Foto: João Caldas |
TERAPEUTAS: Soraya, Juçara, Doró e Duda (da esquerda para a direita) |
Muitos textos já foram escritos e encenados sobre o desejo de deixar a terra natal para morar na cidade dos sonhos e mudar de vida. Parece que boa parte da população do mundo alimenta essa fantasia de que a felicidade mora além do horizonte. Esquecemos que quando partimos, nos levamos junto. Trieiros, de Doró Cross Silva e Regina Galdino, fala disso e de muito mais por meio dos depoimentos coletados no interior de Goiás e na periferia de São Paulo. Três mulheres muito simples, com histórias parecidas e sonhos distintos, tecem suas narrativas e, acompanhadas de uma sanfona, nos levam a costurar as nossas próprias vidas, bordá-las e por vezes remendá-las.
Navegando entre o drama e a comédia, questões sobre o medo do desconhecido, a vontade de experimentar o novo, o conforto da vida entre os “nossos” são os temas propostos pelo texto. A platéia envolvida com essas personagens tão doces e frágeis acaba participando, contando suas próprias experiências e enriquecendo o próprio texto que funciona como uma trilha aberta para as emoções mais puras. Vale tudo. Confissões, receitas de comida, aspirações. Acompanhadas pela sanfoneira Duda Maya, as atrizes Doró Cross Silva, Juçara Morais e Soraya Saide – que sempre surpreende com a sua compreensão cênica – ficam à vontade para dançar, cantar e transitar com sabedoria entre os papéis propostos pelo texto e a função de pesquisadoras da alma humana.
A direção de Regina Galdino mais uma vez opta pelo respeito à delicadeza do texto e do tema, e acerta. Como numa boa quadrilha, as cenas se desenrolam numa seqüência que todos conhecem muito bem e, mesmo na hora da chuva ou de enfrentar a cobra, todos reagem naturalmente e sobrevivem. Quando o coração da platéia começa a ficar muito sobrecarregado, as personagens/atrizes servem doce de leite caseiro para acalmar os ânimos. Todos respiram aliviados e tudo acaba bem.
Deixe um comentário