A Música Segundo Tom Jobim é o primeiro de dois filmes que o diretor Nelson Pereira dos Santos fez sobre o músico carioca morto em 1994. O encontro entre o diretor e Tom só poderia ser auspicioso. Afinal, estamos falando de expoentes, homens que nos anos 1950, ao ajudarem a criar o Cinema Novo e a Bossa Nova, respectivamente, modificaram para sempre o olhar que se tinha do Brasil, a terra do Zé Carioca.
A Música Segundo Tom Jobim trata de sua obra, por meio de imagens de arquivo, sem uma palavra sequer de texto, seja falado ou em caracteres. Já o segundo filme, ainda sem data de lançamento, A Luz do Tom, traz o músico em uma conversa imaginária com três mulheres de sua vida. Helena Jobim, autora do livro em que o filme foi baseado, Thereza Hermanny, sua primeira esposa, e Ana Lontra Jobim, a segunda e última.
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Conhecido como um grande papo, Jobim é autor de comentários definitivos – “A melhor saída para o músico brasileiro continua sendo o Aeroporto do Galeão”, por exemplo. O segundo filme parece mais atraente. Pode até ser. Mas em A Música Segundo Tom Jobim, a partir das imagens em branco e preto de um avião da Panair preparando-se para aterrar na Cidade Maravilhosa – sugerindo a letra de Corcovado – ao som de um arranjo sinfônico de Garota de Ipanema, somos fustigados durante uma hora e meia por um festival de imagens e música de efeito catártico. De ensopar de lágrimas o saquinho de pipoca. Principalmente porque o filme teve a estreia marcada para o dia 20 de janeiro, um dia após o 30º aniversário de morte de Elis Regina – que aparece radiante, dividindo Águas de Março com um surpreendentemente desenvolto Tom Jobim, em imagem raríssima captada durante as gravações de Elis & Tom, em Los Angeles, em 1974.
Co-dirigido por Dora Jobim, neta do compositor, co-roteirizado por Miúcha Buarque de Holanda, grande amiga, e tendo a direção musical do filho Paulo Jobim, A Música Segundo Tom Jobim foi estruturado, em sua maior parte, de maneira cronológico-temática. Assim, a primeira canção composta pela dupla Tom-Vinicius de Moraes, em 1956, Se Todos Fossem Iguais a Você é interpretada por Gal Costa, divina, nos anos 1980, uma época em que Tom e sua Banda Nova batiam ponto em Los Angeles. Em seguida, Eu Não Existo Sem Você, também de Tom e Vinicius, aparece na voz de Elizeth Cardoso, “A” divina, em uma cena do filme Pista De de Grama, de 1958. Curiosamente, Tom está ao piano e é a única cena em que aparece João Gilberto – segundo Nelson Pereira suas imagens estão embargadas por conta de uma produção sobre a vida do mesmo. Imperdível. Oportunidade única para se ver ou rever o dueto com Frank Sinatra, Sylvia Telles, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Agostinho dos Santos, Oscar Peterson, Nara Leão, Diana Krall, Alaíde Costa e até Judy Garland, entre outros achados. Todos no balanço da bossa. Em tom maior. Sem essa de clichê.
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