Um ano após a tragédia

Passeata Boate Kiss Foto EBC
Família e amigos das 242 vítimas mortas no incêndio da boate Kiss em passeata. Foto EBC

Um ano após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, familiares e amigos das 242 vítimas fazem homenagens ao longo do dia e lembram que após um ano, ainda não há condenação de culpados e nenhum dos réus do processo criminal está preso. Na madrugada desta segunda (27), o contexto da boate Kiss era outro. Pintadas ao chão com tinta branca, 242 silhuetas lembravam as vítimas em uma vigília que reuniu cerca de 600 pessoas. Às 3h, horário em que o fogo começou, sirenes tocaram e gritos por justiça foram ouvidos. Na manhã de hoje, aproximadamente 200 pessoas caminharam em direção ao prédio do Ministério Público. Nos cartazes e nos gritos, o pedido da punição dos envolvidos. O ato foi organizado pelo movimento Santa Maria do Luto à Luta.

As autoridades atribuíram ao incêndio uma série de erros que culminou na tragédia. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira, quando um dos integrantes acendeu artefatos pirotécnicos no palco. Faíscas atingiram a espuma de revestimento acústico, que instantaneamente começou a queimar. Uma espessa fumaça tomou conta do ambiente em poucos minutos, intoxicando os frequentadores. Além do incêndio, somam-se a superlotação da boate, irregularidades nas condições de segurança, como extintores de incêndio que não funcionaram e até as falhas de fiscalização do poder público, que permitiu o funcionamento do estabelecimento em situação irregular.

Além dos músicos da banda Luciano Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos, estão entre os principais culpados os sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann. Os quatro acusados permanecerem durante quatro meses presos, mas desde maio passado, aguardam em liberdade por um julgamento que pode levar anos para acontecer.  

Bombeiros também integram a lista dos réus nos cinco processos que tramitam na Justiça comum e militar do estado. Servidores da prefeitura também chegaram a ser indiciados pela Polícia Civil. Segundo Luiz Fernando Smaniotto, um dos advogados da associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), entidade que reúne cerca de 800 pessoas, a boate funcionou por quatro anos sem os documentos prévios que a legislação exigia. Dois novos inquéritos estão abertos na Polícia Civil para investigar as irregularidades na liberação dos alvarás municipais para a casa noturna e outro investiga supostas fraudes cometidas por antigos proprietários para a obtenção de licenças. Os dois inquéritos devem ser concluídos até fevereiro. 

Divergências no inquérito e atuação do MP

O subprocurador de Justiça para Assuntos Institucionais, Marcelo Dornelles, defendeu a atuação do Ministério Público ao participar no domingo (26) do segundo dia do 1º Congresso Novos Caminhos, que debate segurança e prevenção de acidentes. Segundo ele, as críticas de parentes das vítimas e da imprensa são resultado da falta de informação. Para ele, é preciso analisar e conhecer o caso antes de atacar o MP. Dornelles também foi questionado pelos participantes do congresso sobre as divergências entre a denúncia dos procuradores e a conclusão do inquérito da Polícia Civil. A investigação policial pediu o indiciamento de 16 pessoas. O documento foi encaminhado ao Ministério Público, que denunciou formamente oito pessoas, e a Justiça acatou a denúncia.  Dornelles defendeu que o órgão denunciou apenas oito envolvidos porque os fatos não compravaram a responsabilidade criminal dos outros indiciados, como é o caso de servidores municipais e agentes do Poder Executivo Municipal. “Na avaliação feita, comprovou-se que os servidores agiram com regularidade. Não vamos criar fatos nem acusações por vingança, como muita gente quer”, disse. No entanto, ele admitiu que caso haja novas provas, o MP pode voltar atrás e rever a denúncia.

Pelo Twitter, a presidente Dilma Rousseff se solidarizou aos familiares das vítimas. Ela lembrou a visita que fez a Santa Maria logo após o incêndio. “A tristeza ainda está viva em nossos corações. Lembro de cada mãe, de cada pai que abracei. Fui como presidenta oferecer conforto. Como mãe e avó, me uni na dor às famílias das vítimas”, escreveu Dilma que ainda publicou que o país está unido pelas vítimas. “Nesta data tão triste, o Brasil se une em memória às vítimas e em solidariedade às mães, pais e amigos dos jovens de Santa Maria”, completou. 

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, disse em comunicado que está consolidando um conjunto de políticas para apresentar uma nova proposta a associação dos familiares. “É um trabalho que não elimina a dor, não elimina as responsabilidades, mas é uma forma muito concreta, muito clara de manifestação de solidariedade e, ao mesmo tempo, de compartilhamento. Temos absoluta certeza que não traz ninguém de volta, não diminui a dor dos que ficaram, mas é um compartilhamento que pode ajudar a superar a médio, longo prazo, esses traumas e não permitir que eles ocorram novamente”, afirmou.

Documentário reconstitui a tragédia 

Intitulado de “Janeiro 27”, o documentário dirigido pelos cineastas Luiz Alberto Cassol, que é natural de Santa Maria, e Paulo Nascimento, que estudou na cidade, reconstitui passo a passo as histórias de vítimas no dia anterior à tragédia. A obra reúne 15 depoimentos, entre eles o depoimento de duas sobreviventes que trabalhavam na boate. A primeira exibição ao público do documentário aconteceu no sábado, 25, durante o congresso que lembrou um ano do incêndio.  


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