Quitandinha reproduz discurso conservador de 100 anos atrás

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Divulgação: Facebook

O episódio do Quitandinha não vai ficar impune. É muita inocência dos envolvidos acreditar que um acontecimento desse passaria em branco. Isso me lembrou a série Gabriela, baseada no livro de Jorge Amado. A trama se passa em Ilhéus, na década de 1920, quando o cacau era uma das maiores fontes de riqueza e, consequentemente, de poder. Não era de se estranhar a cena dos então chamados “coronéis”, sentados em um bar o dia inteiro, bebendo e dando risada, enquanto se impunha às mulheres papéis de total submissão à figura masculina, fosse nas casas de famílias ou nos bordéis durante a noite.

O que incomoda é que em pleno século 21, a maioria dos homens continua com o mesmo pensamento que os barões do cacau em 1920. Eu como jovem estudante, me esforço diariamente para mudar minha educação em relação às mulheres. Essa (r)evolução interna se intensificou depois das campanhas feitas nas redes sociais, que me trouxeram um sentimento dúbio, de mudança e vergonha.  É óbvio que essa mudança envolve uma questão de orgulho próprio, principalmente por ter sido criado em uma sociedade machista. Não me isento disso, não me achava machista, e fui perceber que pequenas atitudes que eram banais e rotineiras representavam um comportamento opressor às mulheres.

É uma (r)evolução que abrange todas as camadas da sociedade, desde as instituições primárias de ensino até as universidades e ambientes de trabalho. Tudo começa com atitudes pequenas, que podem parecer normais, como aula de educação física separado, o uso da quadra durante o intervalo, até o respeito a liberdade e as opções tomadas pelas mulheres, independente se convêm ao homem, ou não. 

O Quitandinha demorou em considerar o depoimento da jovem Júlia Velo e só mudou de opinião devido à repercussão nas redes sociais. Um dos bares mais boêmios e tradicionais da zona oeste de São Paulo reproduz a mesma ideologia dos bares de Ilhéus há 100 anos, e reflete o enraizamento deste sentimento na sociedade.

O homem ainda não percebeu que respeitar a mulher e considerá-la como igual é a atitude mais “macho” que ele pode ter. É desconstruir uma ideia plantada desde os primórdios da humanidade que já secou faz tempo e que, na verdade, nunca devia ter germinado.

 

 

 


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