Meus caros, jornalistas costumam ser ciumentos e invejosos, avarentos ao extremo quando se trata de elogiar o trabalho de outros jornalistas. Hoje, no entanto, não posso economizar uma letra sequer ao falar da bela edição da revista TRIP que acaba de chegar às bancas, com um número inteiro voltado para a diversidade sexual, e duas capas, uma delas, lindíssima, mostra dois surfistas se beijando. Sim, trata-se de dois homens, em um belo beijo gay, sonho de muitos leitores, que a revista realizou. O conteúdo é denso, traz José Celso Martinez Corrêa, sempre aprontando, um belo depoimento conjunto de Milly Lacombe e Vitor Ângelo, imagens terríveis de vítimas da homofobia, cuja exibição é tristemente necessária, e, acho que para compensar, até mesmo uma testosterônica foto do modelo Ivan Bertazzo, de 1993.
A capa foi feita para arrasar, não para chocar. Dois surfistas, uma praia belíssima, um beijo na boca que derrete os mais gelados corações. Está certamente provado que beijo gay não derruba muros, nem causa comoção social. Esta edição já entrou para a história. Vejam bem, a TRIP é uma revista voltada para toda a sociedade, e lá estão ao homossexuais muito bem expostos e tratados. Há também uma matéria sobre um grupo “moderno”, de gente que tem coragem de praticar o amor livre, e que se deixam fotografar nus, formando o que chamam de “Uma amoreba”. Chamou-me a atenção nessa matéria, que, como tudo mais na revista, vai acompanhada por belas imagens – em uma delas se destaca um pênis, em estado natural, flácido, ocupando boa parte da página. E não se trata de nada voltado ao público gay. Existem revistas gays, no Brasil, que se voltam para o erótico, e mostram homens em estado de excitação. A mais bem editada revista voltada para o público gay no Brasil, a Junior, não é erótica, e tem um enorme cuidado ao expor um pênis, e com muitas razões para isso, diga-se. Esta semana a TRIP passou todo mundo, e quebrou paradigmas de forma maravilhosa, corajosa.
Como muito bem diz Milly Lacombe: “Acho que daqui a um tempo a gente vai ser tudo igual, só ser humano. Haverá discussões muito mais relevantes, porque essa é idiótica.”. De fato o é, mas a luta pela igualdade ainda passará por vários rounds, como tantos incidentes homofóbicos têm mostrado ainda nos dias de hoje. Como o Velho Cavalcanti sempre afirmou aqui, a humanidade está progredindo, e para o bem. Há muito o que andar, mas chegaremos lá, Milly está certa.
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