Foto: Fernando Pilatos/Gazeta Press/Folha Imagem |
O Corinthians contratou Ronaldo, o Fenômeno, para vender camisas. Como se a gloriosa armadura do Timão precisasse de incentivador oficial de vendas. Eu mesmo, morando a dez mil quilômetros de distância do Parque São Jorge, tenho cinco camisetas. O conjunto daria para vestir um time de futsal. Mas se for para colocar sob contrato um camiseiro oficial, sou mais o seu Nunzio Carelli. Ele era o dono da Camisaria Carelli, a melhor do Brasil, situada na Rua Augusta, em São Paulo. O homem é corintiano desde criancinha, ao pé da letra, pois está com 93 anos e, portanto, contemporâneo da fundação do Coringão. Além disso, qualquer pessoa pode atestar que o velho Carelli está em muito melhor forma física do que o Ronaldo.
O santo nonagenário faz ioga diariamente com o Shotaro Shimada, o mestre dos mestres. Aos domingos, sai a pé da Rua Frei Caneca, onde mora desde que o Coringão enfileirava anos sem campeonato, e vai até às margens do Rio Pinheiros. Uma peregrinação que eu e o Ronaldo seríamos incapazes de fazer sem a ajuda de uma ambulância. Seu Carelli vai almoçar com o filho – outro corintiano que adquiriu coleção de camisas do Timão sem necessitar de incentivos de gente com peso superior ao de uma geladeira. Depois da macarronada, os Carelli assistem aos jogos dos mosqueteiros de São Jorge, mantendo desse modo figuras esbeltas, já que o sofrimento e as alegrias (mais as segundas do que o primeiros) fazem bem ao organismo.
Com esse monumento de camiseiro enxuto – que providenciou elegância garantida até mesmo a palmeirenses – quem precisa do Ronaldo? O “Fenômeno”, no caso, é o vecchio Nunzio. Aposto que se o colocassem na ponta-esquerda do Timão, o homem não faria feio. Pelo menos saberíamos que correria e suaria a camisa. O mesmo não pode ser assegurado pela nova estrela do Parque São Jorge que, cá pra nós, está mais para supernova, dado o tamanho. O presidente do Corinthians disse que o contrato foi assinado em papel de pão. Imagino que o produto foi prontamente devorado pelo signatário.
É verdade que seu Carelli não teria o poder de alavancar anunciantes patrocinadores da camisa. Ele é como eu: acha que essa história de colocar reclame no sagrado traje alvinegro é heresia. Somos da época em que na camisa de um time constava apenas o brasão e o número nos costados. Não tinha essa história de colocar o nome do jogador: corintiano sempre soube quem estava no time. Ninguém precisava ler nada – e muitos sequer conseguiriam decifrar o aglomerado de letras. Propaganda? Somente pelos alto-falantes do estádio. Ponto final.
Mas os tempos mudaram – reconhecemos, o vecchio Nunzio e eu. Hoje é preciso arranjar patrocinadores. No caso de Ronaldo, sempre sugeri que ele fosse bancado pelos pneus Michelin. O homem é o próprio Bibendum – o legendário boneco feito de pneus que é garoto propaganda da fábrica.
Imaginem a minha fúria quando vou ler o caderno de esportes do jornal onde trabalho, o JB, do Rio de Janeiro, e dou de cara com o título “Natal Gordo” na matéria sobre a contratação do Ronaldo. É claro que isso é coisa de flamenguista frustrado, que já contava com o peso do Fenômeno em seu time. Mesmo assim, temos de encarar os fatos: vamos precisar de mais pano para as camisas. Tanto as que já estão sendo vendidas como pães quentes quanto aquela que vai cobrir o ídolo recém-chegado.
Resta saber se ele joga bola. O Corinthians contratou o Garrincha já em final de carreira e machucado. Mas o Mané nos deu alegrias em campo. Lembro que fui ver sua estréia no Pacaembu e saí do estádio em estado de graça. Por alguns momentos, o ponta mostrou toda sua genialidade e fez gato e sapato com um zagueiro. E que ninguém se esqueça do Edu – aquele que era do Santos de Pelé -, que acabou campeão pelo Coringão. Pesava, à época, por volta dos “450 quilos”. Dizem que o clube agora tem um centro de treinamento que, dentro em breve, será de primeira linha. Pode ser que faça milagre e coloque em forma o nosso recordista de vendas de camisas (talvez seja melhor acrescentar um terreiro de umbanda nas instalações). Até lá, só nos resta torcer. E todos sabem que nisso ninguém bate a Fiel.
Deixe um comentário