Tricolor tem que respeitar a camisa

Costumam dizer que nós são-paulinos estamos mal acostumados com os muitos títulos que o Tricolor conquistou nos últimos anos. E é verdade. Assim como a seleção brasileira, o São Paulo não precisa nem pode ganhar sempre. Não tem nenhuma obrigação de ser mais uma vez campeão da Libertadores, até porque, com o time que tem e o futebol que está jogando, já foi até longe demais.

Uma coisa, porém, é perder um jogo ou um título. O que não pode é perder a vergonha, jogar como time pequeno para empatar ou perder de pouco, acovardar-se, entregar o campo todo para o adversário desde o primeiro minuto da partida, só se defendendo, como aconteceu na triste noite desta quarta-feira, no Beira-Rio, em que o São Paulo levou um passeio e escapou de tomar uma goleada histórica do Internacional.

Rogério Ceni, que tem vergonha na cara, operou milagres e foi o melhor jogador em campo, evitando um vexame, saiu de campo soltando os cachorros, revoltado com a falta de apetite dos seus companheiros em busca de um resultado melhor. Do outro lado, Renan, o goleiro do Inter, saiu com o uniforme limpinho, o cabelo bem arrumado, já que o time do São Paulo simplesmente desistiu de atacar. Em 90 minutos, o time não criou uma única chance de gol.

No papel, o técnico Ricardo Gomes escalou o São Paulo no 4-4-2, mas o que se viu em campo foi um inacreditável esquema 1-10, com todo o time do meio de campo para trás. Para se ter uma ideia, Fernandão, Marlon e Dagoberto apareceram mais na área do São Paulo, ajudando a defesa, do que na área do Internacional. Nas raras vezes em que conseguiam passar do meio de campo para o ataque, os três caiam no chão, pedindo falta. O juiz até achava graça.

Com aquela cara feia de quem acabou de acordar e não sabe onde está, Gomes passou o jogo todo de braços cruzados, balançando a cabeça. Ao final, chegou a uma brilhante conclusão:

“Ficamos atrás demais. Não atacávamos nem contra-atacávamos. Foi um grande erro”, constatou ele depois do jogo, como se fosse o ombudsman e não o técnico do São Paulo. Se não foi ele quem mandou o time jogar assim, quem foi então? Ou ele não manda mais nada e cada um faz o que quer em campo?

Quem foi que tirou o zagueiro Xandão, que vinha jogando bem, e colocou em seu lugar o Hernanes, único jogador capaz de criar alguma jogada e armar os contra-ataques, só para manter no time o intocável Richarlyson, que há muito tempo não joga nada, só leva cartão, dá pernada e passes errados?

De uma tacada, Gomes conseguiu enfraquecer a defesa, que só tinha tomado dois gols em oito jogos da Libertadores, e acabar com o meio de campo. Para quê? Para nada. Richarlyson, é verdade, corre o campo todo, mas até hoje ninguém descobriu em que posição ele joga.

Como o Inter só conseguiu marcar um gol em Porto Alegre, embora o São Paulo pedisse para tomar mais, claro que nada está decidido, e pode dar uma zebra na próxima quinta-feira no Morumbi, com o time se classificando mais uma vez para a final da Libertadores. Basta ganhar por dois gols de diferença. Acho que vai ser difícil.

Tomara que eu esteja errado, mas já ficou claro que este São Paulo de 2010 não inspira mais confiança na torcida, muito menos dá gosto de ver jogar. Dá vergonha.

É preciso, pelo menos respeitar a camisa, quer dizer, a história do clube.


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