perdeu na campanha eleitoral, distribuída nas mãos de diversos candidatos, foi escorraçada por outros, enfim, ninguém viu as mais de três milhões de pessoas da Parada Gay votando em um único candidato. Teríamos eleito um senador! Não aconteceu nada disso. Culpa dos gays, da militância? Acho que não.
O que me ocorre é que somos iguais aos outros brasileiros. Somos tão parte desse enorme Brasil, tão comuns como cidadãos, que agimos e votamos como gente normal. Sexualidade é um side line! Quando falo em “nossa guerra”, e “nosso guerreiro”, uso o meu próprio olhar, o meu desejo, mas não lhes descrevo a realidade.
Não fiquei surpreso ao ler os (maravilhosos) blogs de André Fischer e Tony Góes, meus amigos, que disseram ter havido pouquíssimo apoio por parte da militância, quase uma resistência, na hora de apoiar Jean Wyllis, nosso grande deputado federal. Gay combatendo gay? Sim, essa é a realidade. Não existe um sólido grupo político formado por homossexuais, organizado, voltado a ações claras e concretas que defendam nossos interesses. Existem, é verdade, vários grupos, que se conflitam, que não se unem, que preferem ver a derrota uns dos outros. As bárbies musculosas que fazem carnaval nas paradas são odiadas por estudantes universitários, que são desdenhados pelos intelectuais de restaurantes, e todos são desprezados pela gente comum, que conseguiu estruturar suas vidas apesar da sexualidade. O universo homossexual é absolutamente humano, e, portanto, riquíssimo, dividido, um belo quebra-cabeças. Somos um fenômeno humano, não um partido político. Abraços do Cavalcanti.
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