São Paulo, mãos à obra

O primeiro ano de realização da série de eventos Seminários Brasileiros foi encerrado no dia 28 de novembro de maneira especial com o tema São Paulo na Copa do Mundo 2014. E o local do evento não podia ser mais adequado: o Museu do Futebol, situado no histórico Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Na verdade, colocar em debate a possível participação de São Paulo na Copa do Mundo de 2014 foi uma decisão tomada pela Brasileiros desde a definição dos temas dos cinco seminários realizados de abril a novembro, em São Paulo e em Brasília.

A definição pela Fifa, em 21 de outubro, do calendário dos jogos da Copa do Mundo de 2014, com São Paulo escolhida como local da partida de abertura, foi bem-vinda e serviu para acrescentar mais molho aos debates e urgência no que se refere às providências que precisam ser tomadas até 2014.
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O seminário inaugural, com o tema Rumos da Economia Brasileira, foi realizado no Hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo. Os fundos de pensão, um dos setores que mais crescem no País, foram o tema do segundo seminário – Fundos de Pensão -, que aconteceu em 26 de maio em Brasília, no Teatro Oi, do Royal Tulip Hotel.

De volta a São Paulo, a Seminários Brasileiros abordou, no terceiro evento da série realizado no WTC de São Paulo, o tema Infraestrutura, Urgências e Estratégias. Um dos principais desafios do futuro do Brasil para se transformar em um país totalmente desenvolvido, a inovação foi debatida no quarto seminário. Novamente em São Paulo, no Hotel Tivoli, o tema foi Inovação – o Brasil na Rota do Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Para 2012, novos temas de importância para o Brasil deverão ser abordados nas próximas edições dos Seminários Brasileiros.

São Paulo na Copa
Na primeira mesa do dia, a questão colocada em debate foi Por que São Paulo é a Capital da Copa?. Participaram três representantes dos governos estadual e municipal de São Paulo – Raquel Verdenacci, da Secretaria Executiva do Comitê Paulista para a Copa; representando o governador Geraldo Alckmin, Walter Feldman, secretário Municipal para Grandes Eventos; e Gilmar Tadeu, secretário de Articulação da Copa do Mundo em São Paulo – e um do setor privado, Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo.

Raquel apresentou um vídeo sobre a atuação do governo estadual e disse que o governo quer consolidar São Paulo como destino de eventos internacionais, alcançar um nível de excelência na prestação de serviços ao turista e garantir obras e ações que representem legado à população da cidade e do Estado. Ela confirmou ainda que entre as obras de infraestrutura previstas para ficarem prontas até 2014 está o monotrilho, ligando o Aeroporto de Congonhas à estação de trem na Marginal Pinheiros, de onde sai uma linha expressa interligada também ao Metrô.

Dentro da mesma abordagem otimista, Gilmar Tadeu disse que a cidade terá condições de receber os milhares de turistas que a visitarão durante a Copa. Ele destacou a infraestrutura que será oferecida na Zona Leste, em torno do futuro estádio do Corinthians, local da partida de abertura, que representará a revitalização de uma das regiões mais populosas e carentes da cidade. Walter Feldman disse que a Copa representará para São Paulo o mesmo que os Jogos Olímpicos de 2012 para Londres. “Eles estabeleceram um novo paradigma em termos de sustentabilidade. Pretendemos superar isso, especialmente com relação à Zona Leste”, afirmou.

Marcel Solimeo, por sua vez, alertou que o setor privado terá grande responsabilidade durante a Copa: “Afinal de contas, será ele que vai atender o público, que vai oferecer e prestar serviços de todos os tipos”. Participou ainda do painel, por meio de um vídeo, o secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, Bebeto Haddad, para quem São Paulo passará a ter dois tempos, antes e depois da Copa de 2014, por causa das transformações que acontecerão. Ele revelou que o evento trará a São Paulo 3 bilhões e 600 mil turistas, do Brasil e do exterior, e R$ 1,5 bi aos cofres públicos.

O que é que São Paulo tem? foi o tema da segunda mesa, que contou com a participação de Percival Maricato, um dos grandes especialistas no setor de diversões – restaurantes, bares, etc. – de São Paulo; Eduardo Rocha Azevedo, presidente do Jockey Club de São Paulo, ex-presidente da Bovespa e da BM&F; e do bicampeão mundial de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, hoje empresário do setor de eventos. Percival afirmou que a cidade não deverá ter problemas em absorver e atender com qualidade, especialmente para o almoço, os turistas durante a Copa. Ele acha que o grande problema será o jantar. “Hoje, 1,7 milhão de pessoas almoçam fora de casa todos os dias em São Paulo. Receber mais 300, 400 mil pessoas, será fácil. Agora, no jantar, onde apenas uns 400 mil saem de casa, atender mais 300 mil representa quase dobrar o público a ser atendido. Essa necessidade vai forçar o setor a investir, e muito, em todos os sentidos. O problema é o governo não atrapalhar com suas regras e proibições cada vez mais absurdas.”

Eduardo Rocha Azevedo criticou os investimentos públicos na construção e reformas de estádios pelo Brasil afora, dizendo que o setor privado deveria ter assumido a tarefa. Ele atacou também a escolha como sedes de cidade sem tradição no futebol. Mas acha que, no final “pelo menos em termos de São Paulo e Rio, por exemplo, haverá legado e benefícios para a população”. Emerson Fittipaldi destacou exatamente os benefícios que as obras em infraestrutura trarão para a cidade e os locais envolvidos na Copa. Ele aproveitou para elogiar também a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, considerando um ganho para o País. “A Copa do Mundo e a Olimpíada serão muito importantes para o Brasil, reforçando nosso papel de futuro destino turístico mundial. Não tenho dúvida de que esses eventos trarão benefícios para todos.”

