Cristiano Ronaldo, para mim, é nome de cabeleireiro. Sou do tempo em que jogador de futebol tinha um único nome ou apelido. A não ser que, por questão de supremo talento e respeito, somava-se o sobrenome. Djalma Santos, Nilton Santos, Domingos da Guia e Ademir da Guia. Este último merecia reverência também por sua linhagem real. Agora os boleiros têm dupla denominação, como se fossem decoradores de ambiente, donos de galeria de arte ou músicos sertanejos. No caso do Ronaldo – atual Melhor Jogador do Mundo – um vulgo poderia ser justificável. De uns anos para cá, houve grande inflação de Ronaldos nos campos. Veio o Ronaldinho, que virou “o Fenômeno”, depois do surgimento de Ronaldinho “Gaúcho”, e por aí vai. Para o português, pois, bastaria agregar sua nacionalidade à identificação: “Ronaldo Portuga”. Mas não, tratam-no como membro da família real lusitana.
Na minha época um Cristiano só poderia ser zagueiro, gaúcho ou catarina. Um magrão, meio alemão ou polaco, logo apelidado por torcidas hostis de “Marta Rocha” ou “Vera Fischer”. O homem não teria muita intimidade com a pelota, mas demonstraria uma disposição digna dos amassadores de uva em tonéis de vinho. As canelas adversárias, no caso, servindo como substitutas para os bagos da fruta. Seria, claro, relegado ao esquecimento na história do belo esporte bretão.
Mas agora surge esse novo fenômeno. Nas algibeiras carrega a espantosa bufunfa de 93 milhões de euros. Aposto que se formos fuçar as carteiras e bolsas de cada habitante da bela cidade do Porto, recolhermos nelas todo o dinheiro contido, não daria para fazer uma vaquinha com esta soma. As pessoas, claro, se encantam com a transação milionária. Eu não! Afinal, quem não joga no Corinthians ou na seleção, não me vale aquilo que o gato enterra.
“Ah! Mas ele vai fazer dupla infernal com o Kaká, no Real Madrid”, dizem os babaquaras. E daí? Não torço para aquele time: espanhol era meu avô. O velhinho aqui, rabugento, ainda acredita que só se ama uma única esquadra. E o meu mapa futebolístico é meio parecido com aquele famoso do cartunista Saul Steinberg, na revista New Yorker. Via-se, no original, a ilha de Manhattan, o Brooklyn, e para além dele – a oeste, portanto – a Europa. A leste, depois do Rio Hudson, estava o Japão distante. Comigo é assim: tem os times de São Paulo – Santos, Palmeiras, São Paulo e Corínthians – no centro do desenho. Ao sul, muito longe, estão: o Internacional e o Grêmio, o uruguaio Peñarol, os argentinos Boca Juniors e River Plate. Para a banda do norte – com proximidade como a do Brooklyn imaginado por Steinberg – estão os times do Rio: Vasco, Fluminense, Flamengo e Botafogo. Bem afastados, lá para cima, vêm: Atlético Mineiro e Cruzeiro. Além do Atlântico está a Europa – longe como Marte, e único local da galáxia onde se joga bola, fora de nosso planeta. Lá estão os exóticos: Milan, Benfica, Real Madrid, Bayer, Dinamo, Estrela Vermelha e Manchester. Só.
Jogar contra time de fora, no meu tempo, era enfrentar o XV de Piracicaba, a Ferroviária de Araraquara, ou o Comercial de Ribeirão Preto. E, acreditem, não tinha boleiro com dois primeiros nomes.
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