Rebelião cultural

O que antes era sinônimo de criminalidade e falta de perspectiva, hoje se transformou em vida e cultura. Certamente, ninguém que passava em frente ao presídio do Carandiru imaginou que um dia seria possível aquilo se transformar no agradável Parque da Juventude. [nggallery id=14201] É nesse ambiente renovado que está instalada a Biblioteca de São Paulo, espaço cultural do Governo de São Paulo administrado em parceria com a Poiesis – Organização Social de Cultura. Além dos mais de 30 mil exemplares de livros, CD’s, DVD’s, jornais, revistas e diversos computadores espalhados pelo local, o público também tem opções de eventos culturais no próprio espaço da biblioteca, com várias iniciativas.Uma delas é o “Sábado da Memória das Artes Gráficas”, na qual um artista é convidado para, em um bate-papo descontraído, não só contar sua trajetória na profissão, como também abrir o baú de histórias, desde sua infância até o presente momento, para todos entenderem de que maneira e em que contexto foram criadas suas influências artísticas.”O grande barato dos “Sábados da Memória é que os artistas vêm aqui não só para contar sobre sua técnica. É uma conversa da vida deles. Por que ele se tornou um desenhista? O que o influenciou quando criança? Como era na casa dele há 50, 60 anos?”, resumiu Mario J. Silva, que trabalhou na Brasileiros e hoje é coordenador cultural da BSP e um dos responsáveis pela escolha dos protagonistas da tarde cultural. Entre os grandes nomes, já sentaram na cadeira principal do auditório Zélio Alves Pinto, Angeli, Benício, Elifas Andreato, Laerte e Maurício de Sousa.Gualberto Costa, um dos idealizadores do Sábado da Memória das Artes Gráficas, falou um pouco sobre o objetivo maior do projeto. “Não adianta termos memória e ela ficar dentro de uma gaveta. O projeto visa não só entrevistar os grandes artistas, como também filmar, captar em áudio, difundir na internet, publicar. Para qualquer estudante que quiser trilhar esse caminho, pode ter aqui a melhor aula possível. E é divertido!”.Silva também ressaltou que a ideia é mesmo promover um imenso intercâmbio cultural e prestigiar nossos grandes artistas do presente, nada de reconhecer a genialidade tardiamente. “Dessa forma, exaltando nossos grandes nomes, podemos incentivar e abrir os olhos da nossa nova geração”, resume.Na tarde do último sábado (21), foi a vez do polivalente Lourenço Mutarelli abrir seu baú de histórias para aproximadamente 50 pessoas presentes. Em papo mediado pelo jornalista Marcelo Alencar, Mutarelli contou um pouco de sua complicada infância e adolescência, principalmente sobre sua dificuldade em se sociabilizar, e de como o desenho o ajudou nessa questão. “Não sei se eu era muito tímido ou muito antissocial, mas acho que, basicamente, olhava para um mundo no qual eu não confiava”.O artista também revelou que, incentivado pelo pai, começou a se interessar por quadrinhos e produzir seu próprio material de maneira curiosa: “Eu era muito pequeno, mas não gostava de Turma da Mônica ou Walt Disney. Gostava de algumas coisas mais pesadas que meu pai comprava. E eu também tinha autorização para comprar em uma banca perto de casa. Mas, um dia o vendedor não quis me vender uma por ter conteúdo muito forte. Acho que a partir daí comecei a fazer os meus quadrinhos, meio que por vingança”.Mutarelli contou também sobre sua juventude e de quando realmente resolveu abandonar a faculdade de publicidade e trilhar o caminho das artes plásticas. Com a morte do pai, um dos principais admiradores de seus quadrinhos, ele se desinteressou pelo assunto e começou a se aventurar pela literatura, área na qual alcançou seu grande sucesso, com o romance O Cheiro do Ralo. O livro foi adaptado para o cinema pelo diretor Heitor Dhalia, com Selton Mello no papel principal, acompanhado de perto pelo autor, em todo o processo de produção.Durante as mais de 2 horas de agradável conversa, Mutarelli se abriu e se emocionou junto com os presentes, dissecou toda sua trajetória, seus gostos, suas conquistas e falou sobre os vários problemas que o acompanharam e o acompanham até hoje, como a bebida, que ele conseguiu se distanciar por mais de uma década antes de voltar.Ao final, sob aplauso do público, o artista foi merecidamente homenageado e deixou gravada sua mão direita, aquela responsável por produzir obras-primas tanto nos quadrinhos quanto na literatura, eternizada em uma placa de cimento fresco, ao lado de uma caneta-tinteiro que um dia pertenceu a seu pai. Bonito.“It’s only rock and roll, but I like it!”Se sábado foi para bater papo e ouvir as histórias de Lourenço Mutarelli, domingo foi dia de rock na Biblioteca de São Paulo. O projeto Música na Biblioteca, que desde março agita o sagrado dia de descanso na BSP, já contou com nomes importantes da nossa MPB, como Made in Brazil, Irineu de Palmira, Bocato, Andréa Costalima, Tulipa Ruiz, entre muitos outros.Neste domingo, para celebrar os 35 anos do histórico álbum Fruto Proibido (1975), a banda Tutti Frutti fez ensolarada apresentação, em um lindo fim de tarde. Com Luiz Sérgio Carlini, o Carlini, no comando e na guitarra solo, sua mulher, Sol Ribeiro, nos vocais, o filho, Roy Carlini, na guitarra base, Franklin Paolillo na bateria, além de Ruffino ou Mr. Ruffino no baixo e Johnny Boy nos teclados, a banda desfilou os grandes sucessos do álbum considerado o mais importante da carreira solo de Rita Lee.O público de mais de 70 pessoas se empolgou com os hits Ovelha Negra e Agora Só Falta Você, além de Dançar Pra Não Dançar, Cartão Postal, Esse Tal de Roque Enrow, entre outras canções. “É muito bom estar aqui, tocar música e fazer rock’n’roll nesse dia ensolarado. Essa biblioteca é linda. Pensar que um lugar com essa vibe tão boa foi o Carandiru e hoje é um espaço de cultura, com livros, computadores. Estamos muito felizes de estar aqui”, disse Carlini.A banda está na ativa a todo vapor. No próximo dia 17, eles vão tocar ao lado dos grupos Made in Brazil e Golpe de Estado, na noite do rock dos anos 70, no Kazebre Rock Bar, em São Paulo. Para ver e ouvir mais sobre a Tutti Frutti, acesse a página da banda no MySpace, aqui.MAIS BSPSite: www.bibliotecadesaopaulo.org.brBlog: www.bibliotecadesaopaulo.blogspot.comTwitter: www.twitter.com/spbiblioteca

De casa de detenção à biblioteca da cidade


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