Sobre aborto, estupro, Videla e Médici

O Dia Internacional da Mulher é comemorado neste mês e homenageia as vítimas da repressão policial em Nova York, no dia 8 de março de 1857. Nesse dia, numa manifestação em uma fábrica de tecidos, mulheres que pediam diminuição de jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias e direito à licença-maternidade foram violentamente reprimidas. Morreram 129. Desde então muita coisa mudou, espaços foram conquistados e a discriminação, graças a muita luta, foi reduzida drasticamente. As mulheres hoje dirigem empresas, comandam países e continuam tendo filhos e cuidando deles. E é delas o direito de gerar – ou não gerar – seus filhos.

Brasileiros dedicou a reportagem de capa desta edição para seis mulheres. Helena Ignez, uma atriz que participou da história do cinema nacional, hoje trabalha em seu próprio filme. Elza Soares, que sofreu na pele todo o preconceito e injustiça, é uma das cantoras mais importantes do Brasil. Angela Gutierrez, herdeira de uma das maiores construtoras do País, cuida da preservação da memória histórica e da criação de museus. Liedi Bariani Bernucci é a chefe do Departamento de Engenharia de Transporte da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), um dos maiores centros de excelência em engenharia do Brasil. Rachel Reichhardt é a professora de hebraico que se tornou a primeira brasileira a escrever a Torá, o livro sagrado judeu.

E Maria Victoria Benevides. A socióloga e cientista política passou a vida ensinando direitos humanos e, em fevereiro, declarou-se publicamente contra um editorial da Folha de S. Paulo, que cunhou o estranho neologismo “ditabranda” ao defender a esdrúxula tese de que a nossa ditadura foi melhor do que as de nossos vizinhos. Algo assim como desculpar uma ditadura porque matou menos cidadãos do que outras e a partir daí, usando os dados de um hipotético “Dataditaduras”, formular um ranking onde disputariam posições Pol Pot, Joseph Stalin, Augusto Pinochet, Emílio Garrastazu Médici, Jorge Rafael Videla, Fidel Castro e Omar al-Bashir.

A foto desta página foi feita no dia 18 de setembro de 1977 em plena ditadura militar.

Ela registra uma manifestação contra a carestia que aconteceu em São Paulo, começou dentro de uma igreja – Nossa Senhora da Penha – e tomou as ruas, onde foi reprimida pela polícia. Era a Igreja dos tempos de Dom Paulo Evaristo Arns, um batalhador pelos direitos dos cidadãos e das cidadãs. Diferente da Igreja do arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, que aproveitou este mês em que se comemora o Dia da Mulher para excomungar os responsáveis pelo aborto da menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto em Recife. Como se não fosse suficiente, ele ainda declarou que aborto é pior que estupro.

O que você prefere, aborto ou estupro? Stalin, Médici ou Videla?


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