Seca de sertão no interior paulista

Com quase cem dias sem uma boa chuva, a “Califórnia Brasileira” está virando um sertão. Em torno de Ribeirão Preto, região mais rica do Estado de São Paulo, até os bambuzais estão secando na beira da estrada, cachoeiras desaparecem, rios podem ser atravessados a pé. A plantação de cana nova que conseguiu vingar, está magra, a produtividade este ano deve cair.

Uma densa cortina formada pela fumaça das queimadas, misturada à poeira vermelha levantada pelos caminhões nos canaviais, torna o ar irrespirável. O cenário é desolador.

Cheguei agora há pouco de uma viagem a São Joaquim da Barra, cidade de 50 mil habitantes, a 70 quilômetros de Ribeirão Preto, onde peguei o avião para voltar a São Paulo. Confesso que senti um alívio quando cheguei aqui 45 minutos depois, embora a baixa umidade do ar nos últimos dias também esteja fazendo o paulistano sofrer para respirar. O sufoco no interior paulista, no entanto, está ainda pior, se é que isto serve de consolo.

Dos dois lados da Anhanguera, a rodovia que liga as duas cidades, a cana de açúcar tomou conta de tudo. Embora proibidas pela Justiça em algumas cidades da região, onde os índices estão próximos aos do deserto do Saara, as queimadas continuam sendo feitas a qualquer hora do dia e da noite. Quem vai fiscalizar, como saber quem tacou o fogo no canavial? Os responsáveis pela terra podem alegar que foi um incêncio criminoso, que alguém jogou uma bituca de cigarro acesa.

Com a monocultura da cana, contaram-me que, além dos conhecidos danos ao meio ambiente, está havendo um crescente êxodo rural. Pequenos e médios proprietários arrendam suas terras para as usinas e vão morar nas cidades, onde suas casas são invadidas pela fuligem negra das queimadas.

Em São Joaquim, segundo os últimos levantamentos, não restam mais do que 700 lavradores morando na zona rural. Outros dois mil trabalhadores contratados pelas usinas moram na cidade, e vão e voltam todo dia dos canaviais, levantando a poeira vermelha das estradas de terra.

Apesar do clima hostil, saí de lá muito contente por ter participado da 5ª Feira do Livro de São Joaquim da Barra. Em pleno dia de semana, a platéia, que quase lotou o auditório montado na praça da Matriz, ficou firme me ouvindo falar da vida de repórter e escritor até tarde da noite.

Tinha lá gente de todas as idades interessada em fazer perguntas sobre os mais variados assuntos. É uma coisa boa que esta acontecendo, esta de colocar os autores em contato direto com seus leitores. Quase toda semana, em algum lugar do Brasil, está acontecendo mais alguma feira do livro. Nós, que vivemos da escrita, estamos virando “feirantes”.

Mais alguns dias e, com certeza, vai voltar a chover no interior paulista, deixando tudo verde de novo. Aqui, ao contrário das tantas viagens que fiz ao sertão nordestino para contar os dramas da seca, a falta de chuva é passageira, embora este ano esteja demorando muito.

E como está o tempo aí na sua cidade, caro leitor? Está dando para respirar?


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