Sucesso, Improvável

Desde o início do ano, o Teatro da Universidade Católica (Tuca), da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, tem sido uma espécie de centro da improvisação. Um dos principais teatros paulistanos recebeu, entre os meses de fevereiro e abril, três espetáculos do gênero: Jogando no Quintal, Caleidoscópio e Improvável. Algo raríssimo no Brasil. De maio a julho, porém, só restará um representante: Improvável. Se depender da bilheteria, o trio da Companhia dos Barbixas não vai decepcionar a categoria. O teatro tem recebido sua capacidade máxima (672 pessoas) todas as quintas, dia de apresentação, desde que entrou em cartaz. É por isso que se você começou a ler essa reportagem e já ficou interessado, é bom correr pra comprar seu ingresso. De tão concorrido, o Improvável só tem bilhetes para daqui a um mês, em média. Não adianta aparecer qualquer quinta e achar que vai ter sorte.

E nem vem reclamar comigo. Todo esse frenesi é culpa do Youtube. Foi lá que Anderson Bizzocchi, Daniel Nascimento e Elídio Sanna decidiram disponibilizar sua primeira experiência com improvisação, fim de 2007, no Teatro Jardim São Paulo. “Colocamos lá como uma forma de divulgação, para quando fôssemos oferecer o espetáculo a algum teatro, em vez de mandar um DVD. Aí um dia nosso vídeo estava entre os destaques do site e, nossa, não parou mais. As pessoas começaram a querer saber onde é que estava em cartaz e foi quando pensamos ‘É, temos que colocar em cartaz’”, explicou Anderson.

O FINGIDOR: UM BELO INTRUSO
O autor deste artigo e Eduardo Semerjian, um dos atores da peça O Fingidor, tiveram uma pequena discussão via internet – das mais saudáveis. Tudo já mais do que contornado e entendido por ambas as partes. Culpa de uma mísera palavrinha: “intruso”. Foi o que usei para me referir à obra de Samir Yazbek, pois eles estragariam a festa quando entrassem em cartaz (abril), acabando com a soberania dos três espetáculos de improvisação presentes naquele momento no Tuca (Jogando no Quintal, Caleidoscópioe Improvável).
Não retiro o que escrevi porque sou teimoso. Está lá no artigo do site da Brasileiros, como redigi originalmente, e toda a celeuma no blog (www.oquesobroudofrila.wordpress.com). Admito, porém, que se mantida a palavra “intruso”, diria melhor: “um belo intruso”.
[nggallery id=15452]A convite de Eduardo assisti à peça. É sensacional. Fernando Pessoa vai trabalhar como datilógrafo de um crítico literário que prepara uma palestra sobre… sim, Fernando Pessoa! Claro que, naqueles tempos sem Google, celular, TV, um não conhecia a cara do outro. E é aí que o poeta aproveita para, já no fim da vida, criar mais um heterônimo e interpretá-lo diante do estudioso – e seu fã. Não vou contar o que acontece, claro, porque aí perde toda a graça.
Mas preciso dizer que sim, vale a pena ir. O diretor da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, assim como em O Invisível, conseguiu me incomodar. Saí do teatro conjecturando com os meus botões, inclusive sobre o papel do jornalista, do cidadão que se reveste de um manto de analista e fecha
os olhos.
Acredito piamente ainda que a molecada presente na apresentação, alunos do Colégio São Luís e da Escola da Vila, se não teve boas reflexões para levar de lição de casa, alguma coisa aprendeu. Seja sobre Fernando Pessoa e seus três heterônimos mais famosos (Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro – é impressionante como são justamente a imagem que tinha deles na cabeça!) ou sobre interpretação, já que foram com seu professor de teatro provavelmente com tal intuito. E duvido que alguém não tenha gostado de Helio Cicero no papel do poeta, com sua expressão corporal genial e as tiradas divertidas – para não me alongar nos elogios. Não é à toa que a peça comemora dez anos e tem prêmios a rodo.
Não sei mais quais adjetivos enumerar para encerrar o comentário sobre a peça. Porque seriam muitos e pareceria gratuito. Portanto, todos que você pensar depois de assistir, serão mais do que dignos de O Fingidor– tenho certeza absoluta. Assim, só me resta repetir o que disse ao Eduardo após a apresentação: obrigado, de coração.

Era o sinal de que poderiam deixar um pouco de lado os esquetes cômicos que vinham fazendo desde 2004, quando formaram o grupo, para, enfim, atender aos seus desejos mais íntimos. Os três sempre quiseram transpor para o teatro o Whose Line Is It Anyway. O programa de TV, exibido no Brasil pelo canal a cabo Sony, é uma série de jogos entre improvisadores, mediados por um mestre-de-cerimônias, que, não raro, acabam gerando gargalhadas. “Muita gente acha que é combinado, vem falando: ‘Ah, não pode ser, vocês sabem o que vai acontecer, tem gente plantada na plateia’, essas coisas, tem milhões de teorias. É gostoso saber que as pessoas acham tão bom que aquilo só poder ser combinado”, contou Anderson.

Não foi à toa que o Tuca recebeu o trio e seus convidados (gente como Marco Luque, Rafinha Bastos, Márcio Ballas e Marco Gonçalves). A direção do espaço está mirando a plateia jovem. “Grande parte do público do Improvável não é um público de teatro. Na estreia, os meninos perguntaram quem já tinha vindo ao teatro e eram poucas pessoas. E esse pessoal veio aqui porque era onde estavam os Barbixas. Se o grupo estivesse se apresentando num estádio, iriam ao estádio”, brincou a superintendente Ana Salles Mariano.

Por isso, sem resistir à brincadeira, eu vos digo: é improvável que vocês não tenham ficado no mínimo curiosos para ver uma amostra do espetáculo. Além de ir ao Tuca, indico os vídeos no site do grupo (www.barbixas.com.br – um novo por semana) e o programa que fazem na MTV (Quinta Categoria), também quinta-feira, às 22h30. Não tem desculpa pra não (r)ir.


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