Transgressão feminina nas telas

As mulheres possuem mil artimanhas para conquistar o que desejam. Somente pela astúcia e pela inteligência, muitas vezes desarmam os homens e os colocam aos seus pés. Mas não é fácil lutar contra a força bruta do sexo oposto, que se expressa no preconceito ou mesmo na intimidação física. Esse é o tom da maioria dos dez filmes selecionados (abaixo) para conhecer um pouco do embate feminino em situações limite contra a opressão e na luta por igualdade de direitos, marcantes ao longo de todo o século 20. 

Desse modo, romperam barreiras que as levaram a conseguir direitos hoje considerados elementares mais que lhe foram negados ao longo de milhares de anos. Exemplos: completar o ensino médio, entrar na faculdade, ter direito a votar e ser votada, a trabalhar sem precisar da autorização do pai, do irmão ou do marido – o que acontecia no Brasil até 1962, quando entrou em vigor o Estatuto da Mulher Casada. E até mesmo de recorrer ao aborto em casos de risco de vida e de estupro, conquista ainda questionada por segmentos religiosos. 

Tudo isso aconteceu não em 20 ou 30 anos, mas ao longo de 150 anos, no caso do Brasil. Não foi diferente em boa parte do mundo. Na outra parte, principalmente na Ásia e na África, o caminho ainda será longo, principalmente em nações de radicalismo religioso. Os filmes a seguir são inspiradores nesse sentido. São também uma reverência, uma celebração a tudo de bom e importante que as mulheres sempre representaram- de sua graça e beleza à disposição para lutar, conquistar coisas e manter o equilíbrio pelo bom senso que lhe é tão peculiar. Corra à locadora: 

1 – A Fonte das Mulheres (La source des femmes) – 2011

 

Uma história tensa, com algumas pitadas de humor, que se passa nos tempos atuais, em uma pequena aldeia em algum lugar entre o Norte da África e o Oriente Médio. As mulheres, subjugadas aos homens de modo humilhante, têm entre suas tarefas domésticas buscar água de uma nascente no topo de uma montanha sob o sol escaldante. Elas fazem isso desde o início dos tempos, com baldes pesadíssimos, enquanto seus companheiros passam os dias, ociosos, bebendo e jogando. Leila, uma jovem noiva, instiga então as mulheres a lançarem uma greve de amor: sem mais abraços, sem mais sexo até que os homens levassem água para aldeia. Direção de Radu Mihaileanu.

2 – As Mulheres de Rosenstrasse (Rosenstrasse) – 2003

Depois da morte de seu pai, Hannah Weistein começa a estranhar o comportamento de sua mãe, Rhut Weinstein. Por meio de uma tia distante, ela descobre que Ruth guarda alguns segredos e que ficou sob os cuidados de uma mulher ariana durante o tempestuoso período da Segunda Guerra Mundial. Seu nome é Lena Fischer e, apesar das dificuldades enfrentadas nos tempos de nazismo de Hitler, ela continua viva. Determinada a encontrar esta senhora, Hannah vai para a Alemanha buscar respostas sobre o passado de sua mãe. Direção de Margarethe Von Trott. 

3 – As Mulheres do 6º Andar (Les femmes du 6ème étage) – 2010

Um filme divertido sobre choques de valores morais e culturais, a partir do universo feminino. O casal Jean-Louis e Suzanne mora em Paris, na década de 1960, num prédio de classe média. Levam uma vida que beira o tédio, diferente da rotina, aparentemente muito mais animada, das vizinhas espanholas do sexto andar, funcionárias do local. Jean-Louis se vê cada vez mais atraído por aquele universo, em especial por Concepción, por quem nutre uma paixão secreta. Quando Suzanne começa a desconfiar do marido, decide colocá-lo para fora de casa. Mas Jean-Louis logo consegue um lugar para ficar: na pequena dispensa do almejado apartamento das espanholas. Direção Philippe Le Guay.

4 – As Mulheres (Les femmes) – 1969

 

Brigitte Bardot é a protagonista deste filme que é um retrato da conturbada Europa do final da década de 1960 e o direito à liberdade que as mulheres buscavam na época. Ela faz Clara, uma vibrante e bela jovem contratada para trabalhar como secretária e ajudante de um escritor de meia idade (Maurice Ronet) que está sofrendo de falta de criatividade para escrever seu próximo romance. A estonteante presença de Clara revitaliza e inspira o escritor, que logo percebe que está completamente obcecado pela liberdade sensual, a sensibilidade moderna, a luxúria, e principalmente, os belos lábios da garota. A direção é de Jean Aurel.

