Tropa de Elite 2 é de tirar o fôlego

Para quem viu a primeira, que já fez um estrondoso sucesso, esta nova versão de Tropa de Elite, que estréia hoje em todo o país, é bem diferente e muito melhor, imperdível.

Fui convidado para a pré-estréia de quinta-feira à noite em São Paulo e fiquei impressionado, não só com a quantidade de gente que lotou as cinco salas do Shopping Vila Olímpia, com pessoas em pé e sentadas no chão, como com o comportamento do público.

Durante toda a projeção, o impacto do filme foi tão forte que as pessoas mal conseguiam respirar ou piscar o olho, para só quebrar o silêncio ao final, em longos aplausos. “Que porrada!”, foi o comentário que o diretor José Padilha mais ouviu na saída de uma das salas.

Com seu indefectível boné e um sorriso matreiro, Padilha balançava a cabeça, como quem diz: “Não tenho culpa Tudo isso aí existe, já saiu em notícia de jornal”. Ao lado dele, o roteirista Bráulio Mantovani só fazia confirmar as palavras do diretor. É como se o seu trabalho tivesse se limitado a montar um quebra-cabeças com recortes de jornal, em que as editorias de política e polícia se confundem, para contar uma história com começo, meio e fim.

De fato, tudo parece tão real no filme, os atores são todos tão convicentes nos seus papéis, que nem parece filme de ficção.

Ao contrário do primeiro Tropa de Elite, um thriller policial centrado na eterna luta entre mocinhos e bandidos, que às vezes alternavam os papéis, este segundo é, acima de tudo, apesar de ter até mais tiros e sangue, um filme político, que desnuda o sistema de poder no Rio de Janeiro – de resto, não muito diferente daquele que vigora no resto do país.

A polícia fica no meio do jogo de interesses do Executivo e do Legislativo, alternando achaques e ataques aos traficantes, bem a propósito do momento que vivemos, baseado na luta por votos a qualquer preço, corrompendo e matando para conquistar e manter mandatos. Não sobra ninguém. Ou melhor, o filme só não mostra as mazelas do Judiciário, a terceira ponta dos podres poderes que acirram a violência e estimulam a impunidade.

No jogo de perde e ganha, o capitão Nascimento, de Wagner Moura, mais uma vez no papel de herói, vai ficando cada vez mais isolado no mundo, nos planos pessoal, profissional e político, mas não entrega os pontos, e sempre busca forças para continuar enfrentando o poderoso “sistema” formado por políticos e policiais corruptos, traficantes e milicianos, que subjugam o povo mais pobre dos morros para garantir seu poder e mordomias.

Sei que devo me sentir meio suspeito para falar bem do Tropa 2, já que sou sogro do Bráulio Mantovani, roteirista e co-produtor do filme, e amigo do diretor José Padilha, desde que voltei com ele ao local das filmagens de “Garapa”, o seu filme sobre a fome produzido no interior do Ceará, para fazer uma longa reportagem publicada pela Brasileiros. Com o produtor Marcos Prado, eles formam um trio de respeito que orgulha o cinema nacional.

Por isso, não tenho nenhum receio em dizer para vocês, sem medo de errar, que Tropa de Elite 2 é um grande momento de afirmação e maturidade do cinema brasileiro. Mostra como se pode fazer muito sucesso de bilheteria com uma obra de alta qualidade técnica e artística, discutindo problemas sérios e fazendo a platéia pensar um pouco sobre a sua própria vida e o nosso país ao final da primeira década do século 21.

Não percam, vale a pena! Desta vez, até onde sei, só dá para ver o filme nos cinemas. Ainda não apareceram cópias piratas. Menos mal, assim sempre resta uma esperança de dias melhores.

Em tempo 1:

Não posso deixar de registrar aqui mais um caso grave de desrespeito à liberdade de expressão praticado por quem deveria defendê-la, e o faz com estardalhaço para atacar o governo, sem qualquer razão concreta, mas não cumpre a sua parte em casa.

Sim, refiro-me à demissão da colunista Maria Rita Kehl pelo Estadão, o mesmo jornalão que se faz de vítima de censura. Por ter defendido o Bolsa-Família em sua coluna no último sábado, e criticado a “desqualificação” do voto dos pobres que recebem o benefício, a respeitada psicanalista foi sumariamente “descontinuada”.

“Fui demitida por um delito de opinião”, denunciou Maria Rita, em entrevista ao meu amigo Bob Fernandes, do Terra Magazine. Também em entrevista ao Bob, o diretor de conteúdo do Grupo O Estado de S. Paulo, Ricardo Gandour, negou que tenha havido censura e demissão. Vejam só que meiguice, quanta hipocrisia:

“Não é demissão Colunistas se revezam, cumprem ciclos. O jornal tem 92 colunistas, e esse ano saíram três e entraram três ou quatro. O que estava havendo aí era a simples gestão de uma coluna específica”.

Ah, bom! O diretor só esqueceu de dizer que os 92 colunistas do jornal – 92 colunistas! – só continuam escrevendo lá porque obedecem religiosamente o pensamento único do jornal, com a honrosa exceção de Luiz Fernando Veríssimo, que é hors-concours. Ou seja, só repetem com outras palavras o que está escrito nas sagradas escrituras – quer dizer, nos editoriais da família Mesquita.

A Maria Rita Kehl, minha solidariedade.

Em tempo 2:

No meu último post antes das eleições, escrevi que, pelas pesquisas divulgadas por todos os institutos até aquele momento, Dilma Rousseff só não tinha a vitória assegurada no primeiro turno no Datafolha. No primeiro post após as eleições, registrei que o Datafolha foi o que mais se aproximou dos números finais do primeiro turno.

Abaixo, reproduzo e-mail que recebi, por intermédio da minha mulher, enviado por Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha:

“Por favor, agradeça ao Ricardo por reconhecer publicamente em seu blog que o Datafolha foi o que mais se aproximou dos resultados da disputa presidencial.

Foi o ÚNICO, entre tantos que duvidavam das tendências que vínhamos divulgando, que teve a grandeza desse reconhecimento. Desejo melhoras para ele e felicidades para vocês.

Mauro Paulino”

Tem nada que agradecer, Paulino. Era o mínimo que eu tinha a fazer. Boa sorte e sucesso no teu trabalho.

Em tempo 3:

Para quem ficar na cidade neste feriadão, tem um belo programa no domingo. Na verdade, são dois eventos importantes no mesmo local: o encerramento da mostra de Elifas Andreato, com cerca de 100 trabalhos deste grande artista gráfico, expostos no Museu da Resistência, na Estação Pinacoteca; e, às 14h30, a pré-estréia do filme “Perdão Mister Fiel”, de Jorge Oliveira, sobre a morte do operário Manoel Fiel Filho nos cárceres da ditadura, em 1976.

Ao final do filme, Andreato e Oliveira, junto com o já antológico jornalista Audálio Dantas, sobem ao palco para um debate sobre aquele período trágico da vida brasileira que eles retrataram em seus trabalhos.

E é tudo com entrada franca, ninguém paga nada. A Estação Pinacoteca fica no Largo General Osório, 66, no Bairro da Luz, centro de São Paulo.


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