Rússia e China vetaram nesta quinta-feira, dia 19, a resolução do Conselho de Segurança da ONU que busca impor sanções contra o presidente sírio Bashar al-Assad se ele não parar com o uso de armas pesadas. Trata-se da terceira vez em nove meses que Rússia e China empregaram seu direito de veto como membros permanentes do Conselho para bloquear resoluções contra Damasco. A votação resultou em 11 votos a favor, dois contra e duas abstenções.
Na votação, Paquistão e África do Sul se abstiveram, e os 11 restantes se pronunciaram a favor. Os países que apoiaram a medida foram Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Portugal, Colômbia, Guatemala, Índia, Azerbaijão e Togo, assim como o Marrocos, representante no Conselho de Segurança do grupo de países árabes nas Nações Unidas.
Segundo a Rússia, a resolução proposta pelos países ocidentais para impor sanções contra a Síria abria caminho para uma intervenção militar. “A resolução abre caminho para pressionar por sanções e, mais adiante, para um envolvimento externo nos assuntos internos sírios”, afirmou o embaixador russo Vitaly Churkin, depois de participar na votação e vetar o texto do Conselho de Segurança da ONU.
Após o veto, os Estados Unidos afirmaram que o Conselho de Segurança fracassou totalmente com a Síria. “Intensificaremos nosso trabalho com um amplo grupo de sócios do Conselho de Segurança para pressionar mais o regime de Assad e para ajudar quem necessitar”, assegurou a embaixadora dos Estados Unidos ante a ONU, Susan Rice.
O mediador internacional para o conflito sírio, Kofi Annan, criticou a incapacidade do conselho de emitir uma opinião uniforme. “O Enviado Especial Conjunto para a Síria, Kofi Annan, está frustrado que, neste momento crítico, o Conselho de Segurança da ONU não pôde se unir e tomar a ação forte e em comum acordo que ele havia pedido e esperava que fosse tomada. Ele acredita que a voz do Conselho é muito mais poderosa quando seus membros atuam como um só”, disse o porta-voz de Annan, Ahmad Fawzi, em comunicado divulgado em Genebra.
A França também demonstrou insatisfação com o resultado da votação. “Estou muito, muito triste. O que acontece na Síria está se estendendo. Havia 3 mil mortos e tivemos veto, 7 mil e veto, e agora 17 mil e um novo veto. Deveria ser perguntado a esses países quando aceitarão se mexer”, disse o embaixador da França na ONU, Gérard Araud, que acusou a Rússia de “querer ganhar tempo para que o regime de Assad possa esmagar a oposição”.
O diplomata francês fez duras críticas a Moscou e Pequim, que foram repetidas por outros diplomatas ocidentais, e assegurou que, ao exercer de novo o veto, os governos desses países “dão as costas à aproximação realizada pacientemente nos últimos meses” pelo enviado especial da ONU, Kofi Annan.
O projeto de resolução votado foi apresentado na semana passada por Reino Unido, EUA, França, Alemanha e Portugal com a ideia de aumentar a pressão sobre o regime de Damasco mediante a ameaça de sanções diplomáticas e econômicas, algo ao qual a Rússia se opõe frontalmente.
O texto, que também previa o mandato da Missão de Observação das Nações Unidas na Síria (UNSMIS) por mais 45 dias, ameaçava a aplicação de sanções sob o Capítulo VII da Carta da ONU se o regime não recuasse em até dez dias suas tropas nos centros urbanos e interrompesse o uso de armamentos pesados.
“É lamentável que este Conselho tenha sido incapaz de cumprir o papel para o qual foi estabelecido e que tem o dever de respeitar”, afirmou após a votação o embaixador do Reino Unido ma ONU, Mark Lyall Grant, que se disse “horrorizado” com o resultado e acusou Rússia e China de “pôr seus interesses nacionais acima das vidas de milhões de sírios”. O embaixador britânico assegurou ainda que as autoridades russas e chinesas “fracassaram ao não fornecerem o apoio pedido” tanto por Annan como pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
O duplo veto desta quinta-feira, que deixa no ar o futuro dos observadores internacionais na Síria, se soma aos já exercidos por Rússia e China em outubro do ano passado e fevereiro de 2012, quando também frearam iniciativas dos países europeus e os Estados Unidos para exercerem pressão sobre o regime ditatorial de Damasco.
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