Testemunha ocular da história

Considerado um marco no processo evolutivo do radiojornalismo mundial, O Repórter Esso estreou no Brasil há mais de 70 anos, em 28 de agosto de 1941, com transmissão da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Para registrar a data, a ediPUCRS (editora da PUC, do Rio Grande do Sul) – em coedição com a Editora Age – lançou o livro O Repórter Esso – A Síntese Radiofônica Mundial que Fez História, de Luciano Klockner, que relata os 27 anos em que o programa foi ao ar no País. Acompanhado de um CD de áudio com as principais edições do noticioso, a publicação faz uma análise do papel da mídia e sua influência política e social durante alguns dos momentos mais emblemáticos do Brasil no século 20.

Surgido nos Estados Unidos em 1935, o Esso foi criado pela Standard Oil, também conhecida como Esso ou Exxon, como misto de serviço de utilidade pública e instrumento de marketing, visando divulgar seus produtos e aproximar a empresa de seus consumidores. No Brasil, chegou a reboque como parte da “Política de Boa Vizinhança”, campanha encabeçada pelo governo americano para seduzir corações e mentes, pouco depois de sua entrada na Segunda Guerra Mundial.

O programa praticamente moldou o jornalismo radiofônico produzido no País a partir de então. Antes, a divulgação de notícias pelo rádio limitava-se à leitura de manchetes de jornais. A novidade ganhou reconhecimento imediato e, em pouco tempo, o programa passou a ser reproduzido quase em rede nacional.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra, o público ansiava por notícias que eram trazidas direto do front, poupando as pessoas da espera até o dia seguinte para ler os fatos nos jornais. Apesar do bordão “testemunha ocular da história”, poucas vezes o “repórter” esteve in loco – uma das raras exceções foi a transmissão ao vivo direto de Brasília no dia do lançamento do programa. Todo o conteúdo era fornecido por agências de notícias.
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Seja como for, a credibilidade do programa era imbatível. Entre as inovações, está o fato de ter sido o primeiro a editar um manual de redação.

Em 1957, a campanha massiva contra a estatização do petróleo brasileiro acabou por gerar uma investigação, que revelou um esquema de tráfico de influência envolvendo a Esso e a Shell, colocando em descrédito o noticiário. O evento marcou a fase de declínio do programa. Com a chegada da TV, o programa teve de se adaptar. Assim, foi parar na mídia televisiva. Mas o golpe de 1964 representou o canto do cisne para o programa. Em um dos primeiros atos de censura, o Esso foi impedido pela primeira vez de ir ao ar no dia 1o de abril daquele ano. Tentou resistir, mas o tiro de misericórdia foi dado com a instauração do AI-5. No último dia de 1968, o Esso fez sua derradeira transmissão – na TV, seus boletins ainda foram veiculados até 1970.

O noticiário chegou ao fim após uma campanha da Esso e demais petrolíferas multinacionais contra o programa do governo O Petróleo é Nosso, na década anterior. Uma CPI descobriu somas de dinheiro pagas pelos departamentos de marketing das entidades em troca do apoio de jornais. A condenação da companhia atingiu o programa, abalando sua credibilidade. Após o golpe, a marcação cerrada dos órgãos do governo no controle da informação tornou ainda mais difícil a continuidade dos boletins veiculados pelo programa.


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