Rio de Janeiro, sexta-feira

Deus, nos mande sol!Queridos, aqui na serra carioca o tempo está abrindo, sol começa a brilhar lá fora. Desisti de acompanhar os noticiários, pois só se fala da guerra dos morros, com imagens e comentários repetidos, é cansativo. Já disse a vocês, ontem, que a vida nas ruas é aparentemente normal, embora todos acompanhem o desenrolar da situação pelo rádio, ou pelas televisões dos bares. Só se fala disso, e existe sim um clima de medo no ar, mas continuo percebendo a excitação positiva, otimista, ufanista. Incendiaram um carro no coração do quadrilátero gay da cidade, a Rua Farme de Amoedo. Eu poderia dizer que foi em plena Ipanema, mas para mim aquela rua, com a Vinicius de Moraes, a Praia, e a Prudente de Moraes, é nosso território. Lógico que assustou, e não só aos gays, mas a toda a população de Ipanema, que adora pensar que os problemas são coisas dos subúrbios, “aqui no nosso bairro não!”. Dois suspeitos foram presos logo em seguida, corriam para o Morro do Cantagalo, aparentemente fugindo, segundo a PM. Se acabar a gasolina do teu carro na rua, não tente reabastecer com aqueles sacos plásticos vendidos nos postos. Até explicar o que realmente se passa, você pode ter problemas sérios, imagino.

Como estou aqui na serra, liguei para dois amigos, cariocas quarentões, da Zona Sul. O primeiro, dono de uma badalada loja de roupas em um shopping no Leblon, reclamou que o movimento foi quase a zero, a loja ficou às moscas durante a tarde. O segundo comentou que está com medo, pois tem pais idosos morando em Jacarepaguá, mas depois insistiu para que eu vá para o Rio amanhã, mesmo que o tempo não encoraje praia alguma, pois podemos nos jogar à noite na The Week, casa noturna deliciosa, convite tentador, confesso. Um comentário dele não me escapou, achei que foi uma pérola de sabedoria carioca: “Se abrir um sol de verão, o povo vai para a praia, só vão pensar na batalha dos morros na hora do Jornal Nacional”. Acho que tem lá sua verdade. Não que eles sejam alienados, mas a violência é parte do cotidiano carioca há muito tempo, todos adaptam suas vidas a ela. “Em Israel é assim”, dizem.  Onde quer que vocês estejam, minhas dicas para o final de semana são as seguintes: o documentário sobre Ayrton Senna, nos cinemas, é maravilhoso, confesso que chorei no final. O livro de Ricardo Amaral, Vaudeville, é igualmente imperdível, estou me divertindo. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

4 respostas para “Rio de Janeiro, sexta-feira”

  1. Meu caro, tomara que todo esse movimento resulte em algum bem para a Cidade Maravilhosa. Inclusive já demorou. Foram deixando a coisa crescer (se é que você me entende…) e agora virou essa guerra urbana. De qualquer maneira, antes do Natal estamos por aí para ver o que se passa. Aproveite o convite do nobre colega e se jogue. Beijas.

    1. Querida, lógico que virá para o bem. Como dissestes, demorou, pois guerra urbana já o era há muito tempo, mas não se podia subir nos morros. Estarei aqui também, cuidando de hospedes especiais… serãpo bem vindas. Bjas

  2. Gato, estou no Rio até segunda!!! Tenho certeza de que o Buraco da Lacraia vai bombar hoje. Me encontra lá ou no To nem aí da Farme. Quero te dar uns beijos…

    1. COMODORO, uma mensagem sua é sempre uma honra – e uma tentação. Só posso ir amanhã. Teu celular é o mesmo?
      Bjs

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