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Pois é, meus amigos paulistanos, nesta segunda-feira é dia de aniversário da nossa cidade. Vamos comemorar 456 anos. Comemorar?
Em pleno sábado, no meio do feriadão de janeiro, mês de férias, e antes das chuvas da tarde, estava difícil andar de carro em várias áreas da cidade. Não é difícil imaginar como será a partir de terça-feira, quando meio mundo volta das férias e recomeçam as aulas.
Já estávamos habituados aos problemas do trânsito nas “horas de pico”, em algumas avenidas centrais, nas marginais e nos acessos às estradas, mas de uns tempos para cá não tem mais dia, hora nem lugar: São Paulo está parando todo dia, o dia todo.
Como trabalho em casa e faço quase tudo que preciso a pé, no raio de uns três ou quatro quarteirões, e raramente vejo televisão, só me dei conta do que está acontecendo ao tentar sair ou voltar à cidade nas viagens que fiz durante as férias e na volta ao trabalho.
Parece que São Paulo toda está em obras, sejam públicas ou privadas, cheia de desvios e armadilhas, caçambas e montanhas de lixo e entulho por todo lado, como se a cidade estivesse recém-saída de uma guerra ou de um terremoto.
Nestas horas, não adianta nada ficar xingando o prefeito ou o governador, como tantos leitores fizeram esta semana ao comentar um texto que escrevi na sexta-feira sobre as dificuldades para se entrar ou sair da cidade. O fato é que São Paulo está à beira de um colapso. Apenas constato esta realidade, não fico procurando culpados passados ou presentes.
“Nem Cristo dá mais jeito nisso! Um dia vai parar tudo de uma vez”, já ouvi de diferentes motoristas de táxi, mais parados do que andando, procurando atalhos, tentando levar o passageiro ao seu destino.
Nos meus 45 anos de jornalismo, acho que entrevistei todos os prefeitos que comandaram São Paulo neste período, de Faria Lima a José Serra/Gilberto Kassab, de Olavo Setubal a Luiza Erundina, de Jânio Quadros a Miguel Colassuono, de Mário Covas a Paulo Maluf, de Marta Suplicy a Reinaldo de Barros, de Figueiredo Ferraz a Celso Pitta, gente de todos os partidos e diferentes ideologias, e deles ouvi mais queixas do que soluções, revelando um profundo sentimento de impotência diante dos brutais desafios de colocar ordem no cáos.
A conta simplesmente não fecha.
Por mais que se construam casas populares, milhares e milhares de paulistanos continuam morando em condições sub-humanas em barracos ou sob os viadutos, jogados nas calçadas.
Por mais que se leve saneamento básico às periferias, falta água e o esgoto corre e céu aberto nas novas vilas e jardins que brotam todas as semanas em São Paulo.
Por mais que se construam linhas de metrô e corredores de ônibus, viadutos e novas avenidas, a cada dia fica mais difícil circular pela cidade, seja de carro ou no transporte público.
Por mais que se façam postos de saúde e escolas, continua tendo muita gente sem atendimento médico e crianças sem aulas.
Por mais que se aumentem impostos e taxas, sempre falta dinheiro para atender a demandas mínimas como fazer a limpeza e tapar os buracos das ruas.
A impressão que me dá é que o crescimento desordenado e sem fim da cidade ganhou vida própria, independentemente da vontade dos governantes ou dos moradores, como se São Paulo vivesse um processo de autofagia absolutamente fora de controle.
Não se trata de gostar ou não gostar da cidade. Eu, por exemplo, já escrevi um texto no antigo Estadão, num outro dia de aniversário da cidade, muitos anos atrás, a que dei o título “Amo esta cidade com todo ódio”. Hoje, mais amo do que odeio São Paulo. Nos seis anos em que morei longe daqui, na Alemanha, em Curitiba e Brasília, senti muita saudade e só pensava em voltar logo.
Nos comentários escritos pelos leitores, notei muita intolerância e preconceitos, tanto de velhos paulistanos como de moradores de outras cidades. Aqui, meus amigos, somos todos forasteiros, filhos, netos, bisnetos de migrantes e imigrantes de toda parte do Brasil e do mundo. Apenas uns chegaram antes do que os outros e, hoje, estamos todos no mesmo barco, que está afundando a cada nova chuva.
Também não se trata de simplesmente chamar um caminhão da Lusitana e mudar de cidade, como gostariam de fazer 41% dos paulistanos ouvidos pelo Datafolha publicado neste domingo. Os mesmos problemas de São Paulo, em maiores ou menores proporções, estão chegando a todas as metrópoles do país, e nem todos se acostumariam a morar numa pequena cidade do interior sem os confortos e oportunidades da cidade grande.
Precisamos é aprender a conviver com o cáos e o barulho, como os nordestinos aprenderam a conviver com a seca – simplificar as coisas, procurar morar o mais perto possível do trabalho, talvez ganhando menos, para ter uma qualidade de vida um pouco melhor, sem tanto stress.
Enquanto continuarem derrubando os velhos sobrados geminados geminadas para erguer novas torres com quatro vagas na garagem, como acontece na rua onde nasci, a Mateus Grou, em Pinheiros, plantando monumentais prédios residenciais e comerciais, shoppings e supermercados por todo lado, não tem jeito mesmo. Fazer o quê?
Se alguém tiver alguma brilhante idéia para evitar o colapso da cidade nesta véspera de aniversário de São Paulo, compartilhe-a, por favor, com os demais leitores aqui do Balaio.
Da minha parte, procuro aproveitar as coisas boas que a cidade também tem, apesar de tudo. Amanhã, logo cedo, por exemplo, vou ao Pacaembu para ver mais uma final da Copa São Paulo, com o meu Tricolorzinho enfrentando a meninada do Santos. Ganhando ou perdendo, é sempre uma festa ver esta moçada jogar no velho estádio de tantas tradições e boas lembranças.
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