Thomaz Bellucci bate um bolão

Mais um jovem tenista começa a despontar no cenário internacional. Com apenas 21 anos, Thomaz Bellucci está entre as dez principais promessas do tênis mundial nessa faixa de idade, com potencial para figurar no topo do ranking dos melhores jogadores. Ele já é o segundo melhor tenista brasileiro ranqueado na Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), atrás somente do gaúcho Marcos Daniel, de 31 anos, e está entre os 70 principais jogadores do mundo. Palmeirense roxo, Bellucci sempre gostou de futebol, mas desde criança, diferentemente da maioria dos brasileiros, a sua brincadeira preferida era mesmo os jogos em família na quadra de tênis da chácara em Tietê, cidade onde nasceu, no interior de São Paulo. Com 10, 11 anos, ele já levava a sério o esporte e sonhava seguir carreira profissional. “Nos treinos, sempre me destacava, sempre me dedicava mais que os outros”, conta Bellucci, em entrevista à Brasileiros. Canhoto, 80 quilos e 1,87 m de altura, o paulista já enfrentou jogadores de peso, como Rafael Nadal, um dos maiores tenistas de todos os tempos, no ano passado, durante o torneio de Roland Garros. Bellucci perdeu para o rei do saibro, mas no fim da partida ganhou elogios do gigante espanhol: “Ele tem bom saque, boa direita e bom revés. Tem tudo para ser um grande jogador”, disse na ocasião. Mais que incentivos, o paulista ganhou a amizade de Nadal, também canhoto e que já chamou o brasileiro para treinar com ele por duas vezes.

O ano de 2009 tem sido bastante marcante para a carreira profissional de Bellucci, iniciada há apenas três anos. Em fevereiro, ele participou de sua primeira final de um torneio da ATP, o Brasil Open, realizado na Costa do Sauípe, Bahia. O tenista acabou perdendo a partida, por 2 a 1, para o espanhol Tommy Robredo, 15o no ranking mundial (posição no final de agosto). A derrota, porém, não abalou em nada o jovem tenista que, alguns meses depois de ser vice-campeão do Brasil Open, conquistou sua maior façanha até agora: o título de campeão do torneio de Gstaad, na Suíça, batendo o alemão Andreas Beck. Com a vitória, Bellucci levou para casa um cheque de € 71,7 mil (mais de US$ 100 mil) – ele já acumula mais de US$ 500 mil em premiações na carreira -, além de um troféu com uma pedra de 35 kg. A conquista nos Alpes suíços também representou a quebra de um jejum de cinco anos sem títulos brasileiros em competições da ATP e fez o tenista paulista pular da 119a para 69a colocação no ranking mundial, posição registrada em 1o de setembro.

No US Open, iniciado no fim de agosto, o brasileiro venceu as disputas do qualifying (torneio qualificatório) e a primeira partida da chave principal sem perder um único set.

A entrevista com Bellucci foi realizada no final de um dia de treinos para o Aberto dos Estados Unidos.

Brasileiros – Você acabou de ganhar o torneio de Gstaad e carregou um troféu bem pesado…
Thomaz Bellucci – Mais ou menos uns 30 kg.

Brasileiros – Como é que o tênis entrou na sua vida?
T.B. – Comecei a jogar por influência dos meus pais, que sempre jogaram tênis socialmente. Desde pequenininho já entrava na quadra, em Tietê, onde tínhamos uma chácara. Comecei a jogar por brincadeira.

Brasileiros – E em que momento você achou que poderia ser um jogador profissional?
T.B. – Sempre acreditei que poderia jogar profissionalmente. Nos treinamentos, sempre era o destaque, sempre me dedicava mais que os outros. Acho que, desde os 10, 11 anos, já levava mais jeito para esporte que estudos.

Brasileiros – Você estudou o quê?
T.B. – Infelizmente não consegui acabar o terceiro ano (do Ensino Médio), mas vou terminar meus estudos.

