“Santo Sujo”: livro de Werneck é bonito e bem escrito, com certeza

Não li e já gostei. Ao contrário de outros críticos e resenhistas de livros, vou recomendar – e confesso – uma obra que ainda não li, mas com certeza pode ser chamada de prima.

“Santo Sujo”, o livro sobre a vida de Jayme Ovalle, que o estilista da palavra Humberto Werneck levou 17 anos para concluir, foi lançado nesta quarta-feira à noite, na Livraria da Vila, em São Paulo.

Como se trata de um catatau de quase 400 páginas, vou levar algum tempo para dar meu veredicto final. Sou rápido para escrever, mas lento de leitura.

Anos atrás, quando trabalhávamos juntos na redação do velho “JB” em São Paulo, esse tal de Werneck, feliz proprietário de um humor cáustico, que não perdoa ninguém, nem ele mesmo, andou dizendo que eu sou o único brasileiro que já escreveu mais livros do que leu…

Basta dar uma rápida folheada no livro, percorrer o belíssimo projeto gráfico de Luciana Facchini recheado com a pesquisa iconográfica de Gabriela Miranda, duas craques, para ter certeza que a história da vida do misterioso Ovalle vai virar um best-seller. Querem apostar?

Também, não era para menos: “Santo Sujo” é o resultado da parceria de duas grifes do mercado editorial que assinam o livro.

A Cosac Naify tornou-se conhecida como butique de luxo das editoras e o autor, há tempos, é venerado no meio jornalístico como dono de um dos mais refinados textos da praça.

De fato, Werneck escreve muito direitinho, o que sempre ajuda um jornalista e, principalmente, um escritor, como todos sabemos.

Só ele para descobrir um personagem secundário de quem nunca ouvimos falar e dedicar quase duas décadas da sua vida provecta a garimpar uma obra que ficou nas conversas e escritos dos amigos.

Bons e célebres amigos, aliás, como Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Di Cavalcanti, que fazem com citações recolhidas por Werneck uma apresentação póstuma de Jaime Ovalle na abertura do livro.

“Poeta, não deixou livro, e, do pouco que escreveu, a maior parte precisou de ajuda alheia, de mulheres que amaram esse homem sedutor e de estranha beleza (…)”, escreveu o autor no prefácio.

Tão estranha que usava graxa de sapato no cabelo, mas esse é apenas um dos detalhes desta figura que parece meio inverossímel. Há mesmo controvérsias quanto à sua própria existência.

Contemporâneo e conterrâneo do mineiríssimo biógrafo, Nirlando Beirão já aventou a hipótese de que Jaime Ovalle seria o próprio Humberto Werneck – um pseudônimo do autor, portanto. Nesse caso, eu acrescentaria, tratar-se-ia de uma autobiografia ficcional não autorizada…

Seja como for, aconteça o que acontecer, só o debate que marcou o lançamento, sob a moderação de Cassiano Elek Machado, já terá valido a pena.

Diante de uma platéia formada por jornalistas e belas aspirantes ao nobre ofício, Werneck e Fernando Morais, outro consagrado biógrafo mineiro, deram saborosas e bem humoradas lições sobre o bem escrever e o bem viver.

“Com votos de boa trip ovalliana, o abraço do velho, velhíssimo Werneck”, escreveu-me o autor na dedicatória. Na verdade, nem precisaria ter assinado.


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