Quarta-feira, 25 de março de 1964

João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata.
João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata.

A lembrança da Revolta da Chibata estava em alta entre os marinheiros. O motivo da revolta, ocorrida em 1910, era o castigo de 25 chibatas em marinheiros que cometessem falta grave. A maioria dos marujos era mulata ou negra, o movimento teve saldo sangrento, mas a chibata foi abolida e o líder da revolta virou lenda. Era o marinheiro João Cândido Felisberto, que ficou conhecido como Almirante Negro.

Na noite daquela quarta-feira, aos 83 anos, Almirante Negro figurava entre os convidados para comemorar os dois anos da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais. O clima, porém, não era de festa. A associação era considerada ilegal pela Marinha. A reunião tinha sido proibida. E parte da diretoria estava presa desde a véspera, devido a crítica feitas ao ministro da Marinha.

O marinheiro José Anselmo dos Santos, presidente da associação, leu no encontro um discurso escrito por Carlos Marighella, um dos líderes do Partido Comunista Brasileiro: “Quem, neste País, tenta subverter a ordem são os aliados das forças ocultas que levaram um presidente ao suicídio, outro à renúncia e tentaram impedir a posse de Jango e agora impedem a realização das reformas de base”.

Diante do Almirante Negro, que tinha acabado com a chibata em 1910, José Anselmo lembrou que o espírito de luta permanecia entre os marinheiros: “Nós extinguiremos a chibata moral, que é a negação do nosso direito de voto e de nossos direitos democráticos.” A reunião acabou se transformando em vigília quando chegou uma notícia de que mais prisões haviam sido decretadas pelo ministro da Marinha.

Enquanto os marinheiros faziam vigília na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, que havia emprestado o espaço para o encontro, a Marinha entrava em prontidão. Horas antes, na sede do governo, o cerimonial do presidente tinha encerrado o expediente com seis comícios fechados para a agenda do mês de abril. O sétimo aconteceria em São Paulo, no dia 1º de Maio, dia do Trabalho. Nas casas com aparelho de tevê, uma propaganda de refrigerante repetia um slogan difícil de esquecer.

Confira a propaganda do refrigerante Grapette:


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