Surfe, cinema e leões de prata

Fã do Corinthians, de surfe e de Bukowski, Paulo Gandra trocou, aos 17 anos, a guitarra por uma filmadora. Em seguida, trocou São Paulo por Londres, onde começou, despretensiosamente, sua promissora carreira como diretor de filmes. Lá, Paulo Gandra deu início a uma produção independente. Seu primeiro foco foi a vida dos britânicos.

De volta ao Brasil, estudou na FAAP e logo foi contratado pela AlmapBBDO, uma das maiores agências de publicidade no País. Estreou como diretor um ano depois, quando se tornou sócio da Gandaia Filmes. Também foi diretor nas produtoras Cinemacentro e Dínamo, todas em São Paulo. Até aí tinha apenas 25 anos e já um Leão de Prata no currículo. O prêmio foi resultado de um filme institucional para a Casa do Zezinho, premiado em Cannes e no Festival de Publicidade El Ojo de Iberoamérica.

Mas seu maior trabalho ainda estava por vir. Ele foi o primeiro brasileiro a filmar uma campanha global da Nike, pela Hungry Man, onde trabalhava desde 2009. Aos 28 anos, era o diretor mais jovem da produtora. Na bagagem, já acumulava três Leões de Prata e um Leão de Bronze no Festival de Cannes; duas pratas no London International Award; três ouros e mais sete prêmios no El Ojo; prata no Festival de NY; ouro no ABP Profissionais do Ano; prata no Clio Awards; Prêmio de Excelência no Communication Arts 2010; ouro no Young Guns e Prêmio Jovem Brasileiro 2010, categoria publicidade.

E a vida dele não era só trabalho. Gostava de ir à praia aos finais de semana com a mulher e o filho, de pegar um cineminha, de frequentar exposições de arte. Um de seus sonhos era fazer um longa antes dos 30 anos, o que seria totalmente plausível.

Filho da publicitária Rita Almeida, sócia da COR Estratégias de Inovação, e do jornalista José Ruy Gandra, da Gandra Editorial, Paulo tinha voltado a Londres, onde tudo começou, para filmar uma campanha publicitária – mais precisamente o lançamento global de um novo produto da maior empresa de videogames do mundo. E assim, ele se foi. Paulo Gandra morreu, aos 28 anos, no dia 28 de janeiro em Londres. Teve uma isquemia cardíaca enquanto dormia.

O DIRETOR E A BRASILEIROS

Paulo Gandra foi convidado pela Brasileiros para participar da seção Você acredita no Brasil?, que ilustra a última página em todas as nossas edições. O texto foi escrito em 20 de janeiro de 2012, uma semana antes de sua morte

É difícil não acreditar no Brasil nesta época em que estamos. Todo o mundo está olhando para cá com muito interesse em saber mais a respeito de todos nossos talentos, do nosso potencial. Por conta das conquistas em sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, todo o potencial de mercado internacional se abriu e a procura de talentos brasileiros começou a aparecer cada vez mais, principalmente na minha profissão. Vivemos uma fase extremamente próspera em nossa economia, a ponto de termos até passado os nobres britânicos, passando a ocupar o sexto lugar na economia mundial. Mas, apesar de todo o otimismo originado desta época de ‘vacas gordas’, eu tenho a plena certeza de que para este País melhorar é fundamental uma reforma em nosso sistema de educação e uma limpeza total em nossa política, que brinca com o povo. É muito fácil falar que acredito no Brasil no lugar que eu nasci e com a família que tenho, mas sei a realidade da nossa população e, por isso, acho que devemos ser sensatos e saber da grande quantidade de problemas que o País ainda tem! Brasileiros não desistem nunca. Eu acredito em nosso País, mas o desafio pela frente é demorado.”


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