Sobrou para a empregada de novo

Até agora nenhum deputado ou senador foi punido nesta enxurrada de maracutaias denunciadas pela imprensa nos últimos meses, mas sobrou de novo para a empregada.

Esta nova história, como diria o Mino Carta, é emblemática. Ao ver nos jornais a denúncia contra o deputado licenciado Alberto Fraga (DEM-DF), que usava uma secretária parlamentar como faxineira em sua mansão, Arnaldo Jardim (PPS-SP) resolveu demitir a sua antes que a imprensa descobrisse, mas não deu tempo.

Ambos são da oposição e vivem usando a tribuna da Câmara para fazer denúncias de corrupção contra o governo. A única diferença é que Fraga era o líder da “bancada da bala”, que defendeu o comércio de armas no plebiscito, e Jardim, o pacífico honesto, promoveu no dia 3 de março o lançamento da Frente Parlamentar Anticorrupção no seu apartamento em Brasília.

O detalhe que revela a hipocrisia desta gente é que quem serviu o jantar aos 30 deputados catões no apartamento do parlamentar do PPS foi exatamente a empregada doméstica Maria Helena de Jesus. Ou melhor a secretária parlamentar dele, que há dois anos e meio é paga pela Câmara, e agora foi demitida.

O bom repórter Fábio Zanini, da Folha, conta os detalhes: “Para fazer serviços no apartamento de Jardim no bloco A da quadra 311 sul, ela recebe salário bruto de R$ 1.608,10. Dinheiro da Câmara. “Lavo, passo, cozinho”, disse à Folha.

O “grupo dos éticos” foi formado depois da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) à revista Veja em que ele denunciou haver corrupção generalizada em seu partido, no Congresso e no governo.

Como no caso de Fraga, pior do que valer-se de uma secretária parlamentar para cuidar do conforto do seu apartamento funcional foi a desculpa dada por Arnaldo Jardim, um fiel seguidor do ex-comunista Roberto Freire:

“Pensei que ela pudesse não só ajudar esporadicamente no gabinete, como também prestando serviço no apartamento. Quando eu soube que isso não era possível, eu a desliguei”.

Quanta pureza, quanta meiguice, quanta ingenuidade! Ele não sabia que não podia, coitado E prosseguiu:

“Do ponto de vista ético não vejo problema, mas do ponto de vista regimental, vejo. Entendi que o cargo poderia ser usado como apoio do mandato parlamentar”.

Como diria minha amiga Hebe Camargo, “ele não é uma gracinha?”.

E agora que ela foi demitida? Como fará o “grupo dos éticos” para ser servido em seus jantares? Vão todos ter que pagar do próprio bolso? É justo?

Com a palavra, sua excelência, o leitor.

Cristovam no Balaio

Às 15h39 de ontem, tive a honra de receber aqui no Balaio um comentário do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que critiquei na matéria “Que é isso, senador? Fechar o Congresso” por ter apresentado a proposta de um plebisicito para saber se o povo quer ou não o fechamento do Congresso Nacional.

Com a lhaneza de costume, meu velho amigo e ex-colega do governo Lula, escreveu:

“Kotscho,

que bom ver meu nome novamente aparecer em seu “Balaio”. E ainda fazendo uma crítica que adorei receber de muitos contra qualquer possibilidade de fechamento do Congresso. Nós, senadores, estávamos precisando disso. O que eu lamento é você dizer, falsamente, que defendo uma revolução na educação apenas para ter acesso á mídia. Educação nunca me deu mídia”.

Como um dos fundadores do “Todos Pela Educação”, um movimento que reune representantes dos três níveis de governo, e alguns dos maiores educadores e empresários do país, sou testemunha deste trabalho de toda uma vida de Cristovam Buarque nesta área vital para os destinos do país.

Cristovam dá números para mostrar que não seria preciso o orçamento dos Estados Unidos, como o presidente Lula comentou, para resolver os problemas da educação brasileira, mas bastaria destinar à área os que são empregados com outros fins.

De qualquer forma, se bem entendi, o senador gostou de ser criticado por muitos leitores que são contrários a qualquer possibilidade de fechamento no Congresso. Na verdade, a maioria dos comentários de leitores aqui publicados, quase 400 até este momento, foram favoráveis à proposta de Cristovam e contrários ao que escrevi no Balaio.

E é isto que me deixa mais preocupado: a cada dia aumenta o número de brasileiros injuriados com o que anda acontecendo no Congresso Nacional, que apóiam, sim, a proposta de Cristovam e defendeu o seu fechamento.

Os menos radicais propõem apenas o fechamento do Senado, mas a grande maioria quer diminuir o número de parlamentares, promover uma faxina geral, “um saneamento básico”, como um deles escreveu.

Outros não se contentam apenas em defender o fechamento das duas Casas, mas a punição dos seus ocupantes. “Fechar e concretar (o Congresso) é a melhor solução”, escreveu Juca Pirama, às 10h41 de hoje.

O leitor Cícero FK, das 16H19 de ontem, dá uma idéia do que se passa na cabeça do eleitorado neste momento: “O ideal é fechar Brasília, do Congresso aos botequins”. Na mesma linha, tem até quem proponha o fechamento dos três poderes e da imprensa.

Ao final da leitura deste mar de comentários, me deu a certeza de que a atual safra de parlamentares conseguiu o que nem os militares haviam ousado: desmoralizar por completo o Congresso Nacional.


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