Somos tão jovens

Há exatos dez anos, em 2001, o publicitário Nando Olival estreava como diretor com Domésticas, O Filme, parceria com Fernando Meirelles. Agora, ele faz seu primeiro trabalho solo, Os Três, a história de três jovens estudantes vindos para São Paulo fazer faculdade de Comunicação que, numa festa de confraternização de calouros, se conhecem e decidem morar juntos. Essa experiência irá transformar a vida dos três durante aqueles quatro anos de convivência. Em conversa com a Brasileiros, o diretor, geralmente tímido, estava falante e feliz com a boa recepção de seu filme no Festival. Confira os melhores trechos da entrevista abaixo.

Brasileiros – A história do filme Os Três saiu da forma que você pensou no roteiro? Pergunto isso porque sei que você é muito preciso na hora de filmar.
Nando Olival – Acho que pelas condições que decidi fazer o filme, da necessidade de fazê-lo muito rápido – não só na roteirização, como na produção, nas filmagens e na montagem -, eu não tinha muito como vacilar na hora. Quando cheguei ao set para começar as filmagens, tinha três semanas e meia para fazer o filme. A história não mudou em nada, mas o que mudou nesse filme, que já era uma das intenções iniciais do projeto, foi seu espírito. Inicialmente, o filme era mais alegre, talvez um pouco menos melancólico, como acabou ficando. Aquele espírito foi me tomando um pouco durante as filmagens por uma série de razões. Quando me envolvi com aqueles jovens (os três atores principais Juliana Schalch, Gabriel Godoy e Victor Mendes), me lembrei um pouco da minha juventude, dessa coisa da exposição, desse sentimento sempre meio controverso. O filme nesse aspecto mudou muito do que eu tinha imaginado inicialmente.

Brasileiros – Esse é o primeiro filme que dirige sozinho, já que Domésticas, O Filme, foi co-dirigido com Fernando Meirelles. Qual a importância dessa primeira experiência para esse filme de agora?
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N.O – Uma barbaridade. Na verdade não só Domésticas, O Filme, mas as outras coisas que fiz com Fernando, alguns curtas, publicidade, projetos especiais e uma série de outros projetos que não foram adiante. Toda vez que me junto com Fernando, a minha experiência pessoal vai às alturas (risos). Além de ser um grande amigo, ele é um cara que me acrescenta muito. Toda vez que estou a seu lado roubo alguma coisa dele (risos).

Brasileiros – O que particularmente você aprendeu com ele?
N.O – É não se amarrar muito, sabe? Ele sempre me dizia: “Olha, filmagem é isso aqui, não existe atuação perfeita, plano perfeito. Você tem de saber se adequar a uma série de coisas em vez de ficar tentando esmurrar pedra. Nas filmagens, não podemos ser absolutamente autoral. Não temos muito tempo a perder com indecisões ou com teimosias”. Levo esses ensinamentos sempre comigo.

Brasileiros – Isso tem a ver com a sua profissão de publicitário, porque vocês trabalham com a questão da praticidade, de ser funcional, de ser eficiente, etc. Você acha que carrega isso para o set de filmagens?
N.O – Com certeza. A gente carrega um pouco da prática. Essa maneira de enfrentar o set na publicidade nos ajuda quando vamos fazer um filme.

Brasileiros – Por que ainda existe certo preconceito com diretores oriundos da publicidade, lembrando que esse preconceito já foi ainda maior no passado?
N.O – Acho que existia mais, certamente. Mas essa resistência acontece principalmente porque antigamente as coisas eram muito segmentadas. Exista, por exemplo, o cara que fazia coisas para televisão, outro que fazia para o cinema e outro para a publicidade. Hoje em dia, todo mundo trabalha meio misturado. Quem dirige um filme, dirige um comercial ou faz coisa para televisão. Antigamente era segmentado. Eu particularmente não vejo problema algum em fazer coisas para publicidade, minha área de atuação profissional, ou para o cinema ou para a televisão. Temos de atentar para se é um filme bom ou ruim.

Brasileiros – Você, por sinal, nem é formado em publicidade e sim em cinema pela FAAP…
N.O – Me formei em Cinema pela FAAP em São Paulo. Já fiz curtas e um longa, mas ganhei a vida na publicidade. Não sei se eu filmaria diferente se não tivesse ido para a publicidade.

Brasileiros – O primeiro título do filme era Ela, ele, eu. Por que a mudança do título e por que demorou para o filme ficar pronto (a reportagem da Brasileiros acompanhou um dia de filmagens, que resultou em matéria para edição 28 de novembro de 2009 – clique aqui para ler)?
N.O – Na verdade, o título era Nós Três, foi registrado na Agência Nacional de Cinema do Ministério da Cultura, MinC (ANCINE) como Nós Três. Dois ou três dias antes de começarmos a rodar o filme, foi lançado um programa no canal Multishow que era sobre três meninas. Não sabia se o programa era bom ou ruim, mas achei por bem trocar o título para que não houvesse confusão. Mudamos para Ela, ele, eu. Mas tinha gente que gostava do título e tinha gente que não gostava, pois achava que era parecido com o título do filme do Andrucha Waddington Eu, Tu, Eles, o que era verdade. Quando chegamos mais próximos de finalizar o filme, deveríamos ter um título definitivo e como a série Nós Três tinha entrado para sua segunda temporada, decidimos mudar para Os Três.

Brasileiros – Ou seja, suprimiram a letra “n”…
N.O – (risos) Suprimimos a letra “n”, e mantive o negócio da relação dos três personagens principais. Sobre a questão da demora para lançá-lo no cinema, o que deve provavelmente acontecer em 4 de novembro desde ano, foi porque eu não tinha ainda captado todo o dinheiro do orçamento do filme e se eu fosse lançá-lo nos cinemas, não poderia mais captar o restante que ainda não tinha captado. Por isso, tive de esperar captar o restante e agora vou poder lançá-lo finalmente nos cinemas.

Brasileiros – Quanto foi o orçamento do filme?
N.O – O orçamento do filme é de dois milhões de reais.

Brasileiros – Por que essa opção em colocar dois rapazes e uma menina no lugar, por exemplo, de duas meninas e um rapaz?
N.O – Para mim, é mais fácil escrever dois personagens homens do que duas meninas. Escrever sobre personagens femininos não é nada fácil (risos).


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