TV invadida por onda de “especialistas”

Pensei que era só aqui que estava pegando esta onda de “especialistas” pontificando em todos os telejornais. Pois acabei de ler aqui ao lado, na coluna do nosso grão mestre Ivan Lessa, da BBC, que não estamos sozinhos.

Em Londres, onde ele vive há séculos, também virou moda convocar palpiteiros diplomados para explicar ao povo ignaro o que está acontecendo no mundo.

Diante de tantas desgraças, tragédias, coisas inexplicáveis acontecendo, os jornalistas de TV jogaram a toalha e estão recorrendo cada vez mais aos “doutores universitários” para emprestar sua sabedoria quando não sabem mais o que dizer. Não sei o que é pior.

Conta-nos Ivan Lessa no texto “Deteriorações na Líbia”: “Lá estavam eles: âncoras, um rapaz e uma moça. Com sono, nervosos, inseguros. Não tinham filme a mostrar. Que faz a televisão nessas horas? Simples: convida autoridades para opinar, diagnosticar, prognosticar”.

A fórmula deve ser a mesma no mundo inteiro e por aqui está se espalhando como praga. Cada redação de TV já deve ter na sua agenda um elenco de “especialistas” pronto a entrar em ação a qualquer hora, conforme o assunto.

Alguns, mais ecléticos, entendem de todos os assuntos e falam exatamente o que cada emissora quer ouvir. Nos canais de notícias, então, eles viraram predominantes. Já aparecem mais do que âncoras e repórteres.

Política, economia, saúde, guerras, futebol, cultura, terremotos, pebolim, pão de queijo, educação pública, tsunamis, acidentes de trânsito, religião, discursos do Obama, mortes de celebridades, previsão do tempo, moda íntima, salário mínimo, bailes funk, física quântica, gorduras trans, brigas de vizinhos, dietas, novos remédios, velhas manias, não importa: temos “especialistas” para tudo, podemos até emprestar para a TV inglesa. No “Jornal Nacional” desta semana, por exemplo, eles deitaram e rolaram, nem me lembro do nome de todos.

Tem até “especialista” em meter o pau no governo e “especialista” para defender o governo (estes são um pouco mais raros). Ao ver a ocupação dos sábios nas telas da TV inglesa, durante a cobertura da guerra civil na Líbia, Lessa logo reconheceu a trupe:

“Lá estavam aquilo que nossos jornalistas gostam de chamar de ‘suspeitos habituais’. Brigadeiros, marechais do ar, diplomatas, políticos eleitos ou na bica de pegar uma vaga no parlamento, professores dos mais diversos centros de estudo, todos técnicos, rrrrrrealmente técnicos. A tchurma”.

Em época de campanha eleitoral abundam os “cientistas políticos” e os “especialistas em de pesquisas” que falam como se tratassem de ciências exatas. Como agora boa parte do mundo está se consumindo em tragédias naturais, atômicas ou bélicas, tome “especialistas” de todo tipo para prever se o mundo está ou não se acabando.

E qual é o palpite dos caros leitores deste Balaio? Moça bonita não paga nada, mas também não leva, como dizem os feirantes. Para dar palpite, ninguém precisa pagar nada (e alguns até recebem): afinal, o que podemos esperar do amanhã? Haverá amanhã?

Em tempo:

O leitor Edson Panini, que eu saiba, não é “especialista” em nada, mas ele mandou um comentário às 11:50 que é muito bom sobre esta visita e os discursos do presidente Barack Obama ao Brasil: “Carro de boi que faz muito barulho está vazio”.


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