A Gang de Sofia

Reprodução.

Cinco adolescentes obcecados pelo glamour de Hollywood se divertem ao invadir casas de celebridades para roubar suas roupas, joias e sapatos. E até passar um tempo em suas boates particulares. Esse é o mote do novo filme da diretora americana Sophia Coppola, que estreia este fim de semana no Brasil. Bling Ring – A Gangue de Hollywood não é tão lento quanto os outros filmes da premiada diretora de Virgens Suicidas, Encontros e Desencontros, Maria Antonieta e Um Lugar Qualquer. Desta vez, a história tem ritmo frenético, como pede a trama. Somam-se a isso a determinação e o desejo que movem os personagens, jovens tão comuns no dia a dia, que parecem não se preocupar com as conseqüências de seus atos.

Sofia Coppola decidiu contar a história da gangue depois de ler o artigo da jornalista Nancy Jo Sales, da revista Vanity Fair, com o título “Os suspeitos usavam Louboutin” – uma referência à famosa grife de sapatos francesa. De fato, o grupo não tem nenhuma das características de organizações criminosas comuns. Pelo contrário, os adolescentes frequentam clubes famosos, conhecem pessoas influentes e vestem marcas de luxo. Todos têm famílias que, como sempre acontecem nessas histórias, não sabem o que está acontecendo com seus filhos. 

Assista ao trailer:

A produção traz grandes atores jovens no elenco. A começar por Emma Watson, conhecida por ter interpretado Hermione Granger na saga Harry Potter, mas que, desta vez, passa longe da bruxa estudiosa e comportada. Ela interpreta Nicki, uma garota ambiciosa e ousada que sonha se tornar atriz. Para a diretora, era extremamente difícil imaginar a jovem atriz inglesa neste papel, mas Emma trabalhou em seu sotaque californiano, vestiu uma minissaia, ganhou uma tatuagem no quadril e se tornou Nicki. Sua irmã adotiva, Sam, é interpretada por Taissa Farmiga, destaque da primeira temporada do seriado American Horror Story. As duas são mais do que irmãs, são cúmplices em festas e nos planos para se tornar famosas.

 A terceira integrante da família é Emily, de 13 anos de idade, que começa como uma boa menina, próxima da mãe e termina se envolvendo nos roubos apenas por querer se encaixar. Leslie Mann, mais conhecida por seus papéis em comédias como O Virgem de 40 anos, faz a mãe das meninas. Uma ex-modelo da revista Playboy que segue a religião criada pelo livro O Segredo e, segundo a atriz, não possui grandes habilidades maternas. O papel da líder do grupo ficou a cargo da novata Katie Chang que interpreta Rebecca, uma menina “fascinada pelo estilo de vida que todos querem ter”, como coloca um dos personagens. Ela é sorrateira e determinada, rouba o que puder carregar e não é leal a ninguém.

 A última integrante do grupo é interpretada por alguém que sabe o que é crescer sob os holofotes de Hollywood: Claire Julien, filha do cineasta vencedor do Oscar Wally Pfister. A jovem atriz conta que se sentiu muito parecida com Chloe, elas têm o mesmo senso de humor, usam um linguajar parecido e gostam das mesmas músicas. Claire ficou responsável por apresentar Los Angeles ao resto do elenco, e mostra aos colegas todos os bons restaurantes, lugares para se divertir e, claro, as gírias mais usadas.

 O filme conta também com uma participação especial de uma das verdadeiras vítimas do grupo Bling Ring, a atriz Paris Hilton, famosa por fazer comédias picantes e por protagonizar um filme pornô não autorizado. A socialite também abriu sua casa e seu armário para as filmagens. Na história, o grupo entra oito vezes na mansão com uma chave encontrada debaixo do tapete. Paris conta que ficou muito empolgada em colaborar com o projeto. “Eu realmente estava nas boates com essas garotas que estavam usando vestidos roubados do meu armário na minha frente e eu não tinha ideia”.  As filmagens se misturam com imagens de arquivo de noticiários da época anunciando os roubos, entrevistas com celebridades no tapete vermelho e postagens no Facebook.

Reprodução.

Bling Ring – A Gangue de Hollywood é uma crítica explícita e contundente à cultura de reality shows instalada nos Estados Unidos. Sophia chama atenção para a obsessão dos jovens diante de todo o glamour e diversão da vida Hollywoodiana, do culto às celebridades. Uma leitura, aliás, facilmente identificável com qualquer sociedade ou cultura ocidental, como o Brasil. Menos introspectiva, menos reflexiva, menos cabeça, a diretora parece mais madura e direta do que em seus filmes anteriores, sem desmerecê-los ou tirar todos os méritos que fizeram dela uma das diretoras mais autorais e interessantes da indústria do cinema americano. E assim continua a ser, com seu novo longa-metragem.  

Reprodução.

Livros dos filmes

O artigo de Nancy Jo Sales que inspirou a diretora Sophia Coppola acabou por virar livro antes do filme sair. A obra chega ao Brasil com o filme e o mesmo título – Bling Ring: A Gangue de Hollywood. A jornalista entrevistou todos os envolvidos no texto original e outros citados, inclusive os pais e advogados dos jovens, e até mesmo as celebridades que sofreram os assaltos para contar em detalhes as ações da gangue. Durante a preparação do roteiro do filme Nancy Jo deu as transcrições das entrevistas para Sophia, que ficou chocada com o que eles haviam dito e com o que revelavam. O livro é uma publicação da editora Intrínseca.

 Enquanto isso, o primeiro filme de Sophia, o melancólico Virgens Suicidas, também se baseou em um livro que ganha nova edição brasileira, pela Companhia das Letras, depois de sair com os selos da Rocco (1997) e da L&PM (2008). O romance homônimo de Jeffrey Eugenides se passa num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, quando cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas. Esta fábula da inocência perdida é uma pequena obra-prima da literatura contemporânea, feita por um grande escritor.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.