Solidariedade, enchentes e furacões

Não é nada fácil imaginar pelo que passaram as vítimas das enchentes em Santa Catarina. É algo como acordar pela manhã em casa, tomar um banho, escolher a roupa no armário, sentar à mesa da cozinha, tomar um café com leite e pão com manteiga e sair para trabalhar. Na volta, nem armário, nem mesa, nem cozinha e muito menos a casa. Somente lama. Como num pesadelo. E foi mais ou menos isso o que aconteceu em Blumenau, Itajaí e em vários outros municípios. De uma hora para outra cerca de 70 mil moradores da região deixaram de ter endereço. Perderam tudo. Sofá, televisão, calça, camisa, sapato, escova de dente, fotos de família, livros, tudo. Em muitos casos, também parentes. Gente preciosa. Gente querida. Foram quase 150 os mortos e desaparecidos. E essa tragédia não poupou nem ricos nem pobres. Nem barracos nem mansões.

Em seu relatório divulgado em 2007, a empresa de pesquisa Latinobarómetro, uma ong chilena, destaca o caráter pouco solidário do brasileiro se confrontado com outros povos latinos. No estudo realizado em 18 países nós ficamos na 11ª colocação. Bem abaixo da média. Venezuelanos e porto-riquenhos são os mais solidários. Chilenos, equatorianos e paraguaios, os menos. Sobre o mesmo tema – o caráter do brasileiro – Nelson Rodrigues já disse que aqui “quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte. O Otto Lara (Resende) está certo. O mineiro só é solidário no câncer”. Apesar de não concordar – ou de teimar em não querer concordar – podemos acrescentar que brasileiro também é solidário na enchente.

Contestando, na prática, o instituto chileno e Nelson Rodrigues, o que se viu aqui durante a tragédia de Santa Catarina foi uma tocante demonstração de solidariedade. Mesmo a mídia teve um papel muito além de seu costumeiro sensacionalismo e ocupou um espaço de serviço solidário fundamental em momentos de emergência. E isso ajudou muito no auxílio às vítimas das enchentes de Santa Catarina. Na canalização de dinheiro e no envio de mantimentos. Bem diferente do que aconteceu em New Orleans, nos Estados Unidos quando, em situação semelhante, durante as enchentes ocasionadas pelo furacão Katrina, a população foi abandonada aos seus próprios azares. E a combalida imagem do presidente Bush sofreu mais um impacto. Enchentes e furacões também revelam o caráter de governantes

Portanto, há coerência no último relatório do instituto chileno – divulgado em novembro de 2008 -, que coloca o presidente Lula como o líder mais bem avaliado. Dos 16, Bush é o 15º. Apesar da pífia repercussão do relatório na imprensa brasileira, segundo o Latinobarómetro “neste ano pela primeira vez um governante da América Latina supera a avaliação obtida pelo rei Juan Carlos da Espanha que, por três anos consecutivos, ocupou o primeiro lugar”.

Também o Datafolha divulgou pesquisa no dia 5 de dezembro onde Lula bateu novo recorde de aprovação: 70% de ótimo e bom.


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