Calma pessoal, ainda não recebi o temível ornamento na cabeça, mas já me parecem inevitáveis. Esclareço que serei corneado não como homem, ou homossexual, mas como eleitor! Afinal, votei convicto em Marta Suplicy, apesar daquele triste incidente da campanha contra o Kassab, no qual jogou no ventilador a comentada homossexualidade dele. Marta foi uma das prefeitas que mais fez por nós, nunca fugiu de nossa raia, e compareceu, expondo-se publicamente, a todas as paradas e manifestações dos homossexuais, seja àquelas que reivindicavam nossos direitos, seja àquelas que celebravam nossa diversidade. No Senado, está lutando pela aprovação do surrado PL 122/06, que torna crime a homofobia, dando-nos uma mínima proteção legal em caso de atentados motivados por nossa orientação sexual. Tem porte para ser uma Kennedy brasileira. E quantos não vemos, agora quase todos os dias, nos jornais? Ao menos visibilidade nós conquistamos na mídia, ao custo do sangue de muitos, e da morte de alguns. Também agiu energicamente nos bastidores do Supremo Tribunal Federal, conseguindo que a união civil homossexual fosse declarada constitucional, em um julgamento histórico, no qual tivemos a unanimidade dos votos. As frequentes visitas dela ao gabinete da ministra Ellen Gracie nunca foram secretas, e a parelha de mulheres fortes e convictas nos ajudou imensamente.
Mas, e dizem que o Diabo mora nessas três letras, ela agora já declarou que vai se afastar do Senado Federal, campo de batalha do legislativo, para concorrer à Prefeitura de São Paulo, cargo que já ocupou brilhantemente, diga-se. Conseguiu muito, embora, como muito bem disse Maria Emilia Lacombe, em entrevista à revista Vogue, tudo de bom que fez foi esquecido, e seus erros são sempre lembrados, e jamais perdoados.
Só que nós votamos nela para legislar, por sete anos. Precisamos de gente com a inteligência, determinação, e coragem dela lá em Brasília, lutando por leis mais justas, que garantam a cidadania. Administrar a cidade pode ser função de outro. O ex-presidente Lula, pelo que já ouvi comentarem por ai, prefere um candidato absolutamente desconhecido, o atual Ministro da Educação, Cláudio Haddad, que, creio, só por milagre ganharia o pleito.
Marta foi eleita para legislar, e lá faz uma bela parelha com seu ex-marido, o eterno e bárbaro Eduardo Suplicy, além de Aloysio Nunes. Acho que São Paulo nunca esteve tão bem representado no Senado Federal. Marta saindo, quem ganha de presente um cargo eletivo valiosíssimo, e que não lhe cabe, é seu Suplente, Antonio Carlos Rodrigues, ex-deputado estadual pelo PR de São Paulo, que não lhe chega aos pés. Não votei nele; ele não me representa, mas, pelo visto, e a despeito do apoio de tantos milhões de votos recebidos, Marta vai mesmo e mandar uma banana a todos, e sair atrás de mais uma disputa. Eu me sentirei corneado, traído, desrespeitado. Política no Brasil é assim: mesmo quem é bom, é perigoso e traiçoeiro. Constatação do Velho Cavalcanti.
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