Um espesso cardume de sardinhas nada em espiral. Aos poucos, o grupo se desmancha e os pequenos peixes cedem espaço para um imenso tubarão-baleia. Ao todo, são sete minutos de animação. Apesar das imagens e do ruído de fundo do mar, o espectador está deitado sobre um colchão d’água, no escuro, com os olhos voltados para o teto revestido por um gigantesco telão. A instalação – cujo objetivo é mostrar o caminho que uma moeda de 1 real pode percorrer ao ser arremessada no mar – faz parte da exposição Água na Oca, que ficará até 8 de maio na Oca, Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Com obras de arte que utilizam conceitos da física e da química, como as esculturas de água de William Pye e a fonte de Laura Vinci; atividades interativas, como a curiosa balança que revela que ervilhas contêm mais água que uma criança; e objetos que mostram a relação de nossos ancestrais com a água, como moringas e remos indígenas, além de uma canoa de mais de cem anos; a mostra literalmente mergulha no assunto. “A ideia não é alarmar, mas sim conscientizar para que o visitante se posicione. Tanto que, quando você percorre a exposição, vai notar que sempre mostramos os dois lados das coisas”, afirma o biólogo e curador científico da mostra, Mário Domingos. Isso ocorre principalmente na abordagem de questões polêmicas, como a transposição do Rio São Francisco e os caminhos e custos das hidrelétricas. “Como sou professor, vejo tudo como instrumento para estimular o aprendizado. Acho muito estimulantes, por exemplo, as obras de arte, pois ao mesmo tempo que enchem os olhos, trazem uma série de conceitos científicos.”
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A mostra é uma realização do Instituto Sangari, que já promoveu as exposições Darwin, Revolução Genômica e Einstein com sucesso (juntas, receberam quase um milhão de pessoas), em parceria com o Museu de História Natural de Nova York. Sediado em São Paulo, o Sangari cria, desenvolve e implementa metodologia e materiais educacionais, para o ensino de Ciências no Ensino Fundamental, hoje utilizados no aprendizado de mais de 700 mil crianças e adolescentes no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos.
De acordo com Domingos – que trabalha para o Instituto -, o tema água foi inspirado em uma exposição que já existia no museu americano, mas ressalta sua importância. “É uma questão de sobrevivência. Acredito que sua gestão inteligente começa em um uso sem desperdícios. Estima-se que mais de 40% da água tratada é perdida até chegar à nossa casa. E isso implica manutenção, infraestrutura”, diz. Na exposição da Oca, são utilizados 15 mil litros de água, entre aquários, obras de arte e atividades interativas. “É uma relação de custo e benefício.”
O biólogo não acredita em previsões apocalípticas em relação ao futuro da água – como sua escassez -, nem a vê como protagonista de guerras. Mesmo porque acredita que conflitos já existem. “Poluímos o rio Tietê, em São Paulo, e isso vai para uma cidade lá embaixo que está recebendo água suja. Acha que eles gostam? Isso já é um conflito”, diz. “O Brasil tem boa parte do Aquífero Guarani, mas tem de lidar com países vizinhos, porque eles também o abrigam. Isso é uma forma de conflito. Só não temos confrontos bélicos”, completa.
Para ele, “o apocalíptico” está no uso da água. “Não adianta ter riqueza hídrica se você contamina esse recurso.” As maiores fontes de água doce do Brasil estão onde se concentra o menor índice populacional, que é a região Norte. “A grande maioria dos brasileiros vive no Sudeste, onde os mananciais estão esgotados. Para trazer a água do Norte, o custo seria altíssimo. Só vai ter água limpa quem tiver dinheiro.” Diferentemente de outros produtos, a água tem um valor inestimável. “Hoje pagamos R$ 3 em 500 ml de água e R$ 2,50 em média por 1 litro de gasolina. A grande questão é que para a água não há alternativa.”
A exposição Água na Oca já foi visitada por mais de 60 mil pessoas. Depois de maio, deve seguir para o Rio de Janeiro e Vitória.
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