“Internação involuntária é ineficiente”, dizem especialistas internacionais

Foto Marcelo Camargo / Agência Brasil

Manifestantes protestam contra internações compulsórias em São Paulo (21/01/13)

Controversa, a aprovação da internação involuntária de dependentes químicos no Estado de São Paulo continua a colher críticas no Brasil e exterior. Nesta quarta-feira, dia 6, especialistas do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), afirmaram que esse formato não é o mais eficiente para tratar do problema do vício.

Chefe do departamento de prevenção às drogas e saúde do UNODC e autor do documento “Da coerção à coesão: tratando a dependência às drogas por meio de cuidados à saúde e não da punição”, o médico italiano Gilberto Gerra afirma que a internação contra a vontade do paciente só se justifica quando ele apresenta comportamento de risco para a sociedade ou para si próprio e que deve ter prazo máximo de algumas semanas.

Após este período, o tratamento oferecido ao dependente deve ter “serviços atrativos e uma assistência social sólida”. “Uma boa cura de desintoxicação envolve tratamento de saúde, inclusive psiquiátrico para diagnosticar as causas do vício, pessoas especializadas e sorridentes para lidar com os dependentes e incentivos como alimentação, moradia e ajuda para arrumar um emprego”, afirma Gerra.

De acordo com Gerra, para ser bem sucedidas, as ações devem ser realizadas de maneira articulada entre os governos estaduais e federal e o País precisa investir em programas de formação de profissionais para poder oferecer serviços de qualidade na área.  “O Brasil precisa investir recursos para oferecer serviços que funcionem e ofereçam acompanhamento médico completo, proteção social, comida e trabalho para os dependentes”, diz.

Seguindo a mesma linha de argumentação, o médico australiano Nicolas Campion Clark, da direção do abuso de substâncias da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que a internação forçada pode criar, no dependente, a rejeição a qualquer tentativa de tratamento oferecido pela rede pública.

Segundo Clark, esta prática é autorizada pela legislação de muitos países, mas raramente é utilizada pois não apresenta bons resultados na prática. “É melhor encorajar o sistema voluntário de tratamento. É difícil forçar alguém a se tratar. Se você oferecer uma chance para as pessoas se recuperarem e terem comida, alguns vão agradecer, outros vão querer voltar para onde estavam”, diz o especialista.

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