Se não voar alto, o gato come

shutterstock_169239080
País pobre é aquele com futuro incerto, institucionalmente desorganizado e socialmente injusto. País emergente é aquele que tem a possibilidade de traçar seu destino, é um adolescente institucional, porém organizado e socialmente responsável. Países emergentes como o Brasil – com grande população, enorme riqueza natural, segurança jurídica e democracia – podem delinear seus futuros explorando suas vantagens competitivas em relação às das outras nações.

Apesar da desordem econômica e financeira global causada pelas nações desenvolvidas, há um novo arranjo nas relações econômicas e comerciais entre países desenvolvidos e emergentes. A política de desenvolvimento brasileira deve estar atenta a essa situação.

Neste século, a política de desenvolvimento e de enriquecimento da sociedade brasileira deverá estar conectada às mudanças geopolíticas globais. Elas induzem à redução do papel político-militar hegemônico das nações desenvolvidas e patrocinam acordos de integração comercial e tecnológica regional entre países ricos e emergentes. Esse novo mundo econômico sinaliza com clareza o direcionamento da globalização: ampliação da atividade econômica entre e intrarregiões com acordos bilaterais de comércio, redução da pobreza, aumento da renda por habitante e promoção da segurança institucional e da corresponsabilidade ambiental das nações. Essas são algumas das características da globalização neste século.

A equação da política de desenvolvimento nacional deve contemplar fundamentalmente as novas dimensões do comércio global. Importa compreender o fato de que, da metade do século passado em diante, o comércio mundial passou do multilateralismo para o regionalismo protecionista. Neste século, haverá uma convergência, resultando no multilateralismo dos acordos de comércio e tecnologia regionais. Será um mundo de novas fronteiras com intensa disputa comercial: um mundo inovador, politicamente dasafiador e menos protecionista.

Os novos acordos de comércio regionais são: a Parceria Transpacífica (TPP), que consiste em um acordo de li­vre comércio entre os Estados Unidos e as nações do Pacífico, englobando ao todo 12 países. Destes, três fazem parte da América Latina: Peru, Chile e México; e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), entre os Estados Unidos e a União Europeia, abrangendo um total de 29 países.

Os dois acordos representarão mais de 75% do comércio e do produto mundial. O Brasil não faz parte desses acordos.

Esse novo arcabouço comercial promoverá a expansão da globalização entre as nações, com a liderança dos Estados Unidos. Nesse aspecto, em face do atual desgaste político-diplomático entre Brasil-Estados Unidos, com o fim da Doutrina James Monroe, que objetivou proteger as nações dos continentes americanos da ação colonizadora europeia, a política externa norte-americana deveria ter um gesto conciliador com o Brasil, destacando-o politicamente como o fez com a Índia, Turquia e Coreia do Sul.

De qualquer maneira, esse novo arranjo comercial e institucional exigirá segurança jurídica ao capital e aos investimentos das nações emergentes na construção das estruturas econômicas necessárias para integrá-las ao comércio internacional.

Esse cenário demandará da Organização Mundial do Comércio (OMC) uma forma diferente de coordenar as relações comerciais, reduzindo ou eliminando o caráter discriminatório e protecionista do comércio internacional.

Diante desse contexto geopolítico do comércio internacional será uma oportunidade extremamente desafiadora para o Brasil reduzir o hiato de produtividade dos fatores de produção em relação aos países que integram os acordos de comércio-tecnologia-investimentos regionais.

O Brasil deverá ter esse cenário na equação das políticas de desenvolvimento econômico e social. O primeiro passo será a integração da economia nacional nos blocos regionais em formação, escapando das amarras retrógradas do Mercosul, mas arrastando-o para essa nova conjuntura global. Isso significa que a política de desenvolvimento nacional dever ser direcionada à interdependência econômica setorial com países cujos setores sejam complementares aos nossos e que façam parte dos acordos de parcerias de comércio regionais (TPP e TTIP). Trata-se de integrar setorialmente nossa cadeia produtiva à cadeia global. Esse direcionamento do desenvolvimento exigirá competência de coordenação e de cooperação entre as partes.

Assim como a sociedade e o governo brasileiro optaram pelo sistema político democrático, o mesmo deverão fazer pelo desenvolvimento, no qual o papel do Estado deverá ser: (1) coordenar o progresso econômico, social, educacional e institucional; (2) reduzir a carga fiscal sobre a produção e a renda dos trabalhadores; e (3) facilitar a inserção econômica na cadeia de produção global. O Estado deverá tornar mais eficientes os serviços públicos e assegurar sólida convivência dos investimentos públicos/privados na concessão de serviços à iniciativa privada, com vista à eficácia operacional da nova infraestrutura e da logística nacional.

O sucesso econômico dos Tigres Asiáticos consistiu em incorporar na equação do desenvolvimento os ganhos constantes das vantagens comparativas de seus fatores de produção (capital, trabalho e tecnologia) e torná-los competitivos em relação à cadeia global de valores.

É sabido que não existe modelo de desenvolvimento que possa ser copiado, mas conhecem-se os caminhos que levam ao progresso material e social. Um desses caminhos é a promoção dos setores da indústria e do agronegócio na cadeia de valores globais. Essa estratégia implicará adequar os currículos escolares à profissionalização dos jovens e à concepção dos valores sociais que lhes possibilitarão desfrutar do progresso deste século.


Comentários

Uma resposta para “Se não voar alto, o gato come”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.