Foto: Adriana Komives
Foto: Adriana Komives

A linha do metrô número dois de Paris sai do túnel e passa por uma espécie de ponte suspensa sobre a cidade. Cruzo assim os trilhos da Gare du Nord, e mais além, avisto o Canal Saint Martin. Embaixo desta ponte sobre o canal, estende-se um imenso acampamento de barracas destas que se compra na Decathlon.

O que é isto ? – penso com meus botões.

Em outro dia descubro o óbvio : migrantes. Eles vêm do Sudão, do Afeganistão, de Deus sabe lá aonde, acampar embaixo da ponte. Homens, jovens, desesperados. Melhor este acampamento improvisado do que as estradas sem chão que percorreram até agora.

Neste fim de semana, a “Selva” de Calais, onde acampavam 4000 refugiados em condições insalubres, foi desmontada. Muitos puderam subir em ônibus que os levaram para diferentes cidades onde um acolhimento administrativo lhes será oferecido. Mas será que isto basta ? Quem diz administração não diz amor.

Jogados como peões no tabuleiro de um mundo desestabilizado, famílias, mulheres e principalmente homens caminham em rumo a Terras Prometidas. Êxodo. Deixando tudo para trás, pertences, língua, costumes, sentimentos, caminham como retirantes no deserto. E muito raramente são acolhidos com humanismo.

Mas às vezes sim.

Camille e Alain moram nos Alpes Marítimos, e têm uma plantação de castanhas que se estende por um hectare e meio. Ali perto, em Ventimiglia, existe uma “Selva de Calais” italiana, aonde os refugiados se amontoam esperando um jeito de continuar sua viagem para a França ou Inglaterra. Em uma noite em 2015, Camille cruza na estrada dois jovens migrantes: “Eles estavam caminhando há dois dias de havaianas pelo terreno rochoso das montanhas, estavam exaustos, eu não podia deixá-los daquele jeito na beira da estrada ! Então propus que descansassem alguns dias em casa. Eles aceitaram e puderam assim parar e pensar sobre como seguir seu curso”, diz ela. Desde então, o casal hospeda regularmente por alguns dias os que estão pelo caminho. Sua plantação de castanhas tem como se estender por mais de 200 hectares. Alain projeta sua idéia de futuro : “Durante a época de colheita, estamos dispostos a acolher um migrante para que ele trabalhe com a gente e junte dinheiro suficiente para comprar seu próprio lote.”. Por enquanto, o apelo da estrada para os refugiados é maior, mas Alain está convencido de que alguns vão voltar para se instalar um dia em seu pequeno paraíso.

Os refugiados que pediram asilo na Europa em 2015 foram um milhão duzentos e cinqüenta e cinco mil segundo a Eurostat. Parecem muitos e são mesmo, mas representam apenas 0,23% da população dos 28 estados membros da União Européia. 

Cabe todo mundo quando se abre o coração.


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