No último dia 15 de agosto, morreu Joel Silveira, mitológico repórter, entre os melhores que o Brasil já teve. Um dia antes se completaram 20 anos da morte de Cláudio Abramo. Personagem admirável e um dos maiores nomes da história do jornalismo brasileiro, conheci Cláudio na década de 1980, na Senhor, revista semanal da Editora Três, dirigida por Mino Carta.
Ele publicava uma coluna, com artigos que escrevia nas máquinas Olivetti da revista ou em sua casa, para então remetê-los à redação. Quando isso acontecia, cabia a mim adequar seus textos aos tamanhos predeterminados, ou seja, suprimir palavras ou frases e, eventualmente, atribuir-lhes título. Cláudio Abramo era uma entidade sagrada do jornalismo e essa delicada tarefa eu a cumpria com controlada emoção e explícito respeito, evidentemente consultando o autor ao telefone. Além da inteligência brilhante, ele era um homem de rara elegância e exemplar educação, o que transformava essa negociação – naturalmente penosa e potencialmente explosiva – em uma aula de jornalismo para mim. Foi lá, na redação da revista Senhor, que fiz a foto de Cláudio Abramo que ilustra esta página e que, mais tarde, seria usada na capa de seu antológico A Regra do Jogo, editado pela Companhia das Letras, livro onde há preciosas lições sobre o exercício da profissão. Para ele, “o jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista”.
Não conheci Joel Silveira, que morreu aos 88 anos, mas o admirava como um dos maiores repórteres que o Brasil produziu. Nascido em Sergipe, ele foi correspondente de guerra – cobriu a Segunda Guerra Mundial -, escreveu mais de 40 livros, ganhou o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, e entrevistou várias gerações de presidentes brasileiros, de Getúlio Vargas a João Goulart. Dele se diz também que foi um dos precursores, por aqui, do chamado Novo Jornalismo.
William Waack, personagem de capa desta edição de Brasileiros, faz parte da mesma linhagem de repórteres que se pode dizer que trilham os caminhos de Joel Silveira. Além disso, o hoje apresentador do Jornal da Globo obedece, com disciplina germânica, um preceito lapidar de Cláudio Abramo – “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”.
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