Tratamento aos desvalidos


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BRASIL mostra tua cara!
Não é de hoje que lemos nos noticiários sobre mendigos que são executados nas ruas das grandes cidades brasileiras, recurso usado pelos órgãos públicos e pela sociedade civil, para fazer a dita “limpeza social”. Há dois anos, vários moradores de rua do centro da cidade de São Paulo foram mortos e em outras metrópoles o mesmo ocorreu. Parece que essa triste história é recorrente no País, pois não é de hoje que fatos lamentáveis como esses acontecem. É o que verificamos ao assistir ao filme Topografia de um Desnudo, de Teresa Aguiar, que será exibido nesta quarta-feira dentro da Mostra (na sessão, estarão vários representantes de entidades de moradores de rua e mendigos). O filme recupera um fato ocorrido no Rio de Janeiro (que na época era o Estado de Guanabara), em 1962, que foi a “operação mata-mendigos”, impetrada pelo Departamento de Repressão à Mendicância, órgão ligado ao Governo da Baía da Guanabara. Na ocasião, foram encontrados vários mendigos mortos nos rios Guandú e da Guarda, inclusive com marcas de torturas. As investigações começaram e chegou-se à conclusão de que as mortes estavam relacionadas a um processo de “limpeza social”, feito pelo Governo do Estado, por conta da visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil. O filme se baseia na peça homônima do chileno Jorge Díaz, que ficou censurada durante anos no país. A própria Teresa Aguiar montou a peça pela primeira vez no Brasil em 1985 e, a partir daí, alimentou a ideia de adaptá-la para o cinema. O filme traz imagens de arquivo e depoimentos de jornalistas que investigaram o caso na época. Uma história urgente que merece reflexão. Com o golpe de 1964, as investigações sobre o episódio foram arquivadas e nenhum culpado foi punido. Por ironia do destino, a Rainha Elizabeth II não veio ao País naquela ocasião e só visitaria nossa pátria amada anos depois.

Topografia de um Desnudo, de Teresa Aguiar
Unibanco Arteplex 3. Dia 28, às 20h20
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


A incompreensão da totalidade
Manoel de Oliveira não é somente o diretor mais velho em atividade no cinema (nasceu em 1908, tem 101 anos), mas é um dos cineastas que mais falam da nossa incompletude, de nossa incapacidade de conhecer ou ter o todo. Seus filmes são densos, não só pela narrativa e temática, mas também pelo uso da câmera parada e pela profusão de palavras. Apesar de fazer cinema, em que a imagem é essencial, o diretor português a coloca em função do texto, ou seja, das palavras. Por isso, muito dos seus filmes são adaptados de livros. No seu mais recente, Singularidades de uma Rapariga Loura, novamente o diretor recorre a um livro, nesse caso um conto, do escritor patrício Eça de Queirós, para contar a história do amor entre um jovem (Macário) por uma linda mulher (a loira do título). Em tom meio de comédia (entenda que estávamos falando de uma comédia de Manoel de Oliveira), o diretor fala sobre esse improvável relacionamento mostrando os esforços que Macário empreenderá para conquistar seu amor. Os personagens dos filmes do diretor têm uma triste constatação: estamos fadados a incompletude, a não ter tudo que queremos. Mais um belo exercício desse incansável diretor da reflexão.

Singularidades de uma Rapariga Loura, de Manoel de Oliveira
Unibanco Arteplex 1. Dia 28, às 17h40
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Isolados de nós mesmos
A primeira incursão do dramaturgo Felipe Hirsch pelo cinema (ao lado de Daniela Thomas, que trabalha com outro cineasta, Walter Salles), no filme Insolação, tem o mérito da qualidade do texto, mas sabemos que isso não é suficiente para se fazer cinema (Manoel de Oliveira, que falamos acima, é um bom exemplo de um diretor que usa as palavras de forma simbiótica com a imagem). No caso de Insolação, os diretores não conseguiram atingir seus objetivos, e o que vemos é uma dissociação entre a palavra e a imagem. Apesar de um elenco afinado, os diretores não conseguem trazer “a melancolia do amor inalcançável” dos seus personagens para o espectador.

Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas
Unibanco Arteplex 1. Dia 29, às 20h30
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Isolada pela língua?
Como eu havia falado em outro dia no site da Brasileiros, um dos atrativos de assistir a uma Mostra é poder conhecer e falar com o realizador do filme. No domingo (25), um dos diretores do documentário O Inferno de Clouzot, Ruxandra Medrea (dirigiu o filme com Serge Bromberg) apresentou a sessão no Cinesesc e falou que depois do fim da exibição estaria no hall da sala de cinema para conversar com o público. Na saída, foi triste ver que ninguém se aproximou da diretora, que ficou lá sentada olhando para as pessoas saindo e passando sem parar por ela. Será que foi porque ela é francesa, ou seja, falava francês?


Lima Duarte (ator)
Brasileiros – Por que você aceitou fazer um filme com um tema tão difícil?
Lima Duarte –
Uma das coisas que me atrai num trabalho é poder falar de assuntos que são urgentes e que precisam ser colocados para que possamos, como Nação, discuti-los e refleti-los.

Brasileiros – O que mais lhe chocou nessa história?
Lima Duarte –
É saber que essa triste realidade do nosso País não só ficou esquecida como também se repete de tempos em tempos na sociedade. Precisamos conhecer mais o nosso passado para que possamos resolver nosso presente e projetar um futuro diferente, pois se não fizermos isso, estaremos condenados a incorrer nos mesmos erros.

Brasileiros – Como você concebeu o seu personagem, o mendigo Russo?
Lima Duarte –
Ele tem um dado que os poderosos, o poder, teme e abomina, que é saber ler. Russo é o único daquele lugar (um lixão) que sabe ler e escrever, e isso o torna ainda mais indesejado. Além do fato dele ser um mendigo, que não tem utilidade nessa sociedade utilitarista.

Trailer de Topografia de um Desnudo:

SITE OFICIAL DA MOSTRA
www.mostra.org
TWITTER DA MOSTRA
www.twitter.com/MOSTRASP

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