Sete Dias com Marilyn comove e respeita o mito

Duas ideias bancadas pelo diretor de Sete Dias com Marilyn, Simon Curtis,  justificam a ida ao cinema para assistir a este filme que mostra a turbulenta passagem de Marilyn Monroe pelos estúdios ingleses, em 1956, quando contracenou com sir Laurence Olivier na comédia O Príncipe Encantado. No longa, que finalmente estreia no País dia 28 depois de dois adiamentos, o diretor correu dois riscos, mas sai sem arranhões de suas apostas.

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A primeira foi escolher um episódio obscuro da biografia do maior mito do cinema americano até hoje. Em vez de retalhar a história, como recentemente aconteceu com a cinebiografia de Edith Piaf, ele definiu um período, uma dor específica, um conflito interno da atriz e jogou luz sobre esse recorte. Represando até certo ponto a mitologia que a envolve, ele deixou a personagem um pouco mais nítida e quebradiça. Podemos conferir, como em poucos filmes sobre Marilyn, uma versão menos envernizada da atriz, como se a víssemos depois do demaquilante.

Marilyn havia recém-casado com o incensado Arthur Miller, um dos maiores dramaturgos da história do século 20. Como se um corpo encontrasse um cérebro ou vice-versa. Ou nada disso. O casamento da dupla, porém, começava ali mesmo a dar sinais de desgaste com a insustentável insegurança da atriz, que andava a tiracolo com uma professora de representação particular que passava o dia dizendo que ela era “maravilhosa” e “a maior das atrizes”. Marilyn, afinal, precisava ouvir de qualquer estranho que era mais que um corpo espetacular. Não uma “amadora profissional”, como já disse Laurence Olivier, que queria bilheteria para seu filme, mas não imaginava que contratar a maior estrela dos anos 50 fosse ser tão trabalhoso.

A segunda aposta, ainda mais perigosa, foi decidir-se por uma atriz talentosa, mas longe de ser linda ou sexy, para viver a protagonista. Scarlett Johansson, que foi convidada e recusou o papel, seria a escolha mais óbvia. Que outra profissional do cinema teria a petulância de encarar Marilyn sem correr o risco da caricatura? Michelle Williams dividiu sua carreira em duas partes depois de aceitar esse desafio. Ela sabe que não pode ser comparada ao mito, e por causa disso, procurou o caminho ainda mais difícil: usa o olhar e a voz para transmitir tudo aquilo que um corpo mignon estaria impossibilitado de reproduzir. E ela conseguiu: Michelle, indicada ao Oscar deste ano por esse papel, parece que está sempre à beira da queda.

O roteiro, baseado no livro de um assistente de direção, Colin Clark, que supostamente teve breve affair com a estrela durante as filmagens, não a poupou. Ao contrário, a humanizou. A obra foi publicada em 2000 e, evidentemente, temos uma interpretação muito romantizada da mulher. Sentimos falta de um mergulho um pouco mais profundo sobre as origens dos bloqueios e medos da estrela, mas talvez fosse pedir demais dessa esfinge. Vale ressaltar o espetacular trabalho de direção de arte, figurino e maquiagem do longa – ressaltando no rosto dos atores as diferenças de idade de cada um. Injusto não destacar a caracterização arrogante de Kenneth Branagh, como Laurence Olivier. O melhor papel dele em anos.

ASSISTA AO TRAILER DE SETE DIAS COM MARILYN:


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