Contar a história da imigração em São Paulo por meio de seus milhões de imigrantes, que entraram no País em mais de um século, é como costurar uma interminável colcha de retalhos. Mas é essa uma das principais iniciativas do Museu da Imigração, instalado em outro centro de referência da cidade, a Hospedaria do Brás, que reabre a partir deste mês de junho para o público, após o primeiro grande restauro desde sua construção, em 1888.
Marília Bonas, diretora executiva da instituição, explica que a proposta é tornar o museu um espaço de reflexão sobre a experiência do deslocamento e da formação da identidade paulista a partir de suas múltiplas origens. Até o ano de 1978, quando a hospedaria encerrou suas atividades, passaram por ali cerca de 2,5 milhões de pessoas de 70 nacionalidades – entre elas, os avós de Marília. “Eu cresci ouvindo sobre essas experiências. Por isso, acabo tendo dupla responsabilidade, profissional e pessoal, em relação à instituição.” Para Marília, a localização do museu entre os tradicionais Brás e Mooca facilita o debate sobre a memória da cidade, uma vez que comunidades italianas, portuguesas, lituânias, africanas e latino-americanas, entre tantas outras, têm se instalado no entorno desde a grande imigração, nos séculos 19 e 20, até fluxos contemporâneos.
Enquanto isso, um dos destaques da nova programação do local é a exposição Migrar: Experiências, Memórias e Identidades. De caráter panorâmico, a mostra apresenta oito módulos e uma linha condutora: colocar o expectador no papel do imigrante e no cotidiano da hospedaria. Por meio de documentos, fotos, vídeos, depoimentos e objetos, o visitante é levado a refletir sobre os processos migratórios e as histórias pessoais de quem buscou no Brasil novos caminhos ou o recomeçar de suas vidas. “A exposição foi um grande desafio. Mas um dos principais desejos do museu é que as pessoas possam fazer uma espécie de imersão nesta experiência”, explica a diretora.
No primeiro módulo da mostra, uma instalação concebida pelo artista contemporâneo brasileiro Nuno Ramos faz referência ao livro Se Isto É um Homem, do italiano Primo Levi, uma descrição dos horrores do cotidiano em um campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ao trazer uma caçamba tombada com quase 30 mil tijolos marcados com palavras em idiomas distintos, Ramos quis ressignificar a relação estabelecida entre o homem, o trabalho e a diversidade de línguas. Em outro momento da criação do artista, um único tijolo, posto sobre uma cadeira, dialoga com gravações de áudio que emitem o mesmo trecho do livro de Levi. Outra sala recria o passado da hospedaria ao reproduzir um amplo dormitório com projeções em grande escala de trechos de cartas e trilha sonora composta especialmente para a obra.
Além do rico acervo sobre a imigração em São Paulo, a exposição chama a atenção para os fluxos migratórios contemporâneos, reiterando que o fenômeno é permanente. No bloco Imigração Hoje, um painel interativo forma um mosaico com rostos de diversas origens, reproduzindo depoimentos de pessoas que passaram pela experiência de deslocamento ainda recentemente. No último módulo do percurso, encontra-se ainda um espaço educativo destinado a acolher grupos e promover atividades, oficinas e discussões.
A exposição Migrar: Experiências, Memórias e Identidades tem previsão para durar alguns meses – o encerramento ainda não foi definido – e em junho e julho terá entrada gratuita. Já os passeios de fim de semana realizados com a Maria Fumaça – do museu à Rua da Mooca – permanecem com saídas regulares, porém pagas.
Serviço – Museu da Imigração
Rua Visconde de Parnaíba, 1316, Mooca, São Paulo.
De terça a sábado, das 9h às 17h, domingos, das 10h às 17h.
Entrada franca; www.museudaimigração.org.br
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