Ao longo da História da Humanidade, o homem sempre se enfeitou mais e antes que as mulheres, sem que isso fosse demérito, já que vários machos de outras espécies eram mais vistosos que suas respectivas fêmeas. Todavia, com o processo da Revolução Industrial desencadeado durante o século XIX, os homens deixaram de se enfeitar e suas roupas passaram a ser escuras, discretas e sisudas, uma vez que se impunham pelo que produziam em uma sociedade capitalista de consumo e não mais pela aparência vistosa. Eis o surgimento do conceito da roupa de trabalho para os homens. Coube, então, às mulheres o papel de se ornamentarem mais que os homens (não que não se enfeitassem anteriormente), até mesmo para denunciarem visualmente o poder econômico de seu pai ou de seu marido.
A partir desse processo, o padrão de beleza masculino era demonstrado por meio de ornamentos naturais (barba, bigode e, acreditem, uma bela barriga como sinal de posses e poderio econômico relacionado à fartura) e enfeites artificiais (bengala, relógio de bolso com a corrente exposta sobre o colete, cartola e gravata). De todos esses complementos, e que realmente permaneceu no guarda-roupa masculino até hoje foi a gravata.
Trata-se de um elemento visual de indumentária e moda masculina que denuncia aspectos de masculinidade, pois esta representa o próprio falo. De fato, a peça lembra o órgão sexual masculino, pois é algo dependurado na parte frontal do corpo e, além do mais, como se não bastasse, na sua extremidade há o formato de uma seta que aponta para a genitália do homem e direciona o olhar do observador para a sua região peniana. Assim nos explica a psicologia das roupas a simbologia da gravata, que é considerada a peça mais erótica e sedutora do guarda roupa masculino. Daí os homens adorarem, consciente ou inconscientemente, exibir suas gravatas – se possível novas, de bom material e de marca – para denunciarem bons atributos de masculinidade. Daí, também, ser considerado altamente indecoroso uma mulher ficar tocando na gravata de um homem, pois, também consciente ou inconscientemente, quer dizer que ela está querendo tocar o órgão sexual do homem.
Simbologias à parte, os soldados da Roma Antiga foram os primeiros, na história da indumentária, a usar uma banda de tecido, denominada focale, ao redor do pescoço, que poderia se assemelhar ao que hoje chamamos de gravata. Porém, foi no reinado de Luis XIV, o Rei Sol (século XVII) que um tipo de ornamento ao redor do pescoço entrou em voga e originou a gravata propriamente dita. O monarca contratou soldados mercenários croatas para lutarem pela França. Ao chegarem às terras gálicas, estes usavam um belo adorno em torno do pescoço que chegou a gerar cobiça e inspiração ao rei francês, que passou a usar um tipo de ornamento com rendas (espécie de jabot) também ao redor do pescoço. Daí vem o nome desta peça, de croate (croata, em francês) originando por corruptela linguística a palavra cravate, que em língua portuguesa vai dar gravata.
Esse ornamento semelhante ao jabot seria uma espécie de avô da gravata e que vai se transformar no plastron do século XIX (plastrão, em português), uma espécie de banda de tecido amarrada ao redor do pescoço com sofisticados nós e normalmente espetados por alfinetes ornamentais. Nas últimas décadas do século XIX, o plastron vai dar origem à gravata no formato como hoje conhecemos e usamos desde então. E eis esse elemento que atravessou todo o século XX e adentrou no século XXI como expressão de prestígio social de masculinidade e respeito.
Normalmente, as pessoas acham que existem três ou quatro tipos de nós para laçar a gravata sob a gola da camisa. Mas saibam que existem registradas ao longo da História da Moda pelo menos – pasmem – 181 maneiras diferentes de se dar o nó na sua gravata.
É só escolher a cor, a espessura (simbologias à parte, em 2011, as mais em moda são as de formato slim, ou seja, as mais finas), os motivos dos desenhos, dar um belo e bem elaborado nó, que varia do simples, passando pelo duplo e até mesmo chegando ao nó em borboleta (ou inúmeros outros) e, como dizem os jovens “se jogar” neste item de moda, de respeito e, não se esqueçam, também de masculinidade.
*Historiador e escritor especialista em História da Indumentária e da Moda, pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e em Histoire du Costume, pela École Supérieure des Arts et Thecniques de la Mode (ESMOD – PARIS). Autor dos livros História da Moda. Uma Narrativa e Reflexões sobre Moda, volumes I, II, III e IV. Professor de Estética, História da Moda, Cultura de Moda e História da Arte em cursos de graduação e pós-graduação em São Paulo.
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