Ao piloto que morre, não importa a qualidade do co-piloto, reza o provérbio que me veio à mente quando John McCain escolheu Sarah Palin para sua candidata à vice-presidência dos EUA. McCain fez a escolha para arrebanhar os votos das frustradas eleitoras de Hillary e de mais outras tantas mulheres do país. McCain, pensando em si, e somente em si, considerou: a única chance de pegar o manche desse avião é escolher um vice-presidente do gênero feminino, a mais ajeitada possível. Se McCain vier a morrer o problema não será mais de McCain. Disso sabe McCain e todos os ateus.
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McCain já tem 72 anos e vários tropeços de saúde. Estimativas sobre a probabilidade de ele morrer nos próximos oito anos convergem para algo em torno de 30%. Esclareça-se: não estão aí computados alguns fatores, como a pronta assistência médica que o cerca. Tampouco outros, como o hábito de se atirar em políticos naquele país. Assumindo que a encrenca seja dessa ordem, se a dupla é eleita, haveria a probabilidade de 30% de Sarah ser presidente dos EUA, assumir o manche. É uma probabilidade alta e deixa nosotros, aqui no fundão da econômica, de orelha em pé.
Não pela Sarah que se vê na mídia, que é bonita, sorridente, fala com desenvoltura e tem uma família simpática. Nem mesmo porque ela tenha umas coisas estranhas para uma possível presidente dos EUA. Foi candidata a miss por duas vezes, com certo sucesso. Fez curso universitário em quatro anos, cada qual em uma faculdade. Em sua vida pública, foi apenas prefeita de Wasilla, cidade de nove mil habitantes, menor que Araçariguama (cidade do interior de São Paulo), e governadora do Alasca, 700 mil habitantes, menor que Osasco (cidade da região metropolitana de São Paulo), mas com 89% do orçamento estadual vindo do petróleo. Sarah tirou seu passaporte pela primeira vez no ano passado e é contra os direitos de aborto – até mesmo em casos de estupro e incesto, mesmo quando as vítimas são menores. Até mesmo a americana Organização Nacional de Mulheres, feminista e sempre neutra nas eleições presidenciais, diz claramente não votem em McCain-Palin.
Mas como julgar Sarah assim tão de longe, sem evidências mais concretas, sem saber de circunstâncias, do contexto? Deixamos de julgar essas facetas, mas não deixamos de constatar outras.
Sarah é de uma parte do mundo em que lobos, raposas, alces, ursos e muitos outros animais vivem juntos há milênios. Não em harmonia porque não é assim que vivem predadores e presas, mas vivem do jeito que lá os bichos vivem. Melhor dizendo, viviam. Até que Sarah aprovou um programa de US$ 400 mil, de dinheiro público, para fazer campanha a favor da caça aérea de lobos. Não obstante o povo do Alasca já ter dito não à caça aérea em duas ocasiões anteriores, Sarah voltou à carga e teve sucesso em sua campanha. Ou seja, conseguiu que pequenos aviões com atiradores a bordo possam cercar lobos e atirar ainda em vôo. Ou que persigam o animal até sua exaustão e então o matem. Ou que o alcancem, aterrissem e o matem. É coisa violenta, de forças desiguais. Não é preciso entender de Alasca, entender de política, entender de controle de populações animais, tampouco de gestão de programas de caça ou o que seja. Trata-se de um processo covarde. Raramente o animal morre no primeiro tiro. É brutal. Salta à vista o jeito de matar e a noção de intervenção violenta sobre o jeito dos bichos lá viverem. Matar lobos para que aumente a população de alces? Para então caçá-los? É ignóbil. Vá ser violenta e controladora assim no quinto dos infernos, eu diria entre senhoras.
Que esta é a última chance de McCain, não há dúvida. Que ele toparia qualquer co-piloto que o permitisse alçar vôo não há dúvida. Que a ele, uma vez morto, não importa o que faça Sarah, também não há dúvida. A dúvida agora é sobre o voto dos americanos do norte. Eles definirão piloto e co-piloto e, nosotros, aqui no fundão da econômica, assistiremos a tudo com nossos corações, e joelhos, apertados. Não podemos fazer quase nada. Alguns rezam para que a escolha da tripulação seja acertada. Outros torcem pela saúde do piloto escolhido. Eu, de minha parte, invento provérbios, mas sei que os inventados sempre soam falsos.
Nota da redação: Hoje, 22 de setembro, é o dia de defesa da fauna!
Veja vídeo da ONG “Defenders of Wildlife” com a cruel prática de caçar lobos com aviões, aprovada pela senhora Sarah Palin:
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