Sobre guerras, conflitos, orgulho e angústia

Victor Ferreira, jovem e talentoso repórter, acompanhou a passagem de comando das tropas brasileiras no Haiti. Como o trabalho de manutenção da paz acarreta uma carga física e psicológica quase insuportável, os militares são substituídos após seis meses na Minustah – Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. Ela já dura cinco anos e, até hoje, mobilizou mais de 10 mil soldados brasileiros. Haitianos entrevistados por Victor defendem a manutenção das tropas em seu país. O Haiti, de fato, não está pronto para assegurar sua própria vida. O repórter da Brasileiros viu e fotografou um país mergulhado em profunda miséria. Sua estabilidade é garantida pela ONU, mas ainda em patamares bem distantes de qualquer coisa parecida com crescimento social. Mesmo assim, o trabalho é mais que louvável. Ele é exemplar e, como tal, deve ser divulgado. Depois de quase 30 anos de ditadura, o Haiti teve um presidente eleito democraticamente, Jean-Bertrand Aristide, logo deposto por militares. Aí, uma série de atos insensatos implantou um caos sangrento no país, o que terminou por reduzi-lo à gigantesca favela visitada pelo nosso repórter.

Os soldados que estão trabalhando com os capacetes azuis da ONU são um exemplo do que deve ser o trabalho e a função das forças armadas. Principalmente porque ainda existem militares que se prestam a fazer o serviço sujo, como o feito em Honduras, onde o presidente foi deposto e levado, de madrugada, para fora do país. Isso é inaceitável em qualquer tempo, principalmente nos dias de hoje, por mais pateta e trapalhão que seja o presidente.

O trabalho no Haiti coloca de maneira clara e saudável as fronteiras e a convivência que devem existir entre civis e militares em situações que antecedem conflitos e durante as chamadas missões de paz. E também nisso nossos soldados têm sido exemplares.

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Por falar em militares, em guerras e em conflitos, minha filha, Patrícia Campos Mello – que não é militar, mas sim jornalista -, está no Afeganistão. Ela é correspondente do jornal O Estado de São Paulo, em Washington, e está circulando por Cabul, Jalalabad e outras cidades daquela região, com as tropas de Barack Obama. É lá que o Taleban guerreia com as forças apoiadas pelos americanos. Apesar de eu ser obviamente suspeito, recomendo a leitura de seu trabalho. Ele pode ser acompanhado nas páginas do jornal, no site e em seu blog. Eu já cobri guerras. Junto com William Waack fui preso no Iraque por soldados do então poderoso Saddam Hussein, durante a Guerra do Golfo (lá foi feita a foto desta página). Também estive na invasão americana ao Panamá, quando a operação Justa Causa prendeu o General Noriega. Por tudo isso, posso dizer que em outros tempos estaria bastante orgulhoso de minha filha. Mas hoje, essa agradável sensação vem acompanhada por uma amarga e indigesta dose de angústia.


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