Serra no fogo cruzado da crise na segurança

Blogueiro neófito, tenho enfrentado um dilema nos últimos dias: diante do volume cada vez maior, fico sem saber se leio os comentários dos leitores ou escrevo um novo texto. Ainda não aprendi a fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Além disso, preciso sair de casa para ver o que está acontecendo, conversar com as pessoas, ler e responder e-mails, na permanente busca de novidades para atualizar o Balaio.

Gostaria de mudar de assunto, tratar de assuntos mais amenos nesta véspera de final de semana, mas os fatos se impõem – os fatos, sempre os fatos, dos quais me tornei escravo, desde que comecei a trabalhar como repórter, como já escrevi outro dia.

Então, vamos a eles: pela primeira vez desde que tomou posse, parece que os fatos estão fugindo ao controle do governador José Serra. A crise na segurança pública em São Paulo, que culminou ontem no confronto entre grevistas da Polícia Civil e tropas da Polícia Militar às portas do Palácio dos Bandeirantes, deixando mais de 20 feridos, invadiu o noticiário nacional e atravessou as fronteiras do Estado, apesar de toda a boa vontade da imprensa amiga.

As cenas da guerra entre as polícias chocaram a população do país inteiro. Foi o que consegui reparar numa rápida olhada nos mais de 200 comentários postados pelos leitores desde que o texto sobre o conflito entrou no Balaio ontem à noite.

Pouco importa que o noticiário tenha comprado quase sem contraditório, dando poucos ouvidos ao outro lado, a versão de Serra sobre o caráter político-eleitoral do movimento grevista, acusando o PT e o PDT e as centrais CUT e Fôrça Sindical de insuflarem a greve dos policiais civis às vésperas do segundo turno das eleições.

Logo cedo, li no iG que sindicatos de policiais civils de diferentes Estados já estão se mobilizando para organizar um movimento nacional em apoio aos seus colegas de São Paulo.

“Caso o governo do Estado não dê uma resposta rápida às reivindicações na próxima semana, vamos paralisar as Polícias Civis de todo o Brasil por um dia”, ameaçou Luciano Marinho de Moraes, diretor do sindicato da Polícia Civil do Distrito Federal.

Sem entrar no mérito, quer dizer, se as reinvidicações salariais dos policiais grevistas são justas ou não, o fato é que a população de São Paulo está há mais de um mês convivendo com a insegurança pública, não podendo contar com o serviço das delegaciais.

Para agravar a situação, desde a tarde de segunda-feira, faz quase 100 horas, os paulistanos são bombardeados com a cobertura sensacionalista do sequestro de duas adolescentes mantidas como reféns pelo ex-namorado de uma delas, em Santo André, com a polícia dando a todos a nítida sensação de que já não sabe mais o que fazer.

Queira ou não, desta vez Serra está no centro do fogo cruzado da crise na área de segurança pública, que se arrasta praticamente desde o início do seu governo, sem que se tenha avançado um milímentro no rumo de uma solução.


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