O bicampeão mundial quer que a mídia ajude a fiscalizar as obras pelo Brasil. “As críticas construtivas são necessárias e muito bem-vindas”, garantiu. Um vídeo do empresário e restaurateur Belarmino Iglesias Filho, garantindo que “São Paulo vai bombar na Copa, atendendo a todos com qualidade e eficiência”, encerrou o painel.

Três pré-candidatos a prefeito de São Paulo – José Aníbal, Andrea Matarazzo e Soninha Francine – e Caio Luiz de Carvalho, presidente da SPTuris, a empresa de turismo da capital paulista, analisaram a situação atual da cidade e o que precisa ser feito até 2014. Matarazzo disse que São Paulo deveria estar sempre preparada para os grandes eventos, que já hoje ocorrem em grande número na cidade. Ele criticou as falhas de infraestrutura e transportes, dizendo que muita coisa terá de ser feita até a Copa.

Na mesma linha, Soninha apresentou uma detalhada lista de intervenções que considera fundamentais. “O transporte coletivo, por exemplo, terá de funcionar 24 horas. A coleta de lixo seletiva e eficiente, ruas e calçadas bem pavimentadas. Afinal de contas, vamos receber gente acostumada a altos padrões de serviços”, alertou. José Aníbal, secretário de Energia do Estado de São Paulo, garantiu que não haverá problemas no setor para a Copa e que o Estado está bem preparado.

Finalmente, Caio Luiz de Carvalho destacou que eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada são “uma grande oportunidade de tirar da gaveta projetos de infraestrutura e de educação e qualificação das pessoas”.
Em termos de qualificação de mão de obra, Caio afirmou que, hoje, 1.500 dos 32 mil motoristas de táxi de São Paulo já estão capacitados em língua inglesa. “Temos de ampliar esse número para que o turista seja bem atendido, tanto na Copa quanto no futuro”. O presidente da SPTuris disse que a cidade precisa, com urgência, de um novo centro de eventos. “O Anhembi já está vendido até 2016. Isso é uma necessidade que vai além da Copa”, alertou. E lembrou ainda que o maior problema de infraestrutura para 2014 é o mesmo de hoje: os aeroportos.

O futebol, finalmente, passou para os holofotes no último painel do seminário. E o time escalado pela Brasileiros para a mesa era de craques. Foram quatro veteranos jornalistas com experiência em dezenas de copas do mundo: Roberto Muylaert, presidente da ANER; Orlando Duarte, respeitado historiador do futebol; Alberto Helena, colunista de jornais e TV; e Silvio Luiz, um dos mais divertidos e iconoclastas comentaristas de futebol no Brasil. Um “garoto” de menos de 50 anos completou o time – Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, um dos mais inovadores “cartolas” do futebol brasileiro, nomeado Diretor de Seleções da CBF e capa desta edição da Brasileiros.

Antes dos debates, o jornalista Mino Carta, em vídeo, relembrou passagens da Copa do Mundo de 1950 no Brasil, principalmente, do silêncio fúnebre do Maracanã lotado, terminada a final com a vitória do Uruguai. Dado o mote, Muylaert, que escreveu um livro sobre Moacyr Barbosa, o goleiro do Brasil acusado de ter frangado no gol decisivo de Alcides Gigghia (o Uruguai ganhou do Brasil por 2 x 1), lembrou da final, que viu “espremido” nas arquibancadas, aos 12 anos. E comentou que os torcedores, ao saberem que ele era paulista, cobraram as vaias que a Seleção recebeu no Pacaembu, dias antes, ao empatar em 2 x 2 com a Suíça.

Orlando Duarte, que é autor de um elogiado livro sobre todas as Copas, rememorou a partida entre Itália e Suécia, disputada em um Pacaembu lotado de italianos e seus descendentes, e terminou com a vitória sueca por 3 x 2. “Foi uma das partidas mais espetaculares e emocionantes da Copa”, garantiu. Silvio Luiz e Alberto Helena criticaram o modelo implantado pela Fifa e pela CBF, encampado pelo poder público brasileiro. “Fui contra a Copa e a Olimpíada, acho que hoje não se trata apenas de competições esportivas, mas, sim, de grandes balcões de negócios”, atacou Silvio Luiz. Mas considera que, agora, só lhe resta esperar que as coisas corram bem. Helena afirmou que defendeu, junto ao Ministério do Esporte, um modelo de Copa regionalizado no Nordeste e Norte, como fator de desenvolvimento. E lembrou que a proposta foi sumariamente descartada, em troca da forma atual, com a construção de novos estádios, mesmo em cidades onde o futebol não é muito representativo.

Lançada ao alto a bola dos novos estádios, Andrés Sanchez matou no peito e anunciou: “Vamos abrir todas as contas das obras de construção do Arena Corinthians. Todos vão saber quanto custa cada parafuso, cada saco de cimento”, afirmou. Para o novo supercartola do futebol brasileiro, a construção do Arena Corinthians (“Pelo amor de Deus, não chamem mais de Itaquerão ou Fielzão”, pediu) vai representar muito mais que um belo estádio de futebol. Ele garantiu que o estádio será sustentável e se transformará em um polo de desenvolvimento para a Zona Leste.

Questionado sobre as regras impostas pela Fifa para a realização de uma Copa do Mundo, que muitas vezes interferem na legislação de cada país, ele lamentou: “Todos os países, incluindo o nosso, aceitaram e se submeteram”. De qualquer modo, os integrantes da mesa consideram que será possível fazer uma grande Copa do Mundo.

O seminário terminou com um depoimento em vídeo do publicitário Washington Olivetto, em que ele, premonitoriamente, defendia que a abertura da Copa fosse em São Paulo e a final no Rio. Como será mesmo.


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