Como descrever uma viagem em que o mote é provar comida e bebida com prazer e técnica, buscando os mais renomados restaurantes da atualidade? Muitos dirão, por razões óbvias, viagem gastronômica. Eu digo que é uma grande loucura!
Há alguns meses, não poderia pensar que um dia faria uma viagem desse tipo. O destino foi a Itália e, por mais um rompante de loucura, passamos, meu companheiro e eu, dois dos dez dias na Dinamarca.
Na primeira semana, estivemos no Piemonte para o famoso festival de tartufo bianco. Nessa ocasião, pudemos esmiuçar as diferentes nuances dessa iguaria singular e perceber que nem sempre vale o que é cobrado – muitas vezes, é mais fetiche que qualidade.
Regados a muito Barolo e Barbaresco, fizemos uma série de degustações extremamente didáticas, nas quais ficou clara a diferença entre as colinas que abrigam esses grandes vinhos.
Pádova e Modena foram as paradas seguintes e duas experiências gastronômicas marcaram nossas memórias, respectivamente nos premiadíssimos restaurantes Le Calandre e Osteria Francescana, com uma cozinha italiana revisitada que privilegia criatividade e excelência de ingredientes.
Na Dinamarca, na bela e única cidade de Copenhagen visitamos duas joias do mundo dos restaurantes. Uma delas é o Søllerød kro, dono de uma estrela no guia Michelin, situado um pouco fora da cidade em uma casa do século 16, com serviço e comida impecáveis, além de uma carta mais clássica de vinhos.
O restaurante número 1 do mundo pela revista britânica Restaurant e dono de duas estrelas Michelin, o Noma é uma experiência à parte de todas: tem uma cozinha especialmente saborosa e um cuidado primoroso com ingredientes. A carta de vinhos é composta por produtores pequenos e em sua quase totalidade produtos biodinâmicos ou com um apelo natural.
Os vinhos estão seguindo uma tendência de escolha, que vertem para a produção natural, e as cartas e harmonizações propostas pelos sommeliers refletem claramente esse fato na maioria dos restaurantes visitados.
De modo geral, em uma gastronomia cada vez mais independente e saborosa, os vinhos, em total sintonia, saem do papel de coadjuvantes para se tornarem arte integrante das criações.
Os preços dos vinhos realmente deixam o Brasil envergonhado do que tem cobrado pela bebida, porém o valor dos menus gastronômicos está muito similar aos praticados por aqui.
A importância dessa experiência, para mim, não pode ser traduzida por palavras. O que posso afirmar é que, sem dúvida nenhuma, foi a viagem da minha vida.
*Graduada em Gastronomia, com especialização em Enogastronomia, e maître-sommelier dos restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, em São Paulo.
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