Travesti da liberdade

Meus caros, não resisto a escrever sobre a declaração de Lula sobre a mulher condenada a ser apedrejada no Irã, episódio no qual, inicialmente, Lula disse que o Brasil não deveria se meter, pois cada país tem suas leis, e etc. Depois, em um improviso lamentável, ofereceu asilo à condenada aqui no Brasil. Visão míope de diplomacia e da própria figura de um Chefe de Estado, posição que ocupa há quase (falta pouco) oito anos. Indago se Nosso Líder faria o mesmo oferecimento para os cerca de 200 homossexuais que são enforcados todos os anos naquele país?

Os políticos brasileiros, principalmente em ano de eleição, fogem do tema dos homossexuais, certamente bajulando os 25% da população evangélica, número que aumenta muito se somados os católicos e outros conservadores, que, além de não frequentarem nossa Parada Gay, são visceralmente contra nossos pleitos. Tudo bem, os três principais candidatos posicionaram-se a favor da união civil, o que nada mais é que um paliativo, de efeito bem reduzido, eficiente (aos olhos deles) como saída pragmática para o tema. Reconheço que nós somos minoria, apenas 10% da população brasileira,considerando os parâmetros internacionais, não creio que o censo do IBGE nos traga nenhuma surpresa. Mas, registre-se, uma minoria de 20 milhões de pessoas, maior  que a população de muitos países do mundo. O meteoro que caiu sobre nós com a liberação do casamento gay na Argentina já está perdendo força, e não deverá surtir grandes efeitos esse ano, quem sabe na próxima legislatura. Lembro que sequer a lei contra homofobia foi aprovada até hoje, continua atolada em alguma comissão do Congresso, colocando o Brasil no mesmo patamar de paises africanos e muçulmanos, cujas posturas para com os direitos humanos são condenadas por todo o mundo civilizado.

Nesse cenário, quem reapareceu foi Roberto Requião, que ano passado chegou a declarar que câncer de mama em homens – doença grave e que mata muita gente – era coisa da Parada Gay, causando uma gritaria merecida. Dessa vez, diante de uma foto do jogador Ronaldo com José Serra e Fernando Henrique Cardoso, disse: “Esse Ronaldo precisa parar de andar com travestis. Toma jeito menino!!!”. Tentando corrigir-se, piorou: “Travesti é quem se faz passar pelo que não é”, “Existem os travestis da liberdade. São intolerantes, sem humor, e querem queimar, na fogueira, qualquer manifestação inteligente”. Eu mesmo nunca tinha chamado nenhum político de Travesti da Liberdade, mas Requião foi brilhante,  criou a expressão, e nela enquadrou-se perfeitamente. Ele merece o título. Abraços do Cavalcanti


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.