Tratado sobre a mente humana e a violência


Os filmes do cineasta Michael Haneke dialogam abertamente sobre a mente humana e a violência, mas não a violência gratuita dos filmes de ação de Hollywood. Sua maneira de falar sobre esses assuntos é mais inteligente e extremamente sutil. Foi assim nos filmes A Professora de Piano (2001) e Caché (2005). Seu novo filme, A Fita Branca, narra a história de uma comunidade protestante alemã entre os anos 1913 e 1914, poucos meses antes da Primeira Guerra Mundial. Nesse vilarejo, a educação de crianças e jovens é feita de forma rígida e sem possibilidades de questionamentos. E é por meio dessa educação que se cria a mentalidade degenerada do lugar. O diretor faz uma metáfora sobre o nascimento do nazismo, por meio desse microcosmo, mas vai além e fala sobre a gênese do terrorismo nos dias atuais. “Todos os meus filmes lidam com a violência e culpa”, disse o diretor numa entrevista.

A Fita Branca, de Michael Haneke
Cinesec. Dia 23, às 20h40
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Meu caro amigo, me responda, por favor!
O diretor Nelson Hoineff prestou, sem nenhum constrangimento, uma homenagem ao seu amigo de 19 anos, o jornalista Paulo Francis, no documentário Caro Francis (ver entrevista com o diretor abaixo), destaque desta sexta-feira da Mostra. Por meio de diversas entrevistas com personalidades, como Fernando Henrique Cardoso, Ruy Castro, Nelson Motta, Fernanda Montenegro, entre outros, o diretor traça um painel afetivo sobre um dos mais controversos e politicamente incorretos jornalistas brasileiros, que com suas declarações cáusticas e combativas, fazia um jornalismo parcial (ele não acreditava na imparcialidade dos jornalistas), o que fez com que Francis tivesse inúmeros desafetos.

Caro Francis, de Nelson Hoineff
Reserva Cultural 1. Dia 23, às 20 horas
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Mais técnico e menos excessivo
Os primeiros filmes de Pedro Almodóvar traziam personagens excessivos e incomuns, mas parece que nas suas últimas películas o diretor vem procurando trabalhar mais com o apuro da técnica e menos com a história dos seus personagens. O filme Abraços Partidos, que traz novamente a atriz Penélope Cruz, narra a história de uma aspirante a atriz, amadas por dois homens, e um desses homens é um diretor (alterego de Almodóvar), que faz um filme que se passa dentro do filme (assim como em Má Educação, o diretor usa a metalinguagem). Almódovar fala que faz uma declaração de amor ao cinema e cada vez mais se interessa pela condição humana. “Acho que o envelhecimento nos serve para ficarmos atentos sobre a nossa condição humana e o sentido das coisas que nos ronda.”

Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar
Espaço Unibanco Pompeia 2. Dia 24, às 14 horas
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Três em Um
O diretor Evaldo Mocarzel conseguiu, pela segunda vez, emplacar três filmes na Mostra. Ele já tinha conseguido o feito inédito quando teve três filmes exibidos em uma mesma edição do evento (seus documentários À Margem do Concreto, Brigada Pára-Quedista e Jardim Ângela). Este ano ele estará com os documentários BR-3 (ficção), BR-3 (documentário) e À Margem do Lixo. Além disso, o seu documentário Quebradeiras foi selecionado para o Festival de Brasília. Mocarzel vem conseguindo outro fato raro, como documentarista, exibir todos os seus filmes no cinema. Uma carreira fértil e promissora.


Nelson Hoineff (jornalista e diretor)

Brasileiros – Por que você decidiu fazer dois filmes, com personalidades e vidas tão distintas, como Paulo Francis e Chacrinha?
Nelson Hoineff – Não são tão distintos assim. Ambos foram, a seu modo, transgressores. Sobre isso são os dois filmes: a coragem de transgredir.

Brasileiros – Seu documentário sobre o Chacrinha quase não fala sobre o personagem, Aberlardo Barbosa, o Chacrinha, focando sua lentes e entrevistas, principalmente sobre as suas chacretes. Por que você não fez um documentário sobre “O Velho Guerreiro”, que têm muitas histórias divertidas, curiosas, humanas e contraditórias?
Nelson Hoineff – Nem Alô, Alô, Terezinha nem Caro Francis são filmes biográficos. São sobre os universos de seus protagonistas. No universo do Chacrinha, definimos três constelações: as chacretes, os calouros e os artistas lançados pelo programa. Mergulhamos em cada uma dessas constelações para tentar descobrir o universo.

Brasileiros – Quem assistiu ao seu documentário sobre o jornalista e polemista de ocasião, Paulo Francis, declarou que quase não há depoimentos dos desafetos do jornalista, e sim amigos e ex-colegas de trabalho, falando sobre o personagem, Paulo Francis. Sendo ele um dos profissionais mais politicamente incorretos, não haveria necessidade de colocar pessoas que falassem mal dele?
Nelson Hoineff – O título do filme é Caro Francis. Não é uma peça com isenção jornalística. Trata-se de uma descarada visão afetuosa de um grande amigo.

Brasileiros – Uma das principais críticas feitas sobre o Paulo Francis era sua pouca vontade para coisas da nossa cultura, o que denominamos de “brasilidade”. Ele era um “colonizado cultural”. E para você, quem era Paulo Francis na intimidade?
Nelson Hoineff – O Ruy Castro responde parcialmente isso no filme. Francis apreciava Wagner com a mesma intensidade que, por exemplo, as marchinhas de Carnaval. Na intimidade, Francis foi a pessoa mais generosa que conheci. Só isso faz dele um humanista extraordinariamente importante.

Trailer de Caro Francis:

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