5 – Cidade Das Mulheres (La Città delle Donne) – 1980

Uma homenagem de Fellini a todas as mulheres, sempre tão diferentes uma das outras, mas semelhantes quando fala o coração ou a vaidade. A história começa quando, durante uma viagem de trem, Snàporaz (Marcello Mastroianni) é seduzido por uma bela mulher, que desce da locomotiva. Ele a segue e acaba vivendo uma fantasia, metade sonho, metade pesadelo, na cidade das mulheres. No lugar, ele é o único homem e, por isso, é, ao mesmo tempo, reverenciado e julgado. Idealizado a partir de uma famosa cena do seu filme “Fellini 8 ½”, “Cidade das Mulheres” é uma fantasia fascinante que merece ser redescoberta. Direção de Federico Fellini. 

6 – Duas Mulheres (La ciociara) – 1960

 

Vencedor do Globo de Ouro por Melhor Filme Estrangeiro, “Duas Mulheres” é um filme de dramaticidade fora do comum, que começa com uma cena de estupro. À frente da trama está Sophia Loren, que atua principalmente ao lado de Eleanor Brown e de Jean-Paul Belmondo, em uma adaptação da novela de Alberto Moravia. Procurando abrigo em um igreja abandonada, Cesira (Loren) e sua filha de treze anos de idade, Rosetta (Brown), são brutalmente atacadas e raptadas por soldados aliados marroquinos durante a Segunda Guerra Mundial. Loren recebeu Oscar de Melhor Atriz, e Prêmio de Melhor Atriz do Festival de Cannes, por sua brilhante atuação como a mãe abandonada que luta para sobreviver em um país devastado pela guerra. Direção de Vittorio De Sica. 

7 – Duas Mulheres (Do Zan) – 1999

Uma obra-prima sobre a opressão às mulheres, este filme causou sensação quando foi lançado em 1999 no Irã. “Duas Mulheres” narra a vida de duas estudantes de arquitetura, com uma promissora carreira, nos primeiros turbulentos anos da República Islâmica, a partir de 1979. O talentoso diretor Tahimine Milani cria um retrato mordaz das tradições intimidadoras, auxiliado pela indiferença oficial – que ardilosamente conspira contra as mulheres, para impedi-las de realizar seu pleno potencial, isto é, a inclusão de descrições francas de violências domésticas. Foi saudado por muitos defensores dos direitos humanos como um avanço nas negociações sobre o pesado tema lesbianismo, um “tabu” para o islamismo. 

8 – Mulheres no Front (Le soldatesse) – 1965

 

Uma das obras-primas do mestre Valerio Zurlini, diretor dos clássicos “A Moça com a Valise” e “O Deserto dos Tártaros”, conta a história de um grupo de prostitutas “convocadas” para entreter os soldados italianos durante a Segunda Guerra. Zurlini mostra este episódio a partir do relacionamento dessas mulheres com três militares que as conduzem numa longa viagem a uma base militar numa região montanhosa da Grécia ocupada. A bela atriz Anna Karina (Alphaville), uma das musas do movimento cinematográfico francês conhecido como Nouvelle Vague, lidera um elenco em que todos são protagonistas.

9 – Revolução em Dagenham (Made In Dagenham) – 2010

 

Conta a história real de Rita O’Grady (Sally Hawkins), operária da Ford e principal nome da greve de 1968, ocorrida na fábrica de Dagenham – localizada em Londres, Inglaterra –, protagonizada por mulheres que almejavam igualdade salarial. Logo no início do filme o narrador fala que a fábrica em questão “é um dos pesos-pesados da indústria de motores”. Continua informando que nesta, Dagenham, e em outras fábricas da Britânia, se monta 3.000 carros por dia. A Ford de Dagenham era nada mais nada menos que a maior fábrica de motores de toda a Europa e a quarta maior do mundo. Em 1968 havia na Ford 55 mil homens e, apenas, 187 mulheres, trabalhando na fábrica Ford de Dagenham. Rita é apresentada no início do filme como uma mulher comum de sua época, até que um fato extraordinário vai mudar sua vida e de todas as inglesas assalariadas. Direção de Nigel Cole.

10 – Alice Não Mora Mais Aqui – 1975

 

Um filme sobre liberdade pouco conhecido na filmografia de Martin Scorcese. Alice Hyatt (Ellen Burstun) fica viúva após perder o marido, um motorista de caminhão, em um acidente. Como tem um filho, Tommy (Alfred Lutter III), para criar, luta pela sobrevivência. Inicialmente trabalha como cantora, mas, em virtude de um tumultuado envolvimento com Ben Everhart (Harvey Keitel), um homem casado e agressivo, foge da cidade, indo trabalhar como garçonete em outra localidade. Lá ela conhece Flo (Diane Ladd), uma colega de trabalho que não prima pela educação mas é a amiga que Alice precisava. Lá também se envolve com David (Kris Kristofferson), um fazendeiro divorciado.


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