Brasileiros – Você estudou em Tietê?
T.B. – Não, estudei em São Paulo.

Brasileiros – E em que lugar você estudou?
T.B. – Estudei em vários lugares, em Moema, Brooklin, em várias escolas. Como às vezes eu mudava de academia, tinha de mudar de escola também para ficar mais fácil e otimizar o tempo.

Brasileiros – Tem irmãos?
T.B. – Tenho uma irmã, um pouco mais velha, que treinava comigo desde pequena também. Só que ela não gostava muito de jogar, não levava tanto jeito, daí eu segui a carreira e ela parou.

Brasileiros – Seus pais acompanham a sua carreira?
T.B. – Acompanham.

Brasileiros – Eles foram para Gstaad?
T.B. – Não foram. Só foram para Costa do Sauípe (na Bahia, onde foi realizado o Brasil Open, em fevereiro) e, talvez me acompanhem a Porto Alegre, na Copa Davis (dias 18, 19 e 20 de setembro).

Brasileiros – Que time você torce, Palmeiras?
T.B. – Sim, sou palmeirense roxo.

Brasileiros – Tem namorada?
T.B. – Não tenho.

Brasileiros – Quem é seu ídolo, quem para você é o cara mais legal no tênis?
T.B. – Não tenho ídolo, não tenho um só cara que me espelho…, mas o cara que eu mais gosto é o Pete Sampras (norte-americano, já aposentado e um dos melhores tenistas da história).

Brasileiros – Você já treinou com o Nadal (espanhol Rafael Nadal, de 23 anos, um dos principais tenistas da atualidade e também da história do esporte), certo?
T.B. – Treinei duas vezes com ele.

Brasileiros – Como é que você conheceu o Nadal?
T.B. – Joguei contra o Nadal em Roland Garros (em Paris), no ano passado, e como ele é canhoto como eu, me chamou para treinar em Wimbledon (em Londres, onde é realizado o tradicional torneio em quadras de grama) e depois, neste ano, treinei novamente com ele no saibro.

Brasileiros – Mais que a técnica, penso que a maior dificuldade para um tenista é saber lidar com a solidão. Quando você está na quadra, você está sozinho, não tem ninguém para te ajudar… O que você acha disso?
T.B. – É difícil… Às vezes, você está um pouco nervoso, está com dificuldade e não tem ninguém para te motivar… Ou está jogando em outro país e percebe que é só você e seu técnico contra cinco mil pessoas. Então, realmente é um esporte que, além de tecnicamente bem, você tem de estar muito bem preparado mentalmente, às vezes isso é o mais importante.

Brasileiros – Você faz algum tipo de preparo mental antes dos jogos?
T.B. – Sim, faço alguns exercícios de concentração.

Roberto Marcher, da Koch Tavares, que acompanha a entrevista diz: “O João Zwetsch, técnico de Bellucci é considerado o melhor do País em atividade, acompanha o Thomaz cuidando não só da parte técnica, mas também do lado emocional. Na verdade, esses exercícios a que ele se refere são práticas de técnicas de pranayam (controle e interiorização de energia prana), e não somente exercícios de respiração como muitos entendem. O João supervisiona e o orienta. Nada de novo, pois são técnicas milenares, que acreditamos terem sido muito benéficas para ele.

Brasileiros – Você ganhou o título de campeão do torneio de Gstaad (realizado em agosto deste ano, na Suíça). Como se sentiu do começo da competição até o fim?
T.B. – Nos primeiros jogos, não fui bem, tive uma série de dificuldades, fiquei um pouco nervoso. Mas, a partir do jogo contra o Wawrinka (o suíço Stanislas Wawrinka, então um dos favoritos do torneio), quando joguei com muita confiança (o brasileiro venceu a partida por 2 a 0), comecei a me sentir muito melhor, comecei a acreditar que poderia ser campeão do torneio… Daí em diante só melhorei o meu jogo.

Brasileiros – E quando você jogou contra o Wawrinka, na casa do adversário, não sentiu a pressão da torcida?
T.B. – Não, não senti.

Brasileiros – Os suíços torcem pouco?
T.B. – Eles não são de ficar torcendo, de fazer algazarras na quadra como em outros países da América do Sul. Mas acho que também havia vários brasileiros lá na torcida.

Brasileiros – Com a vitória do torneio de Gstaad, você conseguiu subir nada menos que 53 posições no ranking da ATP, saltando da 119a para a 66a colocação. No entanto, além de experimentar essa boa sensação de escalar o ranking, você também já sentiu o peso de perder várias posições, quando saiu da sua melhor colocação, o 63o lugar alcançado em abril último, para a 119a, a sua colocação antes do Gstaad. Fale um pouco sobre isso.
T.B. – É, como joguei muito em um determinado período do ano, consegui alcançar a 63a posição na ATP, em abril. Durante este ano, porém, eu tinha de fazer muitos pontos para manter o meu ranking, mas não consegui jogar muito bem, acho até que senti um pouco a pressão de ter de segurar a minha boa posição na ATP, e acabei caindo muito rápido. Só agora, após a vitória em Gstaad, consegui recuperar a minha colocação.

Brasileiros – Quais são seus atuais patrocinadores?
T.B. – Banco Votorantim, Topper e Wilson.

Brasileiros – Quanto você ganhou com a vitória do torneio de Gstaad?
T.B. – € 70 mil.

Brasileiros – E quanto você já ganhou até hoje com sua carreira profissional?
T.B. – Uns US$ 500, US$ 600 mil.

Brasileiros – Você é melhor em quadra de grama ou saibro?
T.B. – Em saibro. Meus melhores resultados foram no saibro. Mas posso jogar em qualquer piso, meu estilo de jogo se adapta perfeitamente às quadras rápidas.

Brasileiros – E seus próximos torneios, quais serão?
T.B. – Vou participar de torneios na Ásia (que valem pontos para o ranking da ATP). Depois, volto para o Brasil para jogar a Copa Petrobras (que será realizada entre 24 de outubro e 1o de novembro em São Paulo, no Clube Harmonia).

Brasileiros – Thomaz, o que você faz quando não está competindo. Vai ao cinema, lê livros…?
T.B. – Cinema não sou muito chegado não, livro, eu leio.

Brasileiros – O que você lê?
T.B. – O último que li…, deixa eu ver… foi um de história. Gosto de livros de história, eu li Resumo da História do Século XX, e um livro sobre a vinda dos portugueses ao Brasil.

Marcher acrescenta (rindo): Leu também O Alienista, de Machado de Assis, uma edição em quadrinhos, que o Luís Felipe Tavares e eu demos de presente para ele.

Brasileiros – Essa edição é bem bonita. Você gostou?
T.B. – Gostei, e muito.

Brasileiros – O que mais você faz nas horas vagas?
T.B. – Às vezes vou aos jogos do Palmeiras…

Brasileiros – E de onde você vê o jogo?
T.B. – Fico lá no camarote da Samsung.

Brasileiros – Você conhece pessoalmente algum jogador?
T.B. – Conheço o Marcos, goleiro. A última vez, fui ao vestiário, conversei com ele…

Brasileiros – Você não conhece o Belluzzo (Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e presidente do Palmeiras)?
T.B. – Não.

Brasileiros – (Pergunta ao Roberto Marcher) Mas como, o Belluzzo ainda não conhece o Thomaz? Não é possível! O cara se chama Bellucci, torce para o Palmeiras… Tem de levá-lo para conhecer o Belluzzo.
R.M. – Claro, vamos levá-lo. Você pode ver que a Koch Tavares não é somente a empresária ou agente do Thomaz. Nós somos responsáveis pelo gerenciamento da carreira dele, cuidamos praticamente de tudo, tratamos de seus contratos, supervisionamos as necessidades dele, a parte técnica, física, psicológica… E também vamos levá-lo para conhecer o nosso amigo Belluzzo (risos)…


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