Roda de bambas

Com o tema Brasil no Estandarte, O Samba é Meu Combate, teve início na última terça-feira (18), no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, a sétima edição da Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes). O evento, que pretende receber um público flutuante de aproximadamente 10 mil estudantes de todo o País, terá encerramento no sábado (22).
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Entre os pontos altos dos três primeiros dias, a Bienal apresentou shows de Beth Carvalho – madrinha dessa edição -, Leci Brandão, Marcelo D2 e Arlindo Cruz. Acompanhada do grupo Farofa Carioca – que revelou o cantor e ator Seu Jorge – subiu ontem ao palco, instalado sob os arcos da Lapa, a cantora Elza Soares.

Muito além de celebrar o samba com música ao vivo, a Bienal tem apresentado uma série de debates e oficinas, que questiona a importância do samba na formação da identidade nacional e defende a ideia de que o gênero musical, mais do que uma mera expressão voluntária de felicidade e alienação, é um símbolo de resistência e de integração do brasileiro. A discussão ganhou força elucidativa na manhã de quinta-feira, quando um time de bambas subiu ao Palco Arena – um dos dez pontos de encontro – para discutir o tema da sétima Bienal.

O mestre de cerimônias Carlos Miele e seus convidados – o sambista Nei Lopes, o historiador Haroldo Costa e o ator Antônio Pedro – realizaram o que foi classificado como uma “aula espetáculo”, fazendo uma retrospectiva livre e cronológica da história do samba, que teve início com o choro Noites Cariocas, de Jacob do Bandolim. Liderado por Bebeto Castilho – o eterno contrabaixista do genial Tamba Trio – o grupo Gente Fina e Outras Coisas, que convidou o cantor Jards Macalé para tocar tamborim, exemplificava o que era discutido na mesa do Palco Arena.

Após uma breve jam instrumental de aquecimento, o cantor e compositor paulistano Carlinhos Vergueiro subiu ao palco no segundo tema, o clássico Carinhoso, de Pixinguinha, e também interpretou outras pérolas de Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Lupicínio Rodrigues, Adoniran Barbosa, Cartola, Zé Keti, Ari Barroso e Paulo César Pinheiro. Nomes que representam a diversidade temática do samba – do samba exaltação, ao samba de protesto, do samba-choro ao samba-fossa de Lupicínio – e a integração nacional que o gênero promove. Entre os nomes, grandes compositores cariocas, gaúchos, paulistas e baianos.

Sob esse aspecto, curiosamente, a canção recebida com maior entusiasmo pelo jovem público que lotou o Palco Arena foi Ronda, do paulistano Paulo Vanzolini. Ao fim do clássico, Nei Lopes lembrou a polêmica sentença, atribuída ao poeta Vinicius de Moraes, de que São Paulo seria o “túmulo do samba”. Lopes contestou a ideia, reiterando que o samba é um gênero cultuado em todo País. Miele intercedeu, dando sua versão testemunhal do fato. Segundo ele, a cena aconteceu na boate Cave, extinta casa de shows na Praça Roosevelt, em São Paulo, durante uma apresentação de Johnny Alf. Irritado com o público que fazia muito barulho, o poeta teria pedido silêncio e soltado o comentário: “Vocês querem fazer de São Paulo o túmulo do samba?!”.

Por fim, todos concluíram que o samba pertence ao povo brasileiro e “mora” em todo o País. Como lembraram Haroldo Costa e Nei Lopes, após breve apresentação de Roberto Menescal – que interpretou clássicos da bossa nova, como O Barquinho e Chega de Saudade – o samba continuou evoluindo, desde a revolução da bossa. Passou pelo samba-jazz e seus combos instrumentais de grande inventividade, chegou aos anos 1980 com forte integração popular, por meio do partido alto e do pagode, e vive hoje um revival do samba-rock ou sambalanço, como preferem os cariocas. Como defende o mestre Zé Keti em sua célebre canção A Voz do Morro: “Salve, samba! queremos samba”.

Nem choro nem vela


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