Temporada de grandes nomes

Casos de família
A brilhante carreira de Roman Polanski só conseguiu ser ofuscada por sua tumultuada vida privada. Na década de 1960, ele dirigiu o marco do terror O Bebê de Rosemary (1968) e protagonizou uma história macabra fora das telas: grávida de 8 meses, sua mulher Sharon Tate foi assassinada num sinistro ritual até hoje mal explicado. Celebrado e odiado, o premiado cineasta volta aos cinemas com Deus da Carnificina, baseado em peça homônima escrita por Yasmina Reza, também colaboradora no roteiro.

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Após uma briga entre dois garotos, que termina com um deles gravemente ferido, os pais – Kate Winslet, Christopher Waltz, Jodie Foster e John C. Reilly – decidem se encontrar para resolver a situação. A reunião acontece em um apartamento no Brooklin. A polida conversa, aos poucos, desmancha-se numa acalorada discussão: mero pretexto para que o diretor se utilize do delicioso texto de Yasmina para destilar comentários corrosivos e mordazes sobre tema diversos. Do bullying ao conflito de gêneros, do racismo à beneficência, mas, sobretudo, a valores caros aos EUA – país, aliás, no qual o cineasta está impedido de entrar, acusado de ter mantido relações com menores.

Como em adaptações anteriores, Polanski tenta conservar a referência às raízes teatrais do texto. Despretensioso e certeiro, Deus da Carnificina é uma coleção de metáforas e ironias, uma prova de que Roman Polanski está acima das polêmicas em que se envolve. Sem dúvida, ainda um cineasta com muito a dizer.

O crepúsculo de Tim Burton
Baseado em série homônima exibida nos Estados Unidos entre 1966 e 1971, o filme Sombras da Noite é a mais nova colaboração do diretor Tim Burton com Johnny Depp, que interpreta o vampiro Barnabas Collins, morto no século 18 e ressuscitado nos efervescentes anos 1970. Outrora milionária, agora sua estranha família encontra-se em franca decadência e, de volta à vida, ele deve reerguer o clã, enquanto tenta se livrar da maldição que matou seus pais e o amor de sua vida.

Verdadeira aula de recriação de época, emoldurada por uma inspirada trilha sonora, o filme patina entre o terror inofensivo e a comédia rascante. Mesmo com toda essa indecisão, a fita diverte bem a plateia.

Dramalhão
O chinês Flores do Oriente excursionou por festivais ao redor do mundo no ano passado e chegou a concorrer ao Globo de Ouro de Melhor Filme. Como outros títulos, foi ofuscado pelo extraordinário A Separação. A nova empreitada de Yimou Zhang, um dos expoentes do atual cinema chinês, parece sintetizar a estética de trabalhos anteriores, como A Árvore do Amor (2010) e O Clã das Adagas Voadoras (2004): é a soma de brutais cenas de guerra – raramente executadas com tamanho realismo – e uma tocante história inspirada em fatos reais.

Em 1937, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, uma igreja católica no coração de Nanquim torna-se o refúgio de um grupo de noviças, um americano beberrão e uma caravana de prostitutas. A turma improvável é, então, obrigada a aceitar suas diferenças para sobreviver aos horrores da guerra. O diretor preferiu explorar os estereótipos – pior para os japoneses, retratados como pessoas capazes das piores atrocidades.

Novelesca, o filme tem quase três horas de duração e o ponto alto acontece quando as noviças são convocadas para cantar diante dos inimigos. Mas, temendo pelo destino das moças, o grupo de prostitutas decide ir em seu lugar. Dá para imaginar, não?

E.T. balzaquiano
Lançado em 1979, Alien – O 8o Passageiro não só se firmou como um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos, mas também figura entre os mais assustadores. Os episódios que se seguiram, contudo, não mantiveram o vigor original. Mais de 30 anos depois, o diretor Ridley Scott promete injetar fôlego novo na sua obra com Prometheus.

Uma das mais aguardadas estreias do ano, o filme se passa antes do longa inicial e, além de contar a origem dos alienígenas que infernizaram Ripley (Sigourney Weaver), vai teorizar sobre a origem da espécie humana.

O elenco é engrossado por Michael Fassbender, Naomi Rapace e Charlize Theron, dando importância maior ao projeto de Scott. O diretor é cogitado para dirigir a continuação de outro clássico da ficção científica também de seu currículo: Blade Runner (1982) deve ganhar uma sequência no ano que vem.

Estrada para Cannes
Outro lançamento aguardado para este mês, a adaptação de Walter Salles para o cultuado On the Road, livro de Jack Kerouac (1922-1969), teve a estreia adiada. O filme deve chegar em julho, após ser exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes. O elenco conta com Viggo Mortensen, Amy Adams e Kristen Stewart, mocinha da enjoada cinessérie Crepúsculo, que para tristeza dos fãs (e alegria dos pais) chega ao fim em novembro com Amanhecer – O Final